sexta-feira, janeiro 01, 2016

SABIAM QUE O ANO DE 2016 É ANO BISSEXTO?





O ano bissexto é, como todos sabemos, aquele que possui um dia a mais do que os outros que possuem 365 dias. No calendário gregoriano, este dia extra é contado a cada 4 anos, sendo incluído sempre no mês de fevereiro, que passa a ter 29 dias. O ano bissexto acontece porque o ano-calendário tradicionalmente utilizado possui uma diferença em relação ao ano solar. Enquanto que no calendário tradicional o ano dura 365 dias para se completar, no calendário solar dura 365,25 dias.
 
Imperador romano Júlio César

Essa diferença de 0,25 corresponde à fração de um quarto de um dia. Sendo assim, a cada quatro anos temos a diferença de um dia em relação ao calendário convencional e solar. Esse dia é justamente o que caracteriza o ano bissexto.

Assim, para se calcular um ano bissexto a partir do calendário gregoriano, foram adotadas as seguintes regras:
Todo o ano divisível por 4 é bissexto.
Todo o ano divisível por 100 não é ano bissexto.
Mas, se o ano for também divisível por 400 é ano bissexto.
O ano bissexto teve início no Egito em 238 a.C., durante a monarquia helenística de Ptolomeu III (246-222 a.C.), quando foi decretada a adição de 1 dia a cada 4 anos para compensar a diferença que existia entre o ano do calendário, com duração de 365 dias e o ano solar (chamado ano astronómico sazonal), com duração aproximada de 365,25 dias, ou seja, de 365 dias +6 horas.

Lamentavelmente, esta tentativa de reformulação do calendário não teve a aceitação necessária, por parte dos povos da antiguidade, e as discrepâncias permaneceram na contagem dos dias.
 
Papa Gregório XIII

O ano bissexto foi introduzido na Europa a partir do ano 46 a.C., com o calendário adotado pelo Imperador romano Júlio César (102-44 a.C.). Este calendário tinha sido proposto pelo astrónomo Sogines (90-?? a.C.), de origem grega, mas que vivia em Alexandria no Egito.

O decreto de Júlio César estabelecia que o ano teria 365 dias depois de 3 anos, ou seja, o quarto ano teria um dia a mais. No entanto os sacerdotes encarregados do calendário, parece terem confundido o texto do decreto e passaram a colocar um dia a mais cada três anos.

Essa incorreção foi descoberta por volta do ano 10 a.C. e, para corrigir o erro acumulado, os anos passaram a ter 365 dias até ao ano 8 depois de Cristo. Assim, o ano 4 depois de Cristo não foi um ano bissexto como seria de se imaginar. Portanto os anos bissextos foram os seguintes, a partir de Júlio César e da correção no ano 10 a.C.:
Antes de Cristo: 45, 42, 39, 36, 33, 27, 24, 21, 18, 15, 12, 9.
Depois de Cristo: 8, 12, 16, e a partir daí de 4 em 4 anos.

O calendário de Júlio César (chamado de Calendário Juliano) foi adoptado em todos os países sob o domínio do Império Romano.
 
São Patrício
A partir da Idade Média o sistema de três anos com 365 dias, seguido de um ano com 366 dias, foi adotado no calendário da Igreja Católica, através de uma Bula Papal, espalhando-se o seu uso por todos os países de influência católica. Nessa época também foi adotado o dia 25 de dezembro como sendo o dia do Nascimento de Jesus, de modo a substituir uma festa pagã em homenagem ao sol que acontecia nessa data, dois dias depois do solstício de inverno no hemisfério norte (o dia 23 de dezembro é o que tem a noite mais longa do ano, no hemisfério norte, ou o dia mais longo no hemisfério sul).

Também é dessa época (século V) a adopção numeral atual dos anos contados a partir do nascimento de Jesus, calculada por um monge chamado "Dionísio, o Pequeno" - tudo indica que o tal monge errou os seus cálculos e Jesus nasceu provavelmente alguns anos antes do "ano um". No sistema adotado não existe o "ano zero", uma vez que à data se utilizava a grafia dos números em algarismos romanos, que não possuem o algarismo correspondente ao "zero".

O calendário católico, no entanto,continuava exatamente como o Calendário Juliano. Como o ano ano bissexto ocorria a cada quatro anos sem exceção, existia um pequeno erro que com o passar do tempo se tornou evidente, pois verificou-se que o Natal se começava a  atrasar em relação ao solstício.
 
Santa Brígida
Por volta de 1580 o astrónomo e matemático jesuíta Cristophus Clavius (1537-1612) estudou o calendário e as posições dos astros celestes e chegou à conclusão que a contagem dos dias estava errada. A preocupação da Igreja Católica era com a Quaresma, durante a qual os fiéis não podiam comer carne vermelha.

Se o calendário de facto estiver errado, os católicos estariam a comer carne vermelha em "dias proibidos" e algo urgente devia ser feito para corrigir esta situação pecaminosa.

Foi criada então uma comissão composta pelo próprio Papa Gregório XIII (1502-1585) e vários sábios, entre eles o astrónomo e médico italiano Aloisius Lilius (1510-1576) e o jesuíta Cristophorus Clavius que já tinham estudado o problema do calendário.

A sugestão da comissão foi fazer uma pequena alteração na regra do ano bissexto, que seria doravante cada 4 anos com exceção dos anos conhecidos como "anos centenários" (anos com a terminação 00), que seriam bissextos somente a cada 400 anos.
Rainha Margareth da Escócia

Seria também necessário suprimir 10 dias ao calendário, para compensar o erro acumulado desde a época de Júlio César. O Papa Gregório XIII instituiu então,  em 1582, através de uma Bula Papal, um novo calendário, que ficou conhecido como o Calendário Gregoriano.

 A medida mais  polémica do Calendário Gregoriano foi decidir que o mês de outubro de 1582 teria somente 21 dias, para ajustar o início da primavera ao novo calendário. Assim o dia 4 de outubro de 1582 foi seguido pelo dia 15 de outubro de 1582. Convencionou-se também que doravante o ano começaria no dia 1 de janeiro e não em março, como era até então.

O novo calendário foi adotado pelos países sob a influência da Igreja Católica, incluindo o Brasil, colónia de Portugal à data. A Grã-Bretanha e as suas colónias só adotaram o Calendário Gregoriano em 1772, seguida pela França em 1806, que já usava um "Calendário Republicano", completamente diferente e sugerido pela Revolução Francesa.

Os países sob o domínio da Igreja Ortodoxa demoraram mais tempo a fazer o ajuste e isso só aconteceu depois da revolução comunista de 1918.

Curiosamente existe uma tendência de se achar que quem nasce no dia 29 de fevereiro "só faz anos a cada 4 anos". Isso não é verdade, uma vez que, tal como para as demais pessoas se adicionam 365 dias ao dia do seu nascimento para o cálculo da data dos respetivos aniversários, também para quem nasce a 29 de fevereiro o procedimento é semelhante: quem nasce a 29 de fevereiro deverá festejar o aniversário no dia 29 nos anos bissextos, e no dia 28 de fevereiro para os demais anos. Nunca no dia 1 de março, como também vulgarmente é sugerido.

 No que respeita a superstições do ano bissexto, existe uma lenda que diz que os homens que recebem propostas de casamento, de uma mulher, no dia 29 de fevereiro, não podem negar. Este dia também é conhecido como "Leap Day", cheio de superstições e tradições, extremamente respeitadas na Escócia, por exemplo. Já na Grécia, este dia poderá trazer a má sorte para o casal.

Postal do "Leap Year"
Assim, na Irlanda, a tradição diz que no dia 29 de fevereiro, as namoradas podem pedir os namorados em casmento...e eles têm que aceitar.

Reza a lenda que esta tradição teve origem no século V, quando Santa Brígida (Saint Bridget) reclamou a São Patrício (Saint Patrick), o padroeiro do país, que as mulheres tinham que esperar muito para serem pedidas em casamento. São Patrício ouviu a reclamação e decretou que, cada quatro anos, no dia 29 de fevereiro, "Elas" poderiam pedi-los em casamento, o que também ficou conhecido como "Ladies Privilege".

Em 1288 esta tradição foi levada para a Escócia pela rainha Margareth, que tornou a tradição numa lei. O homem que recusasse teria que pagar uma multa que podia ser de um beijo até uma saia de seda (nada demais).

 Nos dias de hoje o Leap Year é, em ambos os países, mais lenda do que realidade, sendo pouco praticado pelas irlandesas e não tem qualquer valor legal. Todavia, muitas estrangeiras, especialmente americanas de origem irlandesa, vêm à Irlanda, Dublin em especial, para proporem casamento aos seus namorados. Questões de romantismo...

A este propósito, inseri um vídeo "trailer" de um filme homónimo "LeapYear" de 2010, que nos traz esta tradição com graça e humor: a história de Anna (Amy Adams), uma americana muito convencional e metódica, que viaja até Dublin, para pedir o namorado em casamento...







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