quinta-feira, setembro 29, 2016

BOM DIA, COM ADELAIDE MONTEIRO: "PARA TODOS OS POEMAS"




PARA TODOS OS POEMAS


Senta-te junto a mim, amigo
e deixa que te ouça a dor
que tão bem disfarças.
Pássaro ferido,
continuas a voar,
disfrutando estações,
meses, dias,
cantando poemas,
distribuindo penas
em forma de risos.


Há aqui uma pedra
a servir de banco
neste jardim de urzes
onde sempre me sentarei
para procurar as palavras
para todos os poemas
e onde te sentirei


ADELAIDE MONTEIRO





IMAGEM DO DIA, COM MIA COUTO






terça-feira, setembro 27, 2016

PELA NOITE, COM HELDER MAGALHÃES: "FRUTO"









FRUTO


dá-me o fruto colhido
na terra dos pomares sob o
alcance dos teus braços
ágeis estonteantes
nesse zénite que a tarde
despe sobre a árvore
dá-me o fruto colhido
no poente doirado à boca
como se corresses
descalça dentro de mim.



HELDER MAGALHÃES







IMAGEM DO DIA, COM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN








segunda-feira, setembro 26, 2016

PELA TARDE, COM JOÃO MORGADO: "BAILANDO"


BAILANDO

Deixa-me abraçar-te p’la cintura,
bailar feito louco sem cessar,
esta valsa feita ternura,
em que os dois saibamos estar.
No carinho, na vida e no amar,
como um sonho que perdura.

Eu te desejo feliz assim,
bailando à luz sideral,
usando seda de Pequim,
nessa pele alva, sensual.
Luxuriante e divinal,
como uma flor de jasmim.

Quero então dar asas à felicidade,
cingindo as minhas pernas nas tuas.
Pensar que toda a realidade,
é avançar enquanto recuas.
Desejando as tuas coxas nuas,
o prazer colorindo-te a vontade.

Deixa-me ficar a ti colado,
num aperto suave e bonito.
Pretendo esse teu corpo suado,
mendigando por mim aflito.
Quero que sintas este bailado,
como um sonho desejado.

Vou te levar com meus passos,
pelo salão de festa rodopiando,
enlaçada em meus braços.
Deixar nosso amor levitando,
a paixão nos conspurcando,
teimando em sermos devassos.


JOÃO MORGADO




quarta-feira, setembro 21, 2016

NESTE DIA INTERNACIONAL DA PAZ, RECORDO JOHN LENNON





IMAGINE


Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky

Imagine all the people
Living for today

Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too

Imagine all the people
Living life in peace

You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one

Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A Brotherhood of man

Imagine all the people
Sharing all the world

You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one



JOHN LENNON



terça-feira, setembro 20, 2016

IMAGEM DO DIA, COM EUGÉNIO DE ANDRADE






MÁRIO CESARINY MORREU HÁ DEZ ANOS...




A PASTELARIA


Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra



MÁRIO CESARINY





Mário Cesariny de Vasconcelos, pintor e poeta nasceu em 1923.
Estudou na Academia de Amadores de Música e ingressou, no início dos anos quarenta, na Escola de Artes Decorativas António Arroio.
Depois de uma aproximação ao neo-realismo, afasta-se do movimento. Em 1947, escreve o poema Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (só publicado em 1953) e realiza as suas primeiras experiências plásticas.

Embarca, então, na aventura surrealista, que se consumará nos anos seguintes. Viajando para Paris, conhece André Breton. Liga-se ao denominado «Grupo Surrealista de Lisboa», com o qual rompe depois em acesa (e prolongada) polémica, para fundar outro grupo, «Os Surrealistas» (também conhecido como «Grupo Surrealista Dissidente»).
Em 1949, mostra publicamente obras suas pela primeira vez, numa exposição colectiva organizada pelo grupo entretanto formado. Em 1950, publica o seu primeiro livro, Corpo Visível, e participa na segunda exposição colectiva de «Os Surrealistas».

Experiência intensa, o surrealismo marca em Cesariny o ponto de partida de um percurso artístico profundamente vivido ao longo da segunda metade do século XX, tanto na escrita como nas artes plásticas.
A ordem de publicação da obra de Cesariny (poesia, mas também tradução e outros géneros) raramente coincide com a da criação.
Mural da autoria de Murta Uivo, Miguel Brum e Smile, junto à Avenida das Forças Armadas,em Lisboa

Mário Cesariny, considerado um dos principais representantes do movimento surrealista em Portugal, foi poeta e pintor. Durante vários anos, dedicou-se a um intenso trabalho de recolha e compilação do trabalho de Adriano Correia e Francisco Lyon. Recebeu vários prémios pela obra escrita e plástica, como o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e o Grande Prémio EDP de Artes Plásticas. Em 2005, um ano antes da sua morte, foi-lhe atribuída a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

A homenagem ao surrealista acontece a poucos meses de se completarem os dez anos da sua morte, altura em que será finalmente trasladado para um jazigo no Cemitério dos Prazeres. Cesariny morreu a 26 de novembro de 2006.
Alguns títulos:

Poesia

Corpo Visível (1950)
Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano (1952)
Manual de Prestidigitação (1956)
Pena Capital (1957)
Nobilíssima Visão (1959)
Planisfério e Outros Poemas (1961)
A Cidade Queimada (1965)
As Mãos na Água a Cabeça no Mar (1972)

Ensaio e antologia
Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito (1961)
Surrealismo, Abjeccionismo (1963)
A Intervenção Surrealista (1966)
Contribuição ao Registo de Nascimento, Existência e Extinção do Grupo Surrealista de Lisboa (1974)
Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial (1977)
Primavera Autónoma das Estradas (1980)
Vieira da Silva, Arpad Szenes ou O Castelo Surrealista (1984)





PELA NOITE. COM O POETA ROBERT FROST: "FIRE AND ICE"




FIRE AND ICE


Some say the world will end in fire,

Some say in ice.

From what I've tasted of desire

I hold with those who favor fire.

But if it had to perish twice,

I think I know enough of hate

To say that for destruction ice

Is also great


And would suffice.



ROBERT FROST


Robert Lee Frost (São Francisco, Califórnia, 26 de março de 1874 — Boston, 29 de janeiro de 1963) foi um dos mais importantes poetas dos Estados Unidos do século XX. Frost recebeu quatro prémios Pulitzer.

O pai bebia, jogava e era excêntrico e irascível. A mãe era o oposto: religiosa e culta, foi quem apresentou ao filho o mundo da literatura. Com a morte do pai em 1885, a família muda-se para a Nova Inglaterra, região à qual Frost e a sua poesia seriam permanentemente associados no futuro (embora o poeta também tenha passado longas temporadas em Michigan e na Flórida).

Em 1890, publica o seu primeiro poema, começa a dar aulas e realiza pequenos serviços em fazendas e moinhos. A vida que levava nesse período moldou a sua personalidade poética: Frost foi um dos poetas norte-americanos que melhor combinou nos seus versos o popular e o moderno, o local e o universal.

Em 1895, inicia-se uma nova fase na sua vida: casa-se com Elinor White em 19 de dezembro; o primeiro filho nasce no ano seguinte (teria seis ao todo), e passa a envolver-se cada vez mais com a vida no campo: em 1901 já administra a sua própria fazenda. Adquire o hábito de escrever os seus poemas à noite, na mesa da cozinha. A partir de 1906, quando começa a lecionar em tempo integral na Pinkerton Academy, a vida profissional de Frost não se dissociaria mais do ramo das letras. Começa a proferir palestras e conferências, atividade que não abandonaria até a morte.

Entre 1912 e 1915 viveu na Inglaterra, país onde publicou os dois primeiros livros de poemas, A Boy’s Will (1913) e North of Boston (1914). Os livros foram bem recebidos pela crítica européia, e Frost é apresentado a poetas famosos, como Ezra Pound, Ford Madox Ford e W. B. Yeats.

Em 1915 volta aos Estados Unidos, e no mesmo ano lança no seu país natal os dois primeiros livros. Entre as suas publicações de 1920 está o poema Fire and Ice. Com a carreira literária cada vez mais sólida, recebe o Pulitzer em duas ocasiões (1924, por New Hampshire, e 1931, por Collected Poems).

A morte da esposa em 1938 e o suicídio da filha Carol em 1940 causaram um impacto tremendo na sua estabilidade emocional. Em 1941, muda-se para Cambridge, onde viveria pelo resto da vida, o tempo todo assessorado pela sua secretária Kathleen Morrison (logo em seguida à morte da esposa, Frost a pediu-a em casamento, mas Kathleen recusou).

As viagens como conferencista incluíram uma visita ao Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo) em agosto de 1954. Em 1957 volta a visitar a Europa, ocasião em que conhece grandes nomes da literatura da época: W. H. Auden, E. M. Forster, Cecil Day Lewis, Graham Greene. Plenamente reconhecido como um dos maiores poetas norte-americanos do século, Robert Frost morreu em 29 de janeiro de 1963.

A produção literária de Frost é variada e abundante. A  sua poesia inclui sonetos, poemas em forma de diálogo, poemas curtos, poemas longos. Escreveu três peças teatrais (A Way Out, In an Art Factory e The Guardeen). São numerosíssimos os registos das suas conferências. A correspondência, os ensaios e as histórias merecem o mesmo comentário. Frost tem a capacidade de dar um tratamento simples e ao mesmo tempo profundo a temas elementares (fogo, gelo, natureza), tirando verdadeiras "lições de moral" das suas observações do mundo natural (lições nem sempre otimistas, como se pode notar em Nothing Gold Can Stay). Tal traço, aliado à modernidade da sua linguagem (Frost era um defensor do uso da linguagem vernácula nas obras literárias), fez com que Frost jamais deixasse de figurar entre os escritores prediletos dos norte-americanos, ao lado de nomes como Whitman, Emerson e Thoreau.

O  seu poema The Road NotTaken é peça obrigatória em qualquer antologia poética de língua inglesa. Prova adicional de sua popularidade, são as várias referências em filmes como  a Sociedade dos Poetas Mortos e Daunbailó.

Obras:
Parte de uma série sobre Conservadorismo
Blue flag waving.svg
Variantes
Conceitos
Pessoas
Organizações
Religioso



sexta-feira, setembro 16, 2016

PELA NOITE, COM DAVID MOURÃO-FERREIRA: "BARCO NEGRO"



BARCO NEGRO


De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.


DAVID MOURÃO - FERREIRA



(Fado interpretado por Mariza)

David de Jesus Mourão-Ferreira GCSE (Lisboa, 24 de fevereiro de 1927 — Lisboa, 16 de junho de 1996) foi um escritor e poeta português. Tem uma biblioteca com o seu nome em Lisboa no Parque das Nações.
Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1951, onde mais tarde em 1957 foi professor, destacou-se como um dos poetas contemporâneos do Século XX.
Na sua obra, são famosos alguns dos poemas que compôs para a voz de Amália Rodrigues, como Sombra, “Maria Lisboa”, “Anda o Sol na Minha Rua” “Nome de Rua”, e sobretudo “Barco Negro”. Outros poemas da sua autoria, como “Escada sem corrimão” ou “Lembra-te sempre de mim”, serão interpretados anos depois por Camané

David Mourão-Ferreira trabalhou para vários jornais, dos quais se destacam a Seara Nova e o Diário Popular, para além de ter sido um dos fundadores da revista Távola Redonda. Entre 1963 e 1973 foi secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Autores. No pós-25 de Abril, foi diretor do jornal “A Capital” e director-adjunto do “O Dia”.
No governo, desempenhou o cargo de Secretário de Estado da Cultura (de 1976 a Janeiro de 1978, e em 1979).

Foi por ele assinado, em 1977, o despacho que criou a Companhia Nacional de Bailado Foi autor de alguns programas de televisão de que se destacam "Imagens da Poesia Europeia", para a RTP.

A 13 de Julho de 1981 foi condecorado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.Em 1996, a 3 de Junho, foi elevado a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada. No mesmo ano, 1996, recebeu o Prémio de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

Do primeiro casamento, com Maria Eulália, sobrinha de Valentim de Carvalho, teve dois filhos, David João e Adelaide Constança, que lhe deram 11 netos e netas.
Em 2005 é celebrado um protocolo entre a Universidade de Bari e o Instituto Camões, decidindo, como homenagem ao poeta, abrir naquela cidade o Centro Studi Lusofoni - Cátedra David Mourão-Ferreira que, dirigida pela Professora Fernanda Toriello e com a colaboração do professor Rui Costa, tem como objetivo o estudo da obra de David Mourão-Ferreira, assim como a divulgação da língua portuguesa e das culturas lusófonas. 

Promove também o Prémio Europa David Mourão-Ferreira.

Em 2005 a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o escritor dando o seu nome a uma avenida no Alto do Lumiar.

Obras
Poesia:
1950 - A Viagem
1954 - Tempestade de Verão (Prémio Delfim Guimarães)
1958 - Os Quatro Cantos do Tempo
1961 - Maria Lisboa
1962 - In Meae ou A Arte de Amar
1966 - Do Tempo ao Coração
1967 - A Arte de Amar (reunião de obras anteriores)
1969 - Lira de Bolso
1971 - Cancioneiro de Natal (Prémio Nacional de Poesia)
1973 - Matura Idade
1974 - Sonetos do Cativo
1976 - As Lições do Fogo
1980 - Obra Poética (inclui À Guitarra e À Viola e Órfico Ofício)
1985 - Os Ramos e os Remos
1988 - Obra Poética, 1948-1988
1994 - Música de Cama (antologia erótica com um livro inédito).
1954 - letra para Amália Rodrigues " Barco Negro"

Ficção narrativa
1959 - Novelas de Gaivotas em Terra (Prémio Ricardo Malheiros)
1968 - Os contos de Os Amantes
1980 - As Quatro Estações (Prémio Associação Internacional dos Críticos Literários)
1986 - Um Amor Feliz (Romance que o consagrou como ficcionista valendo-lhe vários prémios)
1987 - Duas Histórias de Lisboa

Outras
1961 - Aspectos da obra de M. Teixeira Gomes


Academia Brasileira de Letras:  David Mourão-Ferreira foi ainda escolhido para ocupar, na categoria de Sócio Correspondente, a Cadeira número 5, que tem por Patrono Dom Francisco de Sousa. A sua eleição deu-se em 1981, sendo ali o quinto ocupante. Depois da sua morte, esta Cadeira foi ocupada apenas em 1998 pelo poeta e escritor moçambicano Mia Couto.




PELA TARDE, COM JOSÉ GOMES FERREIRA: "SOLIDÃO"




UM DIA A SOLIDÃO

Um dia, a solidão
- que dor de vergonha! -
levou-me pela mão
para seu baluarte
e disse-me " sonha!
O sonho é a tua lei"

E eu para ali fiquei,
Tão farto de ser eu,
A ouvir o meu coração
Bater em toda a parte,
Nos astros do chão,
Nas pedras do céu.

E eu para ali fiquei
A arrancar a carne das unhas,
Sozinho no meu jardim,
A viver sem testemunhas
No espelho de mim.

E eu para ali fiquei
Com o mundo a obedecer aos meus caprichos:
A luz, as flores, os bichos

E o sol enforcado na floresta,
Na alucinação
Duma corda de lava
A baloiçar ao vento da minha alma à solta…

E eu para ali fiquei
- pobre de mim que ignorava
a dor da verdadeira solidão
que é esta! Que é esta!…

Muita gente à minha volta
E eu aos tombos pelas ruas,
longe de todos e de mim,
a morrer pelos outros
em barricadas de estrelas e de luas.


JOSE GOMES FERREIRA


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