terça-feira, dezembro 29, 2015

À NOITINHA, COM JOSÉ RÉGIO: "VAI-TE, POESIA!"



VAI-TE, POESIA!


Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.

Vai-te, Poesia!

Não quero cantar.
Quero gritar!


JOSÉ GOMES FERREIRA



quarta-feira, dezembro 23, 2015

HÁ SEMPRE MAIS UM CONTO DE NATAL... O BONECO DE NEVE, de Raymond Briggs (1934-?)








Raymond Briggs Redvers é um inglês nascido em Wimbledon, Londres, de profissão ilustrador, cartunista, escritor gráfico e autor, que alcançou grande sucesso por parte da crítica e se tornou muito popular no universo das crianças e dos adultos. Na Grã-Bretanha é sobretudo popular pelo seu conto de natal O Boneco de Neve, um livro sem palavras cuja animação é passada nas televisões e a respetiva adaptação musical é encenada em cada Natal.



O Boneco de Neve, publicado em 1978, inspirou o filme homónimo, lançado em 1982 e que o Channel 4 transmitiu pela primeira vez na véspera de Natal, com um sucesso enorme. Sucesso tal, que lhe valeu a nomeação para o Prémio Oscar de Melhor Curta Metragem de Animação, em 1983. O filme tornou-se um ícone da cultura britânica natalícia, sendo esta versão animada realizada por Howard Blake e estrelada pelo ator David Bowie.



Uma criança, mais concretamente um menino, na véspera de Natal, constrói um boneco de neve no jardim da sua casa. Misteriosamente, durante a noite, o boneco adquire vida e torna-se humano. Ao acordar, o menino dirige-se para o jardim e torna-se grande amigo do boneco de neve. Juntos empreendem uma viagem pelo Polo Norte, onde vivem uma aventura mágica que torna o Natal desta criança solitária algo inesquecível e muito especial.



Acompanhado por uma banda sonora encantadora, O Boneco de Neve atingiu níveis de popularidade que justificam plenamente a nomeação para o Oscar de Melhor Curta Metragem de Animação. O final, apesar de previsível, não deixa de ser muito comovente até mesmo para aqueles que já passaram a infância e certamente se sentem regressar aos velhos tempos.



Após uma longa carreira no mundo da escrita, ilustração e animação, Raymond Briggs conquistou em 1966 e 1973 as Medalhas Kate Greemaway da British Library Association. Entre outras nomeações, em 1993 foi reconhecido como o autor infantil do Ano, pelos Prémios British Books Awards. A sua Graphic Novel Ethel and Ernest, que retrata o casamento de seus pais, casamento  de 41 anos, ganhou o prémio de Melhor Livro Ilustrado do ano de 1999, Prémio British Book Awards.


       1- Raymond Briggs no seu escritório                    2- O seu casamento                           3-A sua atividade no estúdio cinematográfico

A esposa Jean, doente de leucemia, faleceu em 1973, dois anos apenas após a morte dos seus pais. Não tiveram filhos. Desde 2010, Raymond Briggs vive numa casa simples em Westmeston, Sussex. Apreciador da tranquilidade, habita uma casa separada da sua companheira Liz, dos seus filhos e netos.

Continua a sua atividade de escrever e ilustrar livros.



Raymond Briggs exercendo a sua atividade de escritor e ilustrador.










domingo, dezembro 20, 2015

IMAGEM DO DIA, COM MIA COUTO











UMA TARDE COM A POETISA ADELAIDE MONTEIRO : "UM GRITO"





UM GRITO


Estão cansadas as palavras,
os rios secos, a erva a cheirar a estio
antes de tempo vencida
e as hastes
onde quiz enrolar os sonhos...
caíram com o vendaval
numa terra entorpecida.
Tanto tempo levei,
tanto o tempo me levou,
pouco o tempo me deixou
no relógio que parou.
Não!
Por favor,
não prometas mais nada!
Sempre as tuas promessas
foram rasuradas,
borradas e apagadas
não restando delas
nem um gemido de morte,
uma súplica, um grito...
Um grito fui eu,
de revolta!



ADELAIDE MONTEIRO




sexta-feira, dezembro 18, 2015

PELA NOITE, COM PEDRO CHAGAS FREITAS




Amo-te por culpa de quem me ama tanto, mas não és tu, a maldade do mundo é haver tanta gente e só tu és tu, e não perdoo a Deus ter criado milhões de possibilidades, milhões de braços e de abraços, tantos lábios afinal, e nenhum me dar o que tu me dás, a crueldade do amor é tirar-nos a possibilidade de outro amor, quantas vidas são necessárias para te encontrar outra vez?

PEDRO CHAGAS FREITAS



BEETHOVEN FARIA ONTEM 245 ANOS...







Compositor e pianista Ludwig Van Beethoven, amplamente considerado o maior compositor de todos os tempos, nasceu por volta de 16 de dezembro de 1770 na cidade de Bonn no eleitorado de Colónia, um principado do Sacro Império Romano. Embora a sua data exata de nascimento seja incerta, Beethoven foi batizado no dia 17 de dezembro de 1770.

Beethoven teve dois irmãos mais jovens que sobreviveram até a idade adulta, Caspar, nascido em 1774, e Johann, nascido em 1776. A mãe de Beethoven, Maria Magdalena van Beethoven, esbelta e gentil, foi uma mulher profundamente moralista. Seu pai, Johann van Beethoven, foi um cantor medíocre mais conhecido por seu alcoolismo do que qualquer habilidade musical. No entanto, o avô e padrinho de Beethoven, Kapellmeister Ludwig van Beethoven, foi o músico mais próspero e eminente de Bonn, uma fonte de orgulho sem fim para o jovem Ludwig, seu neto e afilhado.

A certa altura, no intervalo do nascimento dos seus dois irmãos mais novos, o pai de Beethoven começou a ensinar- lhe música com um rigor extraordinário e brutalidade tais que afetaram Beethoven para o resto da sua vida. Os vizinhos diziam ouvir o choro do menino enquanto ele tocava o cravo, de pé em cima de um banco, para alcançar as chaves, e enquanto o pai lhe batia a cada hesitação ou erro, chegando a ser açoitado, trancada no porão e privados de sono por horas extras de prática.

Esperando que seu filho fosse reconhecido como um prodígio musical à maneira de Mozart, o pai de Beethoven organizou o seu primeiro recital público em 26 de março de 1778. Anunciado como um "filhinho de seis anos," (a idade de Mozart quando tocou para a imperatriz Maria Theresa ), tinha na verdade sete anos, Beethoven tocou de forma impressionante, mas o seu  recital não teve o êxito esperado.

    1-Estúdio de Beethoven em 1827                                                             2-Conde Waldstein                                                                     3-Beethoven, por Joseph Mähler

Em 1781, com a idade de 10 anos, Beethoven retirou-se da escola para estudar música a tempo inteiro com Christian Gottlob Neefe, o recém-nomeado organista da corte. Neefe deu a conhecer Bach a Beethoven e com a idade de doze Beethoven publicou sua primeira composição, um conjunto de variações para piano sobre um tema de um compositor clássico obscuro chamado Dressler.

Por volta do ano de 1784, pelo seu alcoolismo e a sua voz decadente, o pai de Beethoven não foi mais capaz de sustentar a família, e Beethoven solicitou formalmente uma nomeação oficial como Organista Assistente do Tribunal. Apesar da sua juventude, o seu pedido foi aceite, e Beethoven foi colocado no tribunal com um modesto  salário anual de 150 florins.

Quando o Sacro Imperador Romano Joseph II morreu em 1790, um Beethoven de 19 anos de idade recebeu a grande honra de compor um memorial musical em sua homenagem. Por razões que permanecem obscuras, a composição de Beethoven não foi realizada.  No entanto, mais de um século depois, Johannes Brahms descobriu que Beethoven tinha, de facto, composto uma peça "bela e nobre" de música, intitulada Cantata, sobre a morte do imperador Joseph II. É hoje considerada a sua primeira obra-prima.

Beethoven fez a sua estreia pública em Viena, em 29 de março de 1795. Embora haja um debate considerável sobre qual dos seus concertos de piano ele apresentou nessa noite, a maioria dos estudiosos acreditam que tocou o que é conhecido como seu "primeiro" concerto para piano em C Maior. Pouco tempo depois, Beethoven decidiu publicar uma série de três trios para piano, o seu "Opus 1", que foram um enorme sucesso financeiro e muito bem aceites pela crítica.
No princípio do século, em 2 de abril de 1800, Beethoven estreou a sua Sinfonia No. 1 em C Maior no Teatro Real e Imperial de Viena. Embora Beethoven crescesse  detestando a peça - "Naqueles dias, eu não sabia como compor", observou mais tarde – a graciosa e melodiosa sinfonia  tornou-o num dos compositores mais célebres da Europa.

Como o novo século avançava, Beethoven compôs peça após peça que o marcou como um compositor magistral atingindo a sua maturidade musical.
Por esta altura, Beethoven como todos os europeus, assistiu com uma mistura de admiração e terror, o modo como Napoleão Bonaparte se proclamou primeiro cônsul, e mais tarde imperador da França. Beethoven admirava-o, mas abominou e, em certa medida tinha-se identificado com o próprio Napoleão, um homem de capacidades sobre-humanas aparentemente, apenas um ano mais velho do que ele, Beethoven, e também de nascimento obscuro.

Em 1804, apenas algumas semanas depois de Napoleão se proclamar imperador, Beethoven estreou a sua Sinfonia No. 3 em honra de Napoleão. Mais tarde chamada de "Sinfonia Eróica" por Beethoven, desiludido com Napoleão. Foi a sua maior obra e a mais original até à data - tão diferente de tudo que se tinha ouvido antes, que os músicos não conseguiam descobrir como  a interpretar. Um colaborador proeminente proclamou "Eroica", uma das obras mais originais, mais sublimes e mais profundas jamais produzidas."
Ao mesmo tempo que compunha estas obras grandes e imortais, Beethoven lutou com um facto chocante e terrível que tentou desesperadamente esconder. Estava a ensurdecer. Na viragem do século, Beethoven mal percebia as palavras e as conversas.

Quase milagrosamente, apesar da sua surdez galopante, Beethoven continuou a compor a um ritmo furioso. A partir de 1803-1812, que é conhecido como o "meio" ou período "heróico", compôs uma ópera, seis sinfonias, quatro concertos a solo, cinco quartetos de cordas, seis sonatas de cordas, sete sonatas para piano, cinco conjuntos de variações para piano, quatro aberturas, quatro trios, dois sextetos e 72 canções. Entre eles contam-se as sinfonias No. 3-8, o "Moonlight Sonata", o "Kreutzer" sonata para violino e Fidelio, a sua única ópera. Este período na vida de Beethoven é inigualado por qualquer de qualquer outro compositor na história, em termos de originalidade e beleza.


                       1-Beethoven em 1803                                                                  2-Maximiliano, Arquiduque de Áustria                                         3-Túmulo de Ludwig van Beethoven em Viena, Áustria.

De alguma forma, apesar de sua tumultuosa vida pessoal, enfermidade física e surdez completa, Beethoven compôs a sua melhor música - talvez a maior música já composta - perto do final de sua vida. As suas maiores obras tardias incluem a Missa Solemnis, que estreou em 1824 e é considerada uma dos seus melhores realizações, e String Quartet No. 14, que contém sete movimentos ligados tocados sem uma pausa.

 A Nona e última sinfonia de Beethoven, concluída em 1824, continua a ser a realização  mais imponente do ilustre compositor, com o seu Famoso Finale coral da sinfonia, com quatro solistas vocais e um coro cantando as palavras do poema de Friedrich Schiller "Ode à Alegria". É talvez a peça mais famosa  na história da música.

Beethoven morreu em 26 de março de 1827, com a idade de 56 anos. Ludwig van Beethoven é amplamente considerado o maior compositor de todos os tempos. É a figura fundamental da transição que liga as idades clássica e romântica da música ocidental.

E o facto de Beethoven compor a sua música mais bela e extraordinária enquanto surdo,  foi uma tarefa quase sobre-humana de um génio criativo, apenas talvez  com paralelo na história da realização artística de John Milton, Paradise Lost, por ele escrito enquanto cego.
Resumindo a sua vida e morte, Beethoven nunca foi tão eloquente com as palavras como foi com a música: 

"Plaudite, amici, comoedia finita est"
( “Aplaudam, amigos, a comédia acabou”)





quarta-feira, dezembro 16, 2015

PELA NOITE, COM JOSÉ RÉGIO: "SABEDORIA"





SABEDORIA


Desde que tudo me cansa,
Comecei eu a viver.
Comecei a viver sem esperança...
E venha a morte quando
Deus quiser.


Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
Às vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara;
Outras, tão pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.


Hoje, é que nada espero.
Para quê, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, é só enquanto apenas quero;
Só de longe, e secreto, é que inda posso amar. . .
E venha a morte quando Deus quiser.


Mas, com isto, que têm as estrelas?
Continuam brilhando, altas e belas.



JOSÉ RÉGIO,
in 'Poemas de Deus e do Diabo'




IMAGEM DO DIA, COM YVETTE CENTENO








segunda-feira, dezembro 14, 2015

ANO SANTO DA MISERICÓRDIA 8/12/2015-20/11/2016 - Carta do Papa Francisco





CARTA DO PAPA FRANCISCO


Ao Venerado Irmão
D. Rino Fisichella
Presidente do Pontifício Conselho
para a Promoção da Nova Evangelização

A proximidade do Jubileu Extraordinário da Misericórdia permite-me focar alguns pontos sobre os quais considero importante intervir para consentir que a celebração do Ano Santo seja para todos os crentes um verdadeiro momento de encontro com a misericórdia de Deus. Com efeito,  desejo que o Jubileu seja uma experiência viva da proximidade do Pai, como se quiséssemos sentir pessoalmente a sua ternura, para que a fé de cada crente se revigore e assim o testemunho se torne cada vez mais eficaz.

O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, a todos os fiéis que em cada Diocese, ou como peregrinos em Roma, viverem a graça do Jubileu. Espero que a indulgência jubilar chegue a cada um como uma experiência genuína da misericórdia de Deus, a qual vai ao encontro de todos com o rosto do Pai que acolhe e perdoa, esquecendo completamente o pecado cometido. Para viver e obter a indulgência os fiéis são chamados a realizar uma breve peregrinação rumo à Porta Santa, aberta em cada Catedral ou nas igrejas estabelecidas pelo Bispo diocesano, e nas quatro Basílicas Papais em Roma, como sinal do profundo desejo de verdadeira conversão. Estabeleço igualmente que se possa obter a indulgência nos Santuários onde se abrir a Porta da Misericórdia e nas igrejas que tradicionalmente são identificadas como Jubilares. É importante que este momento esteja unido, em primeiro lugar, ao Sacramento da Reconciliação e à celebração da santa Eucaristia com uma reflexão sobre a misericórdia. Será necessário acompanhar estas celebrações com a profissão de fé e com a oração por mim e pelas intenções que trago no coração para o bem da Igreja e do mundo inteiro.


Penso também em quantos, por diversos motivos, estiverem impossibilitados de ir até à Porta Santa, sobretudo os doentes e as pessoas idosas e sós, que muitas vezes se encontram em condições de não poder sair de casa. Para eles será de grande ajuda viver a enfermidade e o sofrimento como experiência de proximidade ao Senhor que no mistério da sua paixão, morte e ressurreição indica a via mestra para dar sentido à dor e à solidão. Viver com fé e esperança jubilosa este momento de provação, recebendo a comunhão ou participando na santa Missa e na oração comunitária, inclusive através dos vários meios de comunicação, será para eles o modo de obter a indulgência jubilar. O meu pensamento dirige-se também aos encarcerados, que experimentam a limitação da sua liberdade. 

O Jubileu constituiu sempre a oportunidade de uma grande amnistia, destinada a envolver muitas pessoas que, mesmo merecedoras de punição, todavia tomaram consciência da injustiça perpetrada e desejam sinceramente inserir-se de novo na sociedade, oferecendo o seu contributo honesto. A todos eles chegue concretamente a misericórdia do Pai que quer estar próximo de quem mais necessita do seu perdão. Nas capelas dos cárceres poderão obter a indulgência, e todas as vezes que passarem pela porta da sua cela, dirigindo o pensamento e a oração ao Pai, que este gesto signifique para eles a passagem pela Porta Santa, porque a misericórdia de Deus, capaz de mudar os corações, consegue também  transformar as grades em experiência de liberdade.

Eu pedi que a Igreja redescubra neste tempo jubilar a riqueza contida nas obras de misericórdia corporais e espirituais. De facto, a experiência da misericórdia torna-se visível no testemunho de sinais concretos como o próprio Jesus nos ensinou. Todas as vezes que um fiel viver uma ou mais destas obras pessoalmente obterá sem dúvida a indulgência jubilar. Daqui o compromisso a viver de misericórdia para alcançar a graça do perdão completo e exaustivo pela força do amor do Pai que não exclui ninguém. Portanto, tratar-se-á de uma indulgência jubilar plena, fruto do próprio evento que é celebrado e vivido com fé, esperança e caridade.

Enfim, a indulgência jubilar pode ser obtida também para quantos faleceram. A eles estamos unidos pelo testemunho de fé e caridade que nos deixaram. Assim como os recordamos na celebração eucarística, também podemos, no grande mistério da comunhão dos Santos, rezar por eles, para que o rosto misericordioso do Pai os liberte de qualquer resíduo de culpa e possa abraçá-los na beatitude sem fim.

Um dos graves problemas do nosso tempo é certamente a alterada relação com a vida. Uma mentalidade muito difundida já fez perder a necessária sensibilidade pessoal e social pelo acolhimento de uma nova vida. O drama do aborto é vivido por alguns com uma consciência superficial, quase sem se dar conta do gravíssimo mal que um gesto  semelhante comporta. Muitos outros, ao contrário, mesmo vivendo este momento como uma derrota, julgam que não têm outro caminho a percorrer. Penso, de maneira particular, em todas as mulheres que recorreram ao aborto. Conheço bem os condicionamentos que as levaram a tomar esta decisão. Sei que é um drama existencial e moral. Encontrei muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada por esta escolha sofrida e dolorosa. O que aconteceu é profundamente injusto; contudo, só a sua verdadeira compreensão pode impedir que se perca a esperança. O perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que esteja arrependido, sobretudo quando com coração sincero se aproxima do Sacramento da Confissão para obter a reconciliação com o Pai. Também por este motivo, não obstante qualquer disposição em contrário, decidi conceder a todos os sacerdotes para o Ano Jubilar a faculdade de absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e, arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado. Os sacerdotes se preparem para esta grande tarefa sabendo conjugar palavras de acolhimento genuíno com uma reflexão que ajude a compreender o pecado cometido, e indicar um percurso de conversão autêntica para conseguir entender o verdadeiro e generoso perdão do Pai, que tudo renova com a sua presença.


Uma última consideração é dirigida aos fiéis que por diversos motivos sentem o desejo de frequentar as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade São Pio X. Este Ano Jubilar da Misericórdia não exclui ninguém. De diversas partes, alguns irmãos Bispos referiram-me acerca da sua boa fé e prática sacramental, porém unida à dificuldade de viver uma condição pastoralmente árdua. Confio que no futuro próximo se possam encontrar soluções para recuperar a plena comunhão com os sacerdotes e os superiores da Fraternidade. Entretanto, movido pela exigência de corresponder ao bem destes fiéis, estabeleço por minha própria vontade que quantos, durante o Ano Santo da Misericórdia, se aproximarem para celebrar o Sacramento da Reconciliação junto dos sacerdotes da Fraternidade São Pio X, recebam validamente e licitamente a absolvição dos seus pecados.

Confiando na intercessão da Mãe da Misericórdia, recomendo à sua protecção a preparação deste Jubileu Extraordinário.

Vaticano, 1 de Setembro de 2015
Franciscus











A ÚLTIMA DANÇA - Sylvie Guillem anuncia o fim dos incríveis bailados,,,






Sylvie Guillem, sem dúvida a maior bailarina de sua geração, divulgou os pormenores das suas últimas apresentações após 39 anos da sua admissão na escola de Ballet da Ópera de Paris. Todavia, Guillem teve uma carreira espetacular como a bailarina líder tanto no Ballet da Ópera de Paris como no Royal Ballet de Londres.

Sylvie fará  50 anos no próximo ano e decidiu "tomar a minha saudação final", segundo declarou na passada terça-feira . "No próximo ano será a minha última “tournée” mundial como bailarina, com uma produção totalmente nova, para dizer adeus com gratidão e uma grande emoção.

"Adorei cada momento dos últimos 39 anos que hoje continuo a amar da mesma forma. Então, porquê parar? Muito simplesmente porque eu quero terminar enquanto eu ainda sou feliz fazendo o que faço “.

Sylvie Guillem vai despedir-se com uma “tournée” mundial chamada Vida em estreia a partir de Modena, Itália, em 31 de março, parando em Poços de Sadler em maio e terminando em Tóquio em dezembro. Irá incluir dois novos trabalhos de Akram Khan e Russell Maliphant, bem como uma peça a solo escrita para ela por Mats Ek, chamada Bye.

Muitas bailarinas, quando completam 40 anos, abandonam por completo a dança, aceitando que os seus corpos não podem mais suportar os rigores e tensões da técnica clássica. Mas Sylvie recomeçou a treinar, trabalhando mais suavemente e experimentando outras formas de dança, conseguindo assim prolongar a sua carreira por mais de uma década. Em Sagrados Monstros, o seu dueto de 2006, com Akram Khan,  explorou a fluidez de movimento asiático e o desafio do trabalho que fala. No filme de Robert Lepage, Eonnagata mudou-se para o teatro experimental, e com  Maliphant  desenvolveu uma nova e extasiante paleta de movimentos, focados na dança.

Sylvie Guillem parecia eterna no palco. Mas para cada bailarino há um ponto em que o equilíbrio entre o prazer e a dor ocasionam  lapsos e falhas de execução, e como os adivinhasse, anunciou querer parar, enquanto ainda pode ter "paixão e orgulho" no seu trabalho. É uma declaração clara de intenções típicas de um dançarino cuja mente está tão fascinantemente ciente da sua arte como do seu corpo.

Mas Sylvie foi muito mais do que um prodígio técnico. Com ela também amadureceu e se desenvolveu uma atriz bailarina astuta e sensível: a sua interpretação em personagens como Manon ou Natalia Petrovna foram momentos refrescantes, clichés do ballet como dança livre. 

Também usou o seu poder de bilheteira para a petição de desafios mais amplos: como o principal artista convidado do Royal Ballet convenceu a empresa a apresentar o seu trabalho numa ousada inovação contemporânea, Broken Fall, que dançou ao lado do BalletBoyz, William e Michael Nunn Trevitt.


Vejam algumas das que serão as suas últimas "performances"…









IMAGEM DO DIA, COM FERNANDO PESSOA









PELA NOITE, COM JOSÉ RÉGIO: "IGNOTO DEO"





IGNOTO DEO


Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.


Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.


Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,


Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!



JOSÉ RÉGIO,
in “Biografia”




José Régio nasceu a 17 setembro 1901 em Vila do Conde, Portugal, e aí morreu em 22 de dezembro de 1922.

Pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, foi um escritor português que viveu grande parte da sua vida na cidade de Portalegre foi um dos mais notáveis poetas da literatura portuguesa.

Saiba mais:





quinta-feira, dezembro 10, 2015

PELA NOITE, COM ANTÓNIO RAMOS ROSA: "PARA UM AMIGO TENHO SEMPRE"





PARA UM AMIGO TENHO SEMPRE


Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.


ANTÓNIO RAMOS ROSA,

in "Viagem Através de uma Nebulosa"




IMAGEM DO DIA, COM MIA COUTO







UMA TARDE COM PEDRO CHAGAS FREITAS: "PROMETO FALHAR"






Usa desodorizante.
Diz pelo menos os palavrões todos que te apeteça dizer.
Lava os dentes.
Faz algo que te assuste.
Diz piadas.
Não escolhas o fácil só porque te parece fácil.
Não comas com a boca aberta.
Não faças o difícil só porque te parece difícil.
Ama sem olhar a quem.
Come chocolates.
Ama só quando te sentes alguém.
Beija de língua.
Sonha com algo impossível.
Orgulha-te de cada ruga.
Experimenta novas posições sexuais.
Ri-te de ti.
Sonha com algo possível.
Ri-te dos outros.
Imagina o teu pior inimigo sentado na sanita.
Ri-te de tudo.
Nunca penses que brincas demais.
Chora.
Salta à corda.
Leva quem amas para um motel.
Atira-te ao mar sempre que podes.
Ama o sol.
Abraça.
Ama a chuva.
Perdoa quem amas.
Ama o vento.
Perdoa quem não amas.
Toma banho todos os dias.
Nunca desistas de um orgasmo.
Partilha.
Ajuda.
Olha.
Faz questão de tocar com a pele.
Sorri para quem te quer bem.
Abraça com força.
Sorri para quem te quer mal.
Não tenhas medo de desistir.
Sê único.
Não tenhas medo de não desistir.
Respeita a maioria.
Sê feliz com tudo o que temes.
Caga na maioria.
Dá tudo o que tens a todos os que amas.
Vai ao contrário só porque te apetece.
Usa cremes hidratantes.
Faz o que te der na real gana.
Casa por amor.
Ri para sempre.
Vive por amor.
Arrisca.
Pisa o risco.
Sê pornográfico.
Vicia-te em adrenalina.
Prossegue.
Avança.
Lava periodicamente o sexo.
Faz todas as opções em nome do prazer.
Ama periodicamente com o sexo.
Insiste em viver.
Vem-te periodicamente.
Continua esta lista.
Todos os dias.
A toda a hora.
Já.


PEDRO CHAGAS FREITAS,
in "Prometo falhar"




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