O ano bissexto é, como todos sabemos, aquele que possui um dia a mais do
que os outros que possuem 365 dias. No calendário gregoriano, este dia extra é
contado a cada 4 anos, sendo incluído sempre no mês de fevereiro, que passa a
ter 29 dias. O ano bissexto acontece porque o ano-calendário tradicionalmente
utilizado possui uma diferença em relação ao ano solar. Enquanto que no
calendário tradicional o ano dura 365 dias para se completar, no calendário
solar dura 365,25 dias.
Essa diferença de 0,25 corresponde à fração de um quarto de um dia. Sendo
assim, a cada quatro anos temos a diferença de um dia em relação ao calendário
convencional e solar. Esse dia é justamente o que caracteriza o ano bissexto.
Assim, para se calcular um ano bissexto a partir do calendário gregoriano,
foram adotadas as seguintes regras:
Todo o ano divisível por 4 é bissexto.
Todo o ano divisível por 100 não é ano bissexto.
Mas, se o ano for também divisível por 400 é ano bissexto.
O ano bissexto teve início no Egito em 238 a.C., durante a monarquia
helenística de Ptolomeu III (246-222 a.C.), quando foi decretada a adição de 1
dia a cada 4 anos para compensar a diferença que existia entre o ano do
calendário, com duração de 365 dias e o ano solar (chamado ano astronómico
sazonal), com duração aproximada de 365,25 dias, ou seja, de 365 dias +6 horas.
Lamentavelmente, esta tentativa de reformulação do calendário não teve a
aceitação necessária, por parte dos povos da antiguidade, e as discrepâncias
permaneceram na contagem dos dias.
O ano bissexto foi introduzido na Europa a partir do ano 46 a.C., com o
calendário adotado pelo Imperador romano Júlio César (102-44 a.C.). Este
calendário tinha sido proposto pelo astrónomo Sogines (90-?? a.C.), de origem
grega, mas que vivia em Alexandria no Egito.
O decreto de Júlio César estabelecia que o ano teria 365 dias depois de 3
anos, ou seja, o quarto ano teria um dia a mais. No entanto os sacerdotes
encarregados do calendário, parece terem confundido o texto do decreto e
passaram a colocar um dia a mais cada três anos.
Essa incorreção foi descoberta por volta do ano 10 a.C. e, para corrigir o
erro acumulado, os anos passaram a ter 365 dias até ao ano 8 depois de Cristo. Assim,
o ano 4 depois de Cristo não foi um ano bissexto como seria de se imaginar.
Portanto os anos bissextos foram os seguintes, a partir de Júlio César e da
correção no ano 10 a.C.:
Antes de Cristo: 45, 42, 39, 36, 33, 27, 24, 21, 18, 15, 12, 9.
Depois de Cristo: 8, 12, 16, e a partir daí de 4 em 4 anos.
O calendário de Júlio César (chamado de Calendário Juliano) foi adoptado em
todos os países sob o domínio do Império Romano.
A partir da Idade Média o sistema de três anos com 365 dias, seguido de um
ano com 366 dias, foi adotado no calendário da Igreja Católica, através de uma
Bula Papal, espalhando-se o seu uso por todos os países de influência católica.
Nessa época também foi adotado o dia 25 de dezembro como sendo o dia do Nascimento
de Jesus, de modo a substituir uma festa pagã em homenagem ao sol que acontecia
nessa data, dois dias depois do solstício de inverno no hemisfério norte (o dia
23 de dezembro é o que tem a noite mais longa do ano, no hemisfério norte, ou o
dia mais longo no hemisfério sul).
Também é dessa época (século V) a adopção numeral atual dos anos contados a
partir do nascimento de Jesus, calculada por um monge chamado "Dionísio, o
Pequeno" - tudo indica que o tal monge errou os seus cálculos e Jesus
nasceu provavelmente alguns anos antes do "ano um". No sistema
adotado não existe o "ano zero", uma vez que à data se utilizava a
grafia dos números em algarismos romanos, que não possuem o algarismo
correspondente ao "zero".
O calendário católico, no entanto,continuava exatamente como o Calendário
Juliano. Como o ano ano bissexto ocorria a cada quatro anos sem exceção,
existia um pequeno erro que com o passar do tempo se tornou evidente, pois
verificou-se que o Natal se começava a
atrasar em relação ao solstício.
Por volta de 1580 o astrónomo e matemático jesuíta Cristophus Clavius
(1537-1612) estudou o calendário e as posições dos astros celestes e chegou à
conclusão que a contagem dos dias estava errada. A preocupação da Igreja
Católica era com a Quaresma, durante a qual os fiéis não podiam comer carne
vermelha.
Se o calendário de facto estiver errado, os católicos estariam a comer
carne vermelha em "dias proibidos" e algo urgente devia ser feito
para corrigir esta situação pecaminosa.
Foi criada então uma comissão composta pelo próprio Papa Gregório XIII
(1502-1585) e vários sábios, entre eles o astrónomo e médico italiano Aloisius
Lilius (1510-1576) e o jesuíta Cristophorus Clavius que já tinham estudado o
problema do calendário.
A sugestão da comissão foi fazer uma pequena alteração na regra do ano
bissexto, que seria doravante cada 4 anos com exceção dos anos conhecidos como
"anos centenários" (anos com a terminação 00), que seriam bissextos
somente a cada 400 anos.
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Rainha Margareth da Escócia |
Seria também necessário suprimir 10 dias ao calendário, para compensar o
erro acumulado desde a época de Júlio César. O Papa Gregório XIII instituiu
então, em 1582, através de uma Bula
Papal, um novo calendário, que ficou conhecido como o Calendário Gregoriano.
O novo calendário foi adotado pelos países sob a influência da Igreja
Católica, incluindo o Brasil, colónia de Portugal à data. A Grã-Bretanha e as
suas colónias só adotaram o Calendário Gregoriano em 1772, seguida pela França
em 1806, que já usava um "Calendário Republicano", completamente
diferente e sugerido pela Revolução Francesa.
Os países sob o domínio da Igreja Ortodoxa demoraram mais tempo a fazer o
ajuste e isso só aconteceu depois da revolução comunista de 1918.
Curiosamente existe uma tendência de se achar que quem nasce no dia 29 de
fevereiro "só faz anos a cada 4 anos". Isso não é verdade, uma vez
que, tal como para as demais pessoas se adicionam 365 dias ao dia do seu
nascimento para o cálculo da data dos respetivos aniversários, também para quem
nasce a 29 de fevereiro o procedimento é semelhante: quem nasce a 29 de
fevereiro deverá festejar o aniversário no dia 29 nos anos bissextos, e no dia
28 de fevereiro para os demais anos. Nunca no dia 1 de março, como também
vulgarmente é sugerido.
![]() |
Postal do "Leap Year" |
Assim, na Irlanda, a tradição diz que no dia 29 de fevereiro, as namoradas
podem pedir os namorados em casmento...e eles têm que aceitar.
Reza a lenda que esta tradição teve origem no século V, quando Santa
Brígida (Saint Bridget) reclamou a São Patrício (Saint Patrick), o padroeiro do
país, que as mulheres tinham que esperar muito para serem pedidas em casamento.
São Patrício ouviu a reclamação e decretou que, cada quatro anos, no dia 29 de
fevereiro, "Elas" poderiam pedi-los em casamento, o que também ficou
conhecido como "Ladies Privilege".
Em 1288 esta tradição foi levada para a Escócia pela rainha Margareth, que
tornou a tradição numa lei. O homem que recusasse teria que pagar uma multa que
podia ser de um beijo até uma saia de seda (nada demais).
A este propósito, inseri um vídeo "trailer" de um filme homónimo
"LeapYear" de 2010, que nos traz esta tradição com graça e humor: a história de Anna (Amy Adams), uma americana muito convencional e
metódica, que viaja até Dublin, para pedir o namorado em casamento...
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