domingo, agosto 28, 2011

ESTAÇÃO DE S. BENTO ENTRE AS 16 MAIS BELAS





A estação de São Bento, no Porto, foi referenciada pela edição da internet da revista norte-americana Travel+Leisure, como uma das "16 estações mais bonitas do mundo".

A revista de turismo e lazer, que afirma ter 4,8 milhões de leitores, destaca na estação de São Bento os painéis de azulejos da entrada: "Se o exterior é certamente bonito - e traz-nos à memória a arquitetura parisiense do séc. XIX, com o seu telhado de mansarda e a frontaria de pedra, é o átrio principal que o fará engolir em seco.

As paredes estão cobertas por 20.000 azulejos, que levaram 11 anos para o artista Jorge Colaço completar".

A estação, construída entre 1913 e 1916, é erradamente referenciada como podendo ter sido desenhada por Gustave Eiffel, já que é da autoria dos arquitetos portugueses Alfredo Augusto Lisboa de Lima, Mário Veiga e Ferreira da Costa.

A gare de São Bento que se ergue no local onde se encontrava o mosteiro de São Bento de Avé Maria, e está classificada como Património da Humanidade, foi construída após se vencer a difícil tarefa de prolongar a linha que terminava em Campanhã, através dos túneis da Quinta da China, do Monte do Seminário e das Fontaínhas, que ficou concluído em 1896. O projeto da estação só viria a ser aprovado em 1900, ano em que os reis D. Carlos e D. Amélia presidiram ao início das obras, que terminariam 16 anos depois.

O projeto da gare em azulejos de Jorge Colaço foi adjudicado em 1905 pela quantia de 22 mil réis, considerada muito elevada para a altura.

Os painéis, assentados em 1915, representam cenas da história de Portugal, como Egas Moniz perante o rei de Leão, o casamento de D. João I, a conquista de Ceuta, temas de etnografia do Minho e do Douro, figuras simbólicas, e no friso superior é mesmo retratada a evolução dos transportes.

Sem dúvida, merece uma visita que encantará não somente os interessados em monumentos artísticos, como todos os que apreciam a arte do azulejo, tão evidente nesta gare de São Bento, que se assume como mais um rico exemplar da nossa azulejaria do século XIX,  e que se situa na não menos bela cidade do Porto.




FEIRA DE SÃO MATEUS 2011 - Cidade de Viseu





Indo eu, indo eu,
A caminho de Viseu,
Encontrei o meu amor,
Ai Jesus que lá vou eu!

Viseu é uma cidade portuguesa, capital do Distrito de Viseu, na região centro e subregião de Dão-Lafões, com cerca de 47.250 habitantes (68.000 no perímetro urbano). Para além de sede de distrito e de concelho, Viseu é igualmente sede de Diocese e de Comarca. Segundo um estudo da DECO de 2007, Viseu é a melhor cidade, entre as 76 do estudo, para se viver em Portugal.

Cidade de Viseu
A figura de Viriato está associada a esta cidade, já que se pensa que este herói lusitano talvez tenha nascido nesta região. 

E o nome de Viseu parece ser oriundo do facto de, nos tempos da reconquista, os guerreiros cristãos, ao passarem por Viseu, um deles ter perguntado:
"-Que viso (vejo) eu?" Desta pergunta surgiu o nome de Viseu.

Quanto às origens de Viseu, a lenda conta que, muito antes de se ter constituído o reino de Portugal, havia em Viseu um rei chamado D. Ramiro II. Um dia, D. Ramiro partiu em viagem para outras terras. Numa dessas viagens, conheceu Sara, irmão de Alboazar, rei do castelo de Gaia, por quem se apaixonou.
Estátua de Viriato

Quando voltou da sua viagem, a sua paixão por Sara era tão grande, que nunca mais se importou com a sua esposa D. Urraca. Muito apaixonado, resolveu raptar Sara.

O irmão de Sara, ao saber do sucedido, ficou furioso e resolveu vingar-se. Então raptou D. Urraca e levou-a para o seu castelo. D. Ramiro, ferido no seu orgulho, regressou à cidade de Viseu e aí escolheu os seus soldados mais valentes. Ao chegarem ao castelo de Gaia, os soldados esconderam-se num pinhal e o rei, disfarçado de peregrino, escondeu-se no castelo. Como Alboazar tinha ido à caça, o peregrino encontrou o caminho livre e chegou facilmente junto da rainha D. Urraca, a sua verdadeira esposa. Ao vê-la, D. Ramiro despiu o disfarce e tentou abraçá-la. D. Urraca, conhecedora da traição de seu marido, afastou-o, furiosa.

Nesse momento Alboazar chegou da caçada. Ao ver que D. Ramiro não podia fugir, D. Urraca confusa, escondeu-o num armário. Todavia, quando viu entrar Alboazar, resolveu vingar-se e abriu as portas do armário. D. Ramiro foi condenado à morte. Ao chegar ao lugar da execução, pediu que o deixassem despedir-se dos sons da sua busina, antes de morrer.
Brasão da cidade de Viseu, com o destaque
alusivo à lenda da sua fundação

Obtida a autorização para realizar o seu desejo, D. Ramiro pegou na buzina e tocou três vezes, com todas as suas forças. Era este o sinal que ele tinha combinado com os seus soldados para que estes, ao ouvi-lo, lhe acudissem imediatamente.Assim de repente, saindo do pinhal onde estavam escondidos, os soldados cercaram o castelo e incendiaram-no. Alboazar morreu às mãos dos soldados de D. Ramiro.

Esta lenda ficou lembrada para sempre na História da cidade de Viseu, representada no campo (centro) do Brasão da cidade. Na imagem do Brasão que adicionei, um círculo azul assinala este episódio, D. Ramiro a soprar a buzina...
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Apresentando-se como uma "espécie de cidade gémea de Viseu", a Feira de S. Mateus está de regresso de 14 de agosto a 21 de setembro e oferece aos visitantes, durante seis semanas um panóplia de exposições, provas desportivas e espetáculos que vão do folclore, ao rock e à música popular.

Feira de São Mateus

Esta Feira, inicialmente conhecida por Feira Franca, foi criada por D. Sancho I em 1188. Só mais tarde, já no século XVI, passou a chamar-se Feira de São Mateus. A história diz que a Feira Franca (a mais antiga da Península Ibérica) foi uma prenda de D. João I, Mestre de Avis, por Viseu ter sido a única cidade portuguesa a estar a seu lado durante a crise portuguesa de 1383-1385. A primeira Feira de São Mateus data, assim de 1392

A ligação de D. João I a Viseu não acaba aqui: os seus filhos D. Duarte e D. Fernando, foram os primeiros duques de Viseu.

Ao iniciar o percurso, numa área de 18.000 metros quadrados, o visitante depara com a iluminação que confere ao certame o seu ar de festa e que o conduz até ao espaço das tasquinhas e dos restaurantes, onde se pode comer, entre outros petiscos, uma simples bifana ou uma vitela à moda de Lafões. Para a sobremesa a proposta são as tradicionais farturas, algodão doce e pipocas. A partir daí, o visitante pode dar uma espreitadela aos 270 expositores e feirantes, passando pelas barraquinhas de artesanato ou, se preferir, visitar os pavilhões de exposições, dedicados aos mais diversos artigos para casa.

Iluminações da Feira de São Mateus
Durante os 40 dias haverá também várias atividades ligadas ao desporto, nomeadamente ao ciclismo, voos de helicóptero, basquetebol, futsal, voleibol, ténis, atletismo, hipismo,etc., com a realização de inúmeros torneios.

Nomes como o de Tony Carreira, James, Paulo Gonzo, Pedro Abrunhosa, Jorge Palma, animarão a Feira até ao dia 21, dia do seu encerramento.

Parece que ingredientes não faltam para, num final de férias e de festejos sazonais, se justificar um passeio até à bela cidade de Viseu e uma visita a esta tradicional e tão apelativa Feira de São Mateus...




sábado, agosto 27, 2011

MUSEU DE ARTE RUIM ( Museum of Bad Art)



Já existe há quase 20 aos, mas agora passou também a apostar na internet: chama-se Museum of Bad Art (MoBA) e assume-se como um espaço de mau gosto. O objetivo é mesmo esse, apresentar as piores obras de arte de todo o Mundo...

A coleção é já formada por 600 peças, mas a sede do MoBA instala-se, por enquanto, numa casa privada. Há rostos desfigurados, borrões de tinta e alusões a famosas obras de Van Gogh ou Leonardo Da Vinci.

A ideia de criar o MoBA partiu de Michael Frank, que começou a sua carreira por criar animações para crianças e interessou-se pela pintura, que é tão má, que merece ser mostrada. Para evitar ser repetida. E é sob este mote que foi criado este Museum of Bad Art, fundado em 1994 nos Estados Unidos, pelo negociante de antiguidades Scott Wilson, que recolheu boa parte do acervo em latas do lixo.
Uma das galerias do Museum of Bad Art

Desde então, a instituição mantém um "site" na internet, e duas galerias abertas ao público: uma no porão do Sommerville Theater e outra, também no subsolo do Dedham Theatre Community, ambos em Massachusetts.
Devido ao sucesso de público e acesso, o museu também lançou um catálogo,"The Museum of Bad Art: Masterpieces", sob a direção de Michael Frank e Louise Reilly Sacco.

A "valiosa" coleção deste museu gira em torno de cerca de 600 obras, como já referi, e pode ser, parcialmente, conferida online. 

Organizada por categorias muito para lá de sui generis, como "unlikely landscapes" (paisagens com muita licença poética), "poor trays" (um trocadilho com a qualidade dos portraits), "blue people" (tons de pele literalmente azuis), "here the symbols crash" (uma celebração ao obscuro),  "unseen forces", obedece sempre à escolha dos quadros segundo a sua sua péssima qualidade estética e técnica, mas sempre respeitando uma premissa: a de terem sido concebidos com o honesto intuito de fazer arte.
"Dog bites Man"- Vlademar Cher

A ironia e o bom humor que presidem a este empreedimento atingem o seu auge com interpretações feitas por convidados, com destaque especial para o genial quadro "Dog Bites Man", do sueco Vlademar Cher.

Neste tempo de discussão sobre o fim e limites das criações contemporâneas, nada como uma brisa fresca de bom humor e irreverência, para questionar o valor das obras artísticas...




quarta-feira, agosto 24, 2011

FESTAS DO POVO (ou FLORES) 2011 - Cidade de Campo Maior



Já Elvas se está queixando
Que não tem moças formosas.
Chega-se a Campo Maior,
Até as silvas dão rosas!



Situada no norte alentejano, fronteira com Espanha, esta pitoresca cidade está ligada a várias estórias lendárias que se contam de geração em geração.
Cidade de Campo Maior

Sabe-se, por fontes idóneas da nossa História de Portugal, que Campo Maior foi uma povoação romana, mais tarde dominada pelos mouros e, finalmente conquistada pelos Perez de Badajoz. Somente após o Tratado de Alcanizes (1297), Campo Maior veio a pertencer à Coroa Portuguesa, juntamente com Ouguela e Olivença. Acerca da origem do seu nome, contam-se duas lendas: 

"Diz-se, desde tempos de antanho, que no reino de D. Dinis, quando aquelas terras passaram para a posse de Portugal, o monarca mandou que edificassem um castelo, ali mesmo, para defender e dominar as fronteiras.
Assim, um grupo de fidalgos, encarregados de escolher o local ideal, acabou por encontrar um vasto terreno, que lhes pareceu ótimo, sob todos os aspetos, para a construção do castelo.
E um dos fidalgos exclamou mesmo, apontando à sua volta:
?-Vêde! Que maravilha! É o Campo Maior que existe nas redondezas.
Não há outro mais adequado para o efeito. El-Rei optará pela nossa escolha!?
E assim aconteceu, de facto, tal como reza a lenda velhinha. D. Dinis mandou erguer ali um poderoso castelo e passou a chamar à povoação, a Terra de Campo Maior".
Rua engalanada com milhares de flores

Outra estória, lendária como a anterior, e também como a anterior muito divulgada na região de Campo Maior, refere-se ao facto de esta região ser vítima de muitos assaltos, pela parte dos Mouros, mesmo depois de conquistada pelos Cristãos:

"As famílias existentes na região passavam terríveis provações de terror e, muitas vezes, sofriam sérios  dolorosos e fatais ataques. Resolveram, por isso mesmo, reunirem-se num local amplo, onde todos se pudessem albergar, seguindo o velho ditado de que "a união faz a força". E, de todos que se lançaram na aventura de escolher o sítio desejado, um deles foi mais feliz, ao descobrir um terreno magnífico, pela grandeza e pelo aspeto natural e paisagístico.
Logo chamou pelos outros:
-Companheiros! Aqui será o nosso Campo Maior! Nele poderemos caber à vontade e dele faremos um reduto contra os nossos inimigos!"
Boas Vindas a Campo Maior

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As Festas do Povo (ou Flores) estão de volta a Campo Maior, após uma pausa de sete anos e realizam-se de 27 de agosto a 4 de setembro. A pouco mais de um mês das festas, a adesão era já enorme, estima-se este ano ser de 104 ruas enfeitadas pelos campomaiorenses, cujos serões são agora passados a ultimar a preparação dos milhões de flores de papel destinadas a engalanar as ruas, e no fabrico das quais também se estima terem sido gastas 23 toneladas de papel.

Para estas Festas do Povo, Campo Maior espera receber mais de um milhão de turistas, cidade cuja população residente não excede os nove mil residentes.

Esta tradição das principais ruas e praças engalanadas com milhões de flores, conta décadas, e não tem data marcada para a sua realização. As Festas realizam-se apenas quando o povo assim o decide. E o orçamento previsto para a sua realização, cerca de 800.000 euros, foi oferecido por um rico industrial da região, que lidera empresa de cafés de conhecida marca.
Mais uma rua ornamentada com flores de papel, em Campo Maior

A Associação das Festas do Povo e o Município de Campo Maior estão a preparar a candidatura das Festas do Povo a Património da Humanidade, pela UNESCO, candidatura que deverá ser formalizada até ao final deste ano. Será um bem merecido prémio, pelos meses de luta , trabalho e dedicação das gentes de Campo Maior, dedicados à preparação destas Festas.

São horas sem conta, roubadas quantas vezes ao justo descanso, para que Campo Maior surja, como por encanto, num fascinante e admirável jardim florido, ao raiar da aurora deste próximo dia 27 de agosto...


domingo, agosto 21, 2011

JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 2011 - MADRID




"...A esperança de um mundo melhor está numa juventude sadia, com valores,
responsável e, acima de tudo, voltada para Deus e para o próximo."
(sec. Beatus J. Paulus II)


Em 1986, pela primeira vez, o Papa João Paulo II, reuniu jovens de todo o mundo para a Jornada Mundial da Juventude, um grande encontro em torno do sucessor de Pedro, uma festa de Fé, de Alegria e Solidariedade que desafia cada um de nós a ser testemunha de Cristo e sinal de esperança, na nossa sociedade .
Logotipo da Jornada Mundial da Juventude 2011

A jornada Mundial da Juventude é a semana de eventos de Igreja Católica para os jovens e com os jovens. O Papa reúne, assim, os  jovens de todo o mundo para celebrar e aprender sobre a fé católica e para construir pontes de amizade e esperança entre os continentes, povos e culturas.

Inspirado noutros grandes encontros de jovens ocorridos em 1983 e 1984, João Paulo II estabeleceu a Jornada Mundial da Juventude como um evento anual e um meio para alcançar a nova geração de católicos e propagar os ensinamentos da Igreja.
Chegada do Papa Bento XVI a Quatro Ventos

Sendo celebradas anualmente, em intervalos de dois ou três anos, uma cidade é escolhida para celebrar a grande Jornada, na qual participam centenas de milhares de pessoas ou mesmo milhões, do mundo inteiro. Nos anos intermédios, as JMJs são vividas localmente, no Domingo de Ramos, por algumas dioceses espalhadas pelo mundo. Para cada jornada, o Santo Padre sugere um tema.

Durante as JMJs acontecem eventos como catequeses, adorações, missas, momentos de oração, palestras, partilhas e shows. Tudo em diversas línguas. Mas todas as atividades com o mesmo objetivo: a busca de Deus. Na sua última edição na Alemanha, reuniu um milhão de jovens, número largamente superado por esta Jornada de Madrid 2011, onde se estima terem estado presentes cerca de milhão e meio de pessoas.
Momento da entrga da Cruz da JMJ aos jovens
brasileiros

A cruz de madeira de 3,8 metros que é hoje um ícone das JMJs, foi construída e colocada como símbolo da fé católica, perto do altar principal da Basílica de São Pedro durante o Ano da Redenção (Semana Santa de 1983 à Semana Santa de 19849).  No final daquele ano, depois de fechar a Porta Santa, o Papa João Paulo II entregou essa cruz, como símbolo do amor de Cristo pela humanidade, aos jovens do Centro Juvenil Internacional de São Lourenço em Roma, representantes de toda a juventude.

Desde 1984, ano da primeira Jornada, a Cruz da JMJ peregrinou pelo mundo, através da Europa, além da Cortina de Ferro, para locais das Américas, Ásia, África e Austrália, estando presente em cada celebração internacional da Jornada Mundial da Juventude. 

Em 2003 o  Papa João Paulo II deu aos jovens um segundo símbolo de fé para ser levado pelo mundo, acompanhando a Cruz da JMJ: o Ícone de Nossa Senhora, "Salus Populi Romani", uma cópia contemporânea de um ícone antigo e sagrado, encontrado na primeira e maior basílica para Maria a Mãe de Deus, Santa Maria Maior.

O Papa Bento XVI continuando o legado da seu antecessor, falou na entrega da Cruz e do Ícone da JMJ de um grupo de jovens alemães para uma delegação de jovens australianos, no Domingo de Ramos de 2006. Então sublinhou porque o Ícone de Maria pertence à peregrinação da Cruz da JMJ.
Missa em Quatro Ventos

"Nossa Senhora esteve presente no cenáculo com os Apóstolos, quando eles estavam esperando por Pentecostes. Que ela seja vossa mãe e guia. Que ela vos ensine a receber a palavra de Deus, a valoriza-la e medita-la em seu coração como ela fez com a sua vida. Que ela possa encorajar-vos a dizer o vosso "sim" ao Senhor ao viver "a obediência da fé". Que ela possa ajudar-vos a permanecer fortes na fé, constantes na esperança, perseverantes na caridade, sempre atentos à palavra de Deus".

Esta Jornada da Juventude 2011, em Madrid, tem constituído um êxito e delírio por parte da multidão dos jovens, que se calcula ultrapassarem o milhão e meio.

Na impossibilidade física de referir tudo nesta mensagem, assinalarei as cerimónias deste domingo, último dia da JMJ, com os vídeos que inseri e que documentam largamente todo o êxito e euforia  deste evento, do qual a família real espanhola sempre participou. Após a Missa de encerramento realizada em Quatro Ventos o Santo Padre anunciou o Brasil e a cidade do Rio de Janeiro, como o país e cidade escolhidos para o próximo evento em 2013. Foi um delírio por parte dos jovens brasileiros, que receberam, do Santo Padre, a Cruz e o Ícone de Maria, símbolos da próxima JMJ. 
Jornada Mundial da Juventude 2011

Seguidamente teve lugar a cerimónia de despedida do Santo Padre, já no aeroporto e com a participação do rei de Espanha, que proferiu um longo e cordial discurso de despedida. Discurso este que o Papa Bento XVI retribuiu, como forma de agradecimento à nação espanhola, pela maneira calorosa como acolheu mais esta Jornada Mundial da Juventude 2011.

E nós, quando seremos os felizes contemplados com a presença deste evento?
Com um Portugal tão carente, certamente seria uma benesse...
Fica-nos a esperança.



quarta-feira, agosto 17, 2011

FESTAS DA SENHORA D'AGONIA 2011 - Viana do Castelo





A minha terra é Viana!
Sou do monte e sou do mar.
Só dou o nome de terra
Onde o da minha chegar!
  (Pedro Homem de Melo)      






Era uma vez uma pequena povoação nascida no margem direita do rio Lima, junto à foz, quando as águas doces e vaporosas se misturaram com o bravio das ondas salgadas. Chamava-se Átrio e tinha, sobranceira, uma montanha de arvoredo, onde no alto existia a fortificação de um castro habitado por povos sem nome e que, a dada altura, desceram ao litoral, buscando na pesca melhor alimento e mais comércio.

Festas da Senhora d'Agonia

Era extremamente bela, entre veigas cultivadas, palmos de horta viçosas, redis, pomares e vinhedos, mas a sua principal vocação era o mar, a pesca. Na praia, várias embarcações esperavam pelas madrugadas para serem lançadas às vagas, com o afã dos remos, o aceno das velas e o espalhar das redes.

Pelo entardecer, as companhas regressavam ao Átrio, para a alegria das mulheres e crianças, com o fundo da embarcação coberto e pescado palpitante: a sardinha, o carapau, a faneca, o congro...
Vinham rio abaixo, habitantes de outras povoações, para o abastecimento pródigo das suas mesas.

Imagem da Senhora d'Agonia

Ora morava no Átrio, na modéstia de um casebre, uma linda rapariga chamada Ana, filha de pescador e desenvolta na venda do peixe, sempre com uma canção nos lábios, ouvida a algum jogral chegado da vizinha Galiza, onde animava os serões dos paços e terreiros das romarias.

Escutava-lhe, deliciado, estas cantigas de amor e de amigo, um jovem barqueiro que transportava na correnteza do rio, até ao Átrio, lavradores, mercadores, à compra de peixe fresco e saboroso. De tanto escutar a voz harmónica de Ana e de lhe admirar a graça, o rapaz começou a sentir pela rapariga um amor que ia aumentando dia após dia.

Confessava já aos amigos e companheiros de lida, o agrado desse amor nascente. E estes, contentes com o seu contentamento, sorriam quando o moço barqueiro, ao voltar ao Átrio, lhes atirava um brado feliz:
- Vi Ana! Vi Ana!
Um dia, porém, não se contentou em vê-la e dirigiu-lhe a palavra, num enleio que corava as faces. A rapariga, percebeu o vivo interesse amoroso do rapaz por ela, os olhos brilhantes sobre o rosto, sobre o cabelo dela. O seu coração lisonjeado retribui-lhe esse interesse, retribui-lhe esse amor.

Desfile da Mordomia

Não tardou em realizar-se a boda dos dois namorados. Durante os festejos, os companheiros e amigos do noivo recordavam-lhe o brado entusiástico:
-Vi Ana! Vi Ana!

O dito foi logo adotado pelos pescadores do Átrio que passaram a repeti-lo, quando regressavam dos trabalhos duros da faina, se lhes deparava o vulto acolhedor da montanha, as praias douradas, as veigas férteis, as águas lentas do rio e a paz dos seus lares:
-Vi Ana! Vi Ana !

Ao conceder o foral à povoação da foz do Lima, em 1258, o rei D. Afonso III, que a visitara tempos antes, extasiando-se com tanta beleza e prosperidade, substitui-lhe o nome de Átrio pelo de Viana. 
                                                                                (António Manuel Couto - "Lendas do Vale do Lima")

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Fiel à minha paixão pelas festas e romarias de Portugal, que, como já referi, acontecem na sua maioria durante este mês de agosto, não podia deixar de assinalar a romaria das Festas da Senhora d'Agonia que se assume como a rainha das romarias portuguesas.
  
Cortejo Etnográfico

Conjuntamente com as Festas de Campo Maior encerram,  esta época festiva em Portugal. Realizam-se de 19 a 21 de agosto, em Viana do Castelo. Este ano a ex-ministra da Cultura do anterior Governo socialista, Gabriela Canavilhas, vai desfilar como mordoma minhota durante estas Festas da Senhora d'Agonia e presidir à sua realização, conforme confirmou a autarquia.

Canavilhas cumpre, assim, a promessa feita no ano passado, enquanto membro do anterior Governo, em resposta ao desafio e convite do presidente da Câmara de Viana do Castelo, entidade que normalmente preside a este evento festivo.

São quatro dias de festa rija, que têm como pontos altos o Desfile da Mordomia, composto por muitas centenas de minhotas envergando os diversos trajes regionais, o Cortejo Etnográfico, o Fogo de Artifício e a Procissão ao Mar, ainda a feira franca , os Zés Pereiras, corrida de touros, serenatas e concertos.

Procissão ao Mar




O dia da padroeira dos pescadores, a Senhora d'Agonia, tem lugar no dia 20, sábado, com a tradicional Procissão ao Mar, cujo percurso terrestre é feito  pelas ruas cobertas por maravilhosos tapetes de sal colorido.


Este ano, será o Desfile da Mordomia, no Domingo, que deverá encerrar estas Festas da Senhora d'Agonia .


Esquecendo todas as tristezas e eventuais crises depressivas, concentremo-nos nestas imagens tão belas, do nosso Portugal.




terça-feira, agosto 16, 2011

ELVIS ESTARÁ SEMPRE ENTRE NÓS - 34.º Aniversário da Sua Morte





Completa-se hoje mais um ano após a morte de Elvis Presley, em 16 de agosto de 1977.
Todavia aquele que será sempre o "Rei do Rock", não morrerá, ficará entre nós, na nossa memória.
Como prova, junto alguns vídeos revistos e editados após a sua morte,
com a colaboração da sua família.
Até sempre, Elvis! 



segunda-feira, agosto 15, 2011

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA -15 DE AGOSTO









Hoje, dia 15 de agosto de 2011, feriado nacional, celebra-se a Solenidade da Assunção de Maria em corpo e alma ao céu, em Portugal e todo o Mundo Católico. 


Dogma de fé, foi proclamado pela Igreja através da Bula "Munificentissimus Deus" de Sua Santidade o Papa Pio XII, no dia 1 de novembro de 1950:


"Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito da Verdade, para glória de Deus Omnipotente que à Virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei Imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos São Pedro e São Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a  Imaculada Mãe de Deus, a Sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".





Religiosas

domingo, agosto 14, 2011

HÁ CINQUENTA ANOS...O "MURO DA VERGONHA"





Completaram-se ontem 50 anos da edificação do muro que durante 28 anos dividiu a Alemanha Oriental (RDA), da Alemanha Ocidental (RFA), e que viria a tombar em 1989.

Há 50 anos, a RDA justificou a construção do Muro com a necessidade de "travar as provocações imperialistas montadas pelo ocidente". O verdadeiro objetivo dos líderes comunistas, porém, era estancar a emigração para a Alemanha Federal, que nos primeiros doze meses de existência da RDA já tinha ultrapassado os três milhões de pessoas.

Na madrugada de um domingo, 13 de agosto, as milícias da RDA começaram a erguer barreiras de arame farpado, nas linha divisória entre o sector soviético e os  sectores ocidentais. Tanques da RDA ocuparam importantes artérias, e a circulação dos transportes públicos no sentido leste-oeste foi cortada. As potências ocidentais renunciaram a uma intervenção militar, para evitar um conflito que poderia conduzir a uma terceira guerra mundial.

"Mais vale um muro do que uma guerra", disse, na altura, o presidente norte-americano John F.Kennedy, segundo vários historiadores.

Mas durante uma onda revolucionária que varreu o bloco de Leste, o governo da Alemanha Oriental anunciou, em 9 de novembro de 1989, após várias semanas de distúrbios civis, que todos os cidadãos da RDA poderiam visitar a Alemanha Ocidental e Berlim Ocidental. Multidões de alemães orientais subiram e atravessaram o Muro, juntando-se aos alemães ocidentais do outro lado, numa atmosfera de grande celebração. Ao longo das semanas seguintes, partes do Muro foram destruídas por um público eufórico e por caçadores de souvenirs, e mais tarde, equipamentos industriais foram usados para remover quase toda a estrutura.

A queda do Muro de Berlim, abriu o caminho para a reunificação alemã, que foi formalmente celebrada a 3 de outubro de 1990. Muitos apontam esta data como o fim da Guerra Fria. O governo de Berlim incentiva a visita do muro derrubado, tendo preparado a reconstrução de trechos do muro. Além da reconstrução de alguns trechos, está marcado no chão o percurso que o muro fazia quando estava erguido.

Durante as comemorações que na Alemanha assinalaram a queda do Muro, o presidente alemão, Christian Wulff, na conpanhia da chanceler Angela Merkel, marcou presença nas cerimónias realizadas no Memorial do Muro e afirmou" A lembrança da injustiça do Muro adverte-nos para não deixarmos sozinhos os que lutam pela liberdade, a democracia e os direitos cívicos. A liberdade acabou por triunfar, não há muro que resista ao desejo de liberdade".

Recorde-se que o país esteve dividido em República Democrática Alemã (RDA) e República Federal Alemã (RFA)  até à queda do Muro de Berlim, em 1989, quando o país assistiu ao fim do regime comunista.


domingo, agosto 07, 2011

NA MAIS BELA BAÍA (Cascais), A MAIOR COMPETIÇÃO (America's Cup 2011)






A America's Cup (Taça América) é a mais famosa e prestigiada regata dos adeptos do "iatismo", e o mais antigo troféu do desporto internacional, antecedendo os Jogos Olímpicos modernos, em 45 anos. O troféu atrai os principais navegadores e projetistas de "iates" de todo o mundo, por causa da sua longa história e prestígio, considerado como o "cálice sagrado" do iatismo.
America´s Cup

Apesar do aspeto mais evidente da regata ser a corrida de iates, esta competição constitui também um teste para projetos de embarcação, de obtenção de fundos e de gestão. A taça, originalmente atribuída como a Copa Royal Yatch Squadron, é hoje denominada, em homenagem ao primeiro iate vencedor do troféu, o "América".

O troféu permaneceu na posse do New York Yatch Club dos Estados Unidos da América de 1852 ou 1857 (quando o sindicato que ganhou a taça doou o troféu ao clube) até 1983, altura em que o troféu foi ganho pelo desafiante (challenger) Austrália II, da Austrália, pondo assim fim ao mais longo período de vitórias da história do desporto. O "skipper" (tripulante) do Austrália II, nessa altura afirmou "Isto, traz de novo as corridas de iates para a atualidade do desporto, no mundo!".

A regata America's Cup é composta por uma série de duelos de iates que envolve uma série de regatas "melhor dos nove" ( "match race", duelo entre dois barcos). Desde 1992 a regata tem sido disputada com a classe "sloop" de International America's Cup  class (IACC), uma classe monocasco  (barcos de um só casco). Os barcos que seguem as regras da IACC, têm obrigatoriamente um comprimento de cerca de 23 metros (75 pés).
Equipa desafiante America's Cup 2011

Qualquer desafiante que cumpra as especificações definidas no "Deed of Gift", documento que rege a regata, depositado na Corte de Justiça da cidade de Nova Iorque, tem o direito de desafiar o iate clube detentor da Taça. Desde 1983, Louis Vuitton patrocinou a Taça Louis Vuitton como prémio para o vencedor da série de regatas que designa o desafiante (Taça inaugurada em 1970).

Em 13 de julho de 2007, no entanto, a marca Louis Vuitton renunciou ao patrocínio, pondo assim fim a uma parceria de 25 anos com a mais famosa regata do mundo. A America's Cup é, assim, a regata entre o vencedor da Taça Louis Vuitton (regata dos desafiantes) e o detentor do troféu. Se o desafiante ganha a taça, a posse da taça é tranferida para o iate clube da equipa vencedora.
Logotipo da Competição

Este ano, a America's Cup colocou Portugal na rota dos grandes eventos desportivos à escala mundial. Para Portugal, trata-se do maior evento desportivo depois do Euro 2004. Entre 6 e 14 de agosto, Cascais e Portugal, vão estar na mira do mundo. A audiência global estimada é de 60 milhões de espectadores. Meio milhão de euros de investimento, para um retorno de cinco milhões. Dez vezes mais. É um exemplo do impacto económico que a America's Cup vai ter só em Cascais. Há depois o resto do país.

Cascais é uma espécie de mónaco de Portugal, com as devidas distâncias. Vai estar nas bocas do mundo por causa dos catamarãs mais velozes de sempre, por causa dos melhores velejadores do mundo, por causa da competição mais antiga de sempre, a America's Cup.
Percurso da America's Cup 2011

Durante nove dias, espera-se a módica quantia de 60 milhões de telespectadores, da América até à Austrália, da Europa à Ásia. Cascais, pequena cidade de Portugal, é o centro da nata da vela mundial. Localizada na Costa do Estoril, é um destino turístico de primeira, cujas águas são consideradas como ideais para as maiores regatas do mundo. De águas e clima amenos, esta estância balnear da moda, é conhecida pelas suas belas condições dentro e fora de água : praias de areia fina, um rico património arquitetónico e um número de lojas elegantes e restaurantes, excelentes alojamentos e uma intensa vida noturna.
O veloz catamarã AC45

O seu centro histórico torna-se fascinante ao apresentar uma fortaleza do séc.XVI, a Cidadela, transformada em residência real de verão pelo rei D. Luís II, nos finais do sé. XIX, e ainda deste século, muitas vilas  aristocráticas. Dada ainda a sua localização na Costa do Estoril, que se percorre, de carro, num período de 30 minutos, beneficia de tudo quanto esta costa pode oferecer, em termos de inigualável  beleza, vida noturna, praias, casinos, campos de golfe classe "premier", o Parque Natural de Sintra, Património da Humanidade e a proximidade de Lisboa, capital europeia de animada cultura e vida noturna.
Barco dos Emirados

Tudo isto e a já longa tradição da prática da vela nesta zona e a realização de vários campeonatos mundiais em diversas classes, levaram Richard Worth, presidente do evento da America's Cup a considerar " que estes eram o local e o cenário ideais para a apresentação mundial dos novos e velozes catamarãs AC45, da America's Cup", com muita vontade de regressar no próximo ano.

Portugal não desiludiu: tempo maravilhoso, vento suficiente para se atingirem os 30 nós e multidões sedentas de assistirem ao evento. Faço votos muito sinceros para que se repita por cá, o próximo evento, e não no país vizinho, como já aconteceu e parece ter sido talvez um "fiasco"...

Eis o Programa das Regatas:

  • Dias 6 e 7: "Fleet Racing"
  • Dias 10 E 12: "Fleet" e "Match Racing"
  • Dia 13: Finais "Match Racing"
  • Dia 14: Finais "Fleet Racing"


sábado, agosto 06, 2011

ARISTIDES DE SOUSA MENDES (1885-1954) - Diplomata, o "Schindler Português"






Os homens são do tamanho dos valores que defendem.




Aristides de Sousa Mendes foi, talvez por isso, um dos poucos heróis nacionais do século XX e o maior símbolo português saído da II Guerra Mundial. Em 1940, quando era cônsul em Bordéus, protagonizou "a desobediência justa". Não acatou a proibição de Salazar de se passarem vistos a refugiados: transgrediu e passou 30 mil, sobretudo a judeus. Foi demitido compulsivamente. A sua vida estilhaçou-se por completo. É o herói vulgar. Não estava preso a causas. Estava preso a uma questão fundamental: a sua consciência.

Aristides de Sousa Mendes e família, em 1936

Aristides de Sousa Mendes foi o "Schindler português", muito antes de o alemão começar a sua atividade humanitária em prol dos judeus.. Atendendo à verdade histórica, Oskar Schindler é que foi o Aristides alemão.

Oskar Schindler, salvou em 1944, cerca de 1200 judeus, que empregou na sua fábrica, evitando que fossem deportados para campos de concentração. Por causa do filme baseado no livro de Thomas Keneally, "A Lista de Schindler", adaptado ao cinema pelo realizador Steven Spielberg, com um êxito estrondoso, ainda hoje muitos dos portugueses conhecem melhor a história de Oskar Schindler do que a de Aristides de Sousa Mendes.

E, no entanto, Aristides de Sousa Mendes salvou um número de pessoas extraordinariamente maior do que Oskar Schindler. O célebre historiador do Holocausto Yehuda Bauer, classificou o ato de Aristides de Sousa Mendes mesmo como «a maior ação de salvamento levada a cabo por uma só pessoa durante o Holocausto».

Lista de Aristides de Sousa Mendes

De uma coisa ninguém tem dúvidas. Aristides de Sousa Mendes é um dos maiores símbolos nacionais da II Guerra Mundial. Foi o homem metáfora do humanismo. Em 1940 Aristides era cônsul em Bordéus e, indo contra a diretiva de Salazar para não se concederem vistos a refugiados que quisessem atravessar a França para chegar a Portugal, desobedeceu e passou 30 mil vistos. "Na vida de cada pessoa há uma ou outra oportunidade para se revelar, mostrar aquilo em que acredita e levar isso até às últimas consequências. Ele revelou um sentido de rasgo, um sentido de risco", afirmou D. Manuel Clemente, bispo auxiliar de Lisboa.

Casa de Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato,
em incompreensível estado de degradação, ainda


No século XX português não há outra figura que tenha mudado tanto, objectiva e materialmente, a vida de  milhares de pessoas. Aristides de Sousa Mendes representou a desobediência justa, foi o exemplo da solidariedade. A sua figura ficou ligada, para sempre, ao humanismo do século XX. No momento crucial da vida na Europa e no mundo, foi capaz de distinguir o essencial do acessório. Percebeu que não podia ficar indiferente à sorte de milhares de pessoas que foram aparecendo no Consulado de Portugal em Bordéus.

Placa que assinala a árvore de Aristides de Sousa Mendes
na Floresta dos Justos

Nascido numa abastada família de antigos fidalgos de província, de Cabanas de Viriato, perto de Viseu, Aristides e o irmão gémeo cursaram Direito em Coimbra e seguiram a carreira diplomática. Perseguido pelo regime Sidonista e pela I República em geral, após o golpe de 28 de Maio de 1926, Aristides é colocado em Vigo, num posto prestigiante e de confiança. A seguir é transferido para um posto de confiança em Antuérpia, onde ficou nove anos. Com 50 anos, era decano do corpo diplomático.

Em 1938, após Salazar recusar o seu pedido para permanecer na Bélgica, foi colocado em Bordéus. Em 1939, com o rebentar da II Guerra Mundial, e em 1940, devido à invasão da França pelas tropas alemãs, milhares de refugiados fugiram para o sul. Os jardins do Consulado e as ruas vizinhas serviram de acampamento a milhares de pessoas, das mais diversas nacionalidades, sobretudo judeus, fugitivos da perseguição nazi, mas também gente que simplesmente fugia da guerra.

Monumento a Aristides de Sousa Mendes em Santarém

Com a proibição de Salazar, à data simultânemente presidente do Conselho de Ministros e ministro dos Negócios Estrangeiros, de se passarem vistos a refugiados, sobretudo a "israelitas", Aristides de Sousa Mendes seguiu a sua formação humanista e católica, e desobedeceu.  Passou (com dois dos seus filhos mais velhos) milhares e milhares de vistos àqueles fugitivos, entre os dias 17 e 19 de junho de 1940. Terão sido passados cerca de trinta mil, naqueles escassos dias.

Concedeu vistos sem olhar a nacionalidades, etnias ou religiões. Graças a ele, Portugal ficou na história como um país que apoiou os refugiados durante a II Guerra Mundial. "Aristides marca de uma forma indelével a história de Portugal porque permitiu reconciliar-nos com a nossa dignidade. Mais do que qualquer outra pessoa da sua época, dignificou o que era ser-se humano ser-se português", declarou Fernando Nobre, presidente da fundação AMI.

Quando se deu a ocupação do Consulado, fechou-se num quarto para reflectir o que deveria fazer. Num silêncio inquietante, ficou só com o seu dilema: respeitar as ordens superiores, o que alíás sempre fizera, ou responder à sua consciência?. Aristides de Sousa Mendes era um homem vulgar, um funcionário ordeiro, com mais de 50 anos e 12 filhos, que nunca se tinha oposto ao regime ditatorial. Mas naquela hora, respondeu à sua consciência. E isso foi extraordinário.

Alameda Aristides de Sousa Mendes na Áustria

Continuando a desobedecer às ordens superiores, provou que não tinha vocação para capacho. Perante a passividade dos colegas de Bayonne e Hendaye, deslocou-se a estas cidades nos dias seguintes, e ele próprio emitiu mais alguns milhares de vistos. As perspetivas dos seus atos não se limitaram a ser sombrias. Excederam em perigo muito mais do que a imaginação humana pode conceber.

E de tal modo que, após 32 anos de serviço, Aristides de Sousa Mendes, com uma família de 12 filhos, foi demitido compulsivamente sem qualquer direito a qualquer reforma ou indemnização. Além disto, foi também interditado de exercer a advocacia e os filhos de frequentarem a universidade. O irmão também foi demitido do serviço diplomático. A sua vida estilhaçou-se por completo. Desmoronou-se em prol de um ideal. A presença de Deus e o seu catolicismo comandaram sempre a vida de Aristides de Sousa Mendes.

Lápide da Alameda dos Justos

Albergou no seu palácio de Cabanas de Viriato muitas famílias de refugiados, mesmo à custa da hipoteca do recheio do próprio palácio. Já na miséria, foi auxiliado pela Comunidade Israelita em Lisboa a partir de1941, sendo muitos dos seus filhos chamados por aqueles que haviam sido salvos, sobretudo a partir dos Estados Unidos e do Canadá.

Em 1945, terminada a guerra, tendo feito uma exposição para tentativa de reapreciação do seu processo, não recebeu resposta. A sua situação de miséria agravou-se. E em 3 de abril de 1954 morreu, no Hospital da Ordem Terceira, em Lisboa, desonrado e sozinho, apenas acompanhado por uma sobrinha, uma vez que os seus filhos já haviam todos emigrado para a América.

Duas bisnetas de Sousa Mendes, colocam flores no monumento
da Estação do Parque, do metro de Lisboa 

Por incrível que pareça, Aristides de Sousa Mendes só foi reabilitado nos anos 80 do século XX, e muito por pressão exterior. Foi primeiro elogiado nos Estados Unidos e em Israel. Foi considerado o justo entre os justos.

Em Israel, mais precisamente em Jerusalém, foi feita uma alameda chamada de Alameda dos Justos, onde foram plantadas cerca de dez mil árvores, uma por cada justo que Sousa Mendes ajudou durante a II Guerra. Em 1987 foi ali plantada, em presença dos filhos uma árvore em homenagem a Aristides de Sousa Mendes.

Só a 18 de março de 1988, sob iniciativa do então deputado Jaime Gama, Assembleia da República aprovou, por unanimidade, a reintegração de Aristides de Sousa Mendes na carreira diplomática, a título póstumo, em categoria nunca inferior àquela que teria direito se não fosse demitido compulsivamente.

Decreto do DR, que iliba Aristides de Sousa Mendes

Também o arquiduque Otto da Áustria, em maio de 1968, lhe dirigiu uma longa carta profundamente comovido, citando toda a ajuda prestada pelo então cônsul, a si próprio e à sua família.

Finalmente, em 1 de outubro de 1986, o Estado Português pede oficialmente desculpa pela injustiça cometida sobre o ex-cônsul, quando o Presidente da República condecora Aristides de Sousa Mendes, a título póstumo, com a Ordem da Liberdade, que é entregue pessoalmente à família de Aristides na embaixada portuguesa em Washington em 19 de maio de 1987.





Assim, 49 anos depois, fez-se justiça.







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