“Uma vez que muitos de
vós não pertencem à Igreja Católica e outros não são crentes, de coração
concedo esta bênção, em silêncio, a cada um de vós, respeitando a consciência
de cada um", escreve o chefe da Igreja Católica, na mensagem que
reproduzo na íntegra:
Ao longo dos últimos tempos,
não tem cessado de crescer o papel dos mass media, a ponto de se tornarem
indispensáveis para narrar ao mundo os acontecimentos da história
contemporânea. Por isso, vos dirijo um agradecimento especial a todos pelo
vosso qualificado serviço – trabalhastes… e muito! – nos dias passados, quando
os olhos do mundo católico e não só se voltaram para a Cidade Eterna,
nomeadamente para este território que tem como «centro de gravidade» o túmulo
de São Pedro. Nestas semanas, tivestes ocasião de falar da Santa Sé, da Igreja,
dos seus ritos e tradições, da sua fé e, de modo particular, do papel do Papa e
do seu ministério.
Um agradecimento particularmente sentido dirijo a quantos souberam olhar e
apresentar estes acontecimentos da história da Igreja, tendo em conta a
perspectiva mais justa em que devem ser lidos: a perspectiva da fé. Quase
sempre os acontecimentos da história reclamam uma leitura complexa, podendo
eventualmente incluir também a dimensão da fé. Certamente os acontecimentos
eclesiais não são mais complicados do que os da política ou da economia; mas
possuem uma característica fundamental própria: seguem uma lógica que não
obedece primariamente a categorias por assim dizer mundanas e, por isso mesmo,
não é fácil interpretá-los e comunicá-los a um público amplo e variado.
Realmente a Igreja, apesar de ser indubitavelmente uma instituição também humana
e histórica, com tudo o que isso implica, não é de natureza política, mas
essencialmente espiritual: é o Povo de Deus, o Povo santo de Deus, que caminha
rumo ao encontro com Jesus Cristo. Somente colocando-se nesta perspectiva é que
se pode justificar plenamente aquilo que a Igreja Católica realiza.
Cristo é o Pastor da Igreja, mas a sua presença na história passa através da
liberdade dos homens: um deles é escolhido para servir como seu Vigário,
Sucessor do Apóstolo Pedro, mas Cristo é o centro. Não o Sucessor de Pedro, mas
Cristo. Cristo é o centro. Cristo é o ponto fundamental de referimento, o
coração da Igreja. Sem Ele, Pedro e a Igreja não existiriam, nem teriam razão
de ser. Como repetidamente disse Bento XVI, Cristo está presente e guia a sua Igreja.
O protagonista de tudo o que aconteceu foi, em última análise, o Espírito
Santo. Ele inspirou a decisão tomada por Bento XVI para bem da Igreja; Ele
dirigiu na oração e na eleição os Cardeais.
É importante, queridos amigos, ter em devida conta este horizonte
interpretativo, esta hermenêutica, para identificar o coração dos
acontecimentos destes dias.
Destas considerações nasce, antes de mais nada, um renovado e sincero
agradecimento pelas canseiras destes dias particularmente árduos, mas também um
convite para procurardes conhecer cada vez mais a verdadeira natureza da Igreja
e também o seu caminho no mundo, com as suas virtudes e os seus pecados, e
conhecer as motivações espirituais que a norteiam e que são as mais verdadeiras
para entendê-la. Podeis estar certos de que a Igreja, por sua vez, presta
grande atenção ao vosso precioso trabalho; é que vós tendes a capacidade de
identificar e exprimir as expectativas e as exigências do nosso tempo, de
oferecer os elementos necessários para uma leitura da realidade. O vosso
trabalho requer estudo, uma sensibilidade própria e experiência, como tantas
outras profissões, mas implica um cuidado especial pela verdade, a bondade e a
beleza; e isto torna-nos particularmente vizinhos, já que a Igreja existe para comunicar
precisamente isto: a Verdade, a Bondade e a Beleza «em pessoa». Deveria
resultar claramente que todos somos chamados, não a comunicar-nos a nós mesmos,
mas esta tríade existencial formada pela verdade, a bondade e a beleza.
Alguns não sabiam por que o Bispo de Roma se quis chamar Francisco. Alguns
pensaram em Francisco Xavier, em Francisco de Sales, e também em Francisco de
Assis. Deixai que vos conte como se passaram as coisas. Na eleição, tinha ao
meu lado o Cardeal Cláudio Hummes, o arcebispo emérito de São Paulo e também
prefeito emérito da Congregação para o Clero: um grande amigo, um grande amigo!
Quando o caso começava a tornar-se um pouco «perigoso», ele animava-me. E
quando os votos atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque foi
eleito o Papa. Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: «Não te esqueças dos
pobres!» E aquela palavra gravou-se-me na cabeça: os pobres, os pobres. Logo
depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis. Em seguida pensei
nas guerras, enquanto continuava o escrutínio até contar todos os votos. E
Francisco é o homem da paz. E assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de
Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e
preserva a criação; neste tempo, também a nossa relação com a criação não é
muito boa, pois não? [Francisco] é o homem que nos dá este espírito de paz, o
homem pobre... Ah, como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres! Depois não
faltaram algumas brincadeiras... «Mas, tu deverias chamar-te Adriano, porque
Adriano VI foi o reformador; e é preciso reformar...». Outro disse-me: «Não! O
teu nome deveria ser Clemente». «Mas porquê?». «Clemente XV! Assim vingavas-te
de Clemente XIV que suprimiu a Companhia de Jesus!». São brincadeiras...
Amo-vos imensamente! Agradeço-vos por tudo o que fizestes. E, pensando no vosso
trabalho, faço votos de que possais trabalhar serena e frutuosamente, conhecer
cada vez melhor o Evangelho de Jesus Cristo e a realidade da Igreja. Confio-vos
à intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, Estrela da Evangelização. Desejo
o melhor para vós e vossas famílias, para cada uma das vossas famílias. E de
coração a todos concedo a minha bênção.
Obrigado.
Disse que de coração vos daria a minha bênção. Uma vez que muitos de vós não
pertencem à Igreja Católica e outros não são crentes, de coração concedo esta
bênção, em silêncio, a cada um de vós, respeitando a consciência de cada um,
mas sabendo que cada um de vós é filho de Deus, Que Deus vos abençoe!