quarta-feira, setembro 30, 2015

PELA NOITE, COM GONÇALVES DIAS: " NÃO ME DEIXES! "





NÃO ME DEIXES!


Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!

"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão;
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"



GONÇALVES DIAS


PAPA FRANCISCO NOS ESTADOS UNIDOS, ONDE PRONUNCIOU UM DISCURSO HISTÓRICO (Congresso dos Estados Unidos)










Um discurso inspirador, concreto e efusivamente aplaudido pelos deputados e senadores  foi inscrito na história pelo papa Francisco, quando da sua visita ao Congresso dos Estados Unidos, no passado dia 24, estruturado com base no exemplo de “sonho e luta” de “quatro filhos da América”, capazes de, ainda hoje orientar a trajetória do povo norte-americano.

Abraham Lincoln, Martin Luther King, Dorothy Day e Thomas Merton, cujos “sonhos e lutas” podem continuar a inspirar ainda hoje o povo norte-americano.

Abraham Lincoln: o sonho e a luta por um novo nascimento da liberdade:
A sua apaixonada defesa da liberdade é um alerta atual à “inquietante situação social e política do mundo hoje”, que continua sendo palco de “conflitos violentos, ódios e atrocidades brutais, cometidos inclusive em nome de Deus e da religião (…) Sabemos que nenhuma religião é imune às formas de engano individual e de extremismo ideológico (…) Precisamos de um delicado equilíbrio para combater a violência cometida em nome de uma religião, de uma ideologia ou de um sistema económico, protegendo, ao mesmo tempo, a liberdade religiosa, a liberdade intelectual e as liberdades individuais”.

É preciso evitar, para isto, “o reducionismo simplista que apenas distingue o bem ou o mal, justos e pecadores”. O resultado da polarização do mundo, da sociedade e das pessoas é a divisão: “Na tentativa de nos libertar do inimigo exterior, podemos alimentar o inimigo interior (…). Imitar o ódio e a violência dos tiranos e dos assassinos é a melhor maneira de acabar tornando-se igual a eles”.

Como agir, então? Cooperação: este é “um recurso poderoso na batalha para eliminar as novas formas globais de escravidão”, causadas por “graves injustiças” que só podem ser vencidas com uma política “ao serviço da pessoa humana” e não “da economia e das finanças”. “Toda a atividade política deve servir e promover o bem da pessoa humana e basear-se no respeito pela dignidade de cada um”. “O trabalho legislativo é sempre baseado no cuidado das pessoas”.

 Martin Luther King: o sonho e a luta pelos direitos civis e políticos plenos para todos:
Em 1965, Martin Luther King liderou a marcha de 25 mil manifestantes que pediam plenos direitos civis e políticos para os norte-americanos negros. “Aquele sonho continua a inspirar-nos”, disse o papa.

“Nós, os povos deste continente, não temos medo dos estrangeiros, porque muitos de nós fomos estrangeiros”. Francisco lembrou que os direitos “daqueles que estavam aqui muito antes de nós” foram despresados e avisou que o erro não se pode repetir: as novas gerações não podem “virar as costas ao seu próximo e para tudo o que nos rodeia”.

A “crise de refugiados, de proporções inéditas desde a Segunda Guerra Mundial, apresenta-nos grandes desafios e muitas decisões difíceis”: o fluxo imenso de pessoas em busca de melhores condições de vida não deve assustar-nos; temos que “vê-las como pessoas, olhando para o seu rosto, ouvindo as suas histórias” e respondendo de “modo justo, humano e fraterno”.

O papa defendeu então o fim da pena de morte. “Estou convencido de que este é o melhor caminho, porque toda vida é sagrada, toda pessoa humana tem uma dignidade inalienável e a sociedade só tem a se beneficiar com a reabilitação dos condenados”. (1)



Dorothy Day: o sonho e a luta pela justiça e pela causa dos oprimidos:
Fundou o Movimento Operário Católico e lutou pela inclusão social e económica dos mais vulneráveis, inspirando o papa Francisco a mencioná-la como exemplo para se fazer mais e para não se perder, no meio da crise económica, “o espírito de solidariedade global”.

A criação e distribuição da riqueza são cruciais para isto, assim como “o uso correto dos recursos naturais, a aplicação adequada da tecnologia e a capacidade de orientar o espírito empreendedor”. Igualmente, é preciso combater “os efeitos mais graves da degradação ambiental provocada pela atividade humana”.

Thomas Merton: o sonho e a luta pela paz entre os povos e religiões:
Este monge cisterciense foi “uma fonte de inspiração espiritual e um guia para muitas pessoas” na sua promoção do diálogo. Partindo do seu exemplo, Francisco elogiou “os esforços dos últimos meses para superar as diferenças históricas ligadas a dolorosos episódios do passado”.

Em menção ao embargo contra Cuba, o papa declarou que, “quando nações em desacordo retomam o caminho do diálogo, novas oportunidades se abrem para todos (…) O bom líder político é aquele que, pelo bem de todos, capta o momento com espírito de abertura e senso prático”.

O diálogo e a causa da paz também exigem “reduzir e, no longo prazo, acabar com os muitos conflitos armados em todo o mundo”. Com total clareza e indo direto ao ponto, Francisco indagou: “Por que são vendidas armas mortais para quem planeja causar sofrimentos incalculáveis a indivíduos e sociedades?”. E ele mesmo deu a corajosa resposta: “A resposta, como todos nós sabemos, é simplesmente o dinheiro. Um dinheiro encharcado de sangue, muitas vezes sangue inocente. Diante deste silêncio vergonhoso e culpável, temos o dever de encarar este problema e dar fim ao comércio de armas”.


Palavras finais:
A chave de ouro do discurso do papa Francisco no Congresso dos EUA foi a família, “essencial na construção deste país e merecedora do nosso apoio e incentivo! Mas eu não posso esconder a minha preocupação com a família, ameaçada hoje, talvez mais do que nunca, de dentro e de fora. Relações fundamentais são questionadas, assim como a própria base do matrimónio e da família. 

Eu só posso voltar a propor a importância e, principalmente, a riqueza e a beleza da vida familiar”.

Que esses “quatro indivíduos e quatro sonhos” continuem encorajando os Estados Unidos, exortou Francisco, para que “o maior número possível de jovens possa herdar e habitar uma terra que inspirou tantas pessoas a sonharem. Deus abençoe a América!”.


(1). Com mágoa profunda, li hoje na imprensa diária a seguinte notícia:
",,,As autoridades da Georgia, Estados Unidos da América, executaram na terça-feira passada, uma mulher condenada à pena capital pela morte do marido há 18 anos, após ter sido negado um pedido de clemência e de um apelo do papa Francisco.

Kelly Gissendaner, de 47 anos, morreu com uma injeção letal na prisão de Jackson, sudeste de Atlanta, tornando-se a primeira mulher a ser executada na Georgia desde 1945."








sábado, setembro 26, 2015

PELA NOITE, COM FERNANDO PESSOA: " QUINTO IMPÉRIO (Segundo)"




Segundo

O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar.
Sem que um sonho, no erguer da asa,
Faça até mais rubra a brasa,
 Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz,
Mais que a lição de raiz-
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem,
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem
Que as forças cegas se domem,
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será theatro, 
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Christandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda a edade.
Quem vem viver a verdade,
Que morreu D. Sebastião?


FERNANDO PESSOA



JOÃO PEDRO, UM ESCRITOR NOVO, MAS UM AMIGO ANTIGO!





Há uns tempos atrás, tive o prazer de publicitar, numa mensagem simples, o aparecimento de uma nova escritora, neste caso uma poetisa, no universo das letras. 
Vanda Catarino e o seu livro de poesia “Pérola Acesa”.
Agora, seguindo o exemplo de sua irmã, João Pedro estreia-se com uma obra em que usa uma linguagem desinibida, cheia de graça, para nos retratar a figura de Carlos, um “carlos”mais entre tantos outros neste nosso Portugal.
Umas palavras poucas e simples, para um amigo e mestre enorme: obrigada, João. Por ter sido o mestre, o amigo das lides informáticas sem as quais este blogue não existiria, mas sobretudo por ser a pessoa que é. Um Amigo.

Parabéns. 

Como sempre, lá estarei no lançamento em outubro, na Chiado Editora.

Abraço enorme e todos os êxitos !


Sinopse:

“Carlos é um rapaz típico de uma aldeia do interior. É tímido, discreto e pouco evoluído, fruto do ambiente em que vive. Ele só sabe o que é a vida rural e longe das cidades. Estas, são vistas como algo inatingível. Visitar uma, seria uma missão que lhe parece impossível de concretizar.”
 “– Porra, mas que cheirete que está para aqui… vou já fugir, quero lá saber que esteja cheio da tua merda… mas tu eras o esgoto lá da aldeia ou quê?! Nunca vi uma caganeira cheirar tão mal. Pode ser que algum artista de arte contemporânea pegue nisso e meta num museu.”

(Para saber mais, clique nas palavras escritas a encarnado)

Autor: João Pedro
Data de publicação: Outubro de 2015
Número de páginas: 146
ISBN: 978-989-51-4691-8
Colecção: Viagens na Ficção
Género: Ficção
€12,00   PAPEL
€3,00   EBOOK




sexta-feira, setembro 25, 2015

PELA NOITE, COM PABLO NERUDA: "GRITA"





GRITA


Amor, quando chegares à minha fonte distante,
cuida para que não me morda tua voz de ilusão:
que minha dor obscura não morra nas tuas asas,
nem se me afogue a voz em tua garganta de ouro.

Quando chegares, Amor
à minha fonte distante,
sê chuva que estiola,
sê baixio que rompe.

Desfaz, Amor, o ritmo
destas águas tranquilas:
sabe ser a dor que estremece e que sofre,
sabe ser a angústia que se grita e retorce.

Não me dês o olvido.
Não me dês a ilusão.
Porque todas as folhas que na terra caíram
me deixaram de ouro aceso o coração.

Quando chegares, Amor
à minha fonte distante,
desvia-me as vertentes,
aperta-me as entranhas.

E uma destas tardes — Amor de mãos cruéis —,
ajoelhado, eu te darei graças.



PABLO NERUDA
In Crepusculário, 1923





IMAGEM DO DIA, RECORDANDO NAT KING COLE:"AUTUMN LEAVES"





UMA VERGONHA QUE INFELIZMENTE SE REPETE!





Praxes violentas no Algarve. Alunos humilhados e enterrados na areia.
A família pede que sejam apuradas responsabilidades 



PELA TARDE, CELEBRANDO O OUTONO COM FLORBELA ESPANCA: " RUÍNAS"











RUÍNAS


Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!



E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!



Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!



Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!... Deixa-os tombar... deixa-os tombar...




FLORBELA ESPANCA



quarta-feira, setembro 23, 2015

À NOITINHA, COM JOAQUIM PESSOA: "SE AO MENOS SOUBESSES TUDO O QUE EU NÃO DISSE..."






SE AO MENOS SOUBESSES TUDO O QUE EU NÃO DISSE…


Se ao menos soubesses tudo o que eu não disse
ou se ao menos me desses as mãos como quem beija
e não partisses, assim, empurrando o vento
com o coração aflito, sufocado de segredos;
se ao menos percebesses que eram nossos
todos os bancos de todos os jardins;
se ao menos guardasses nos teus gestos essa
bandeira de lirismo
que ambos empunhamos na cidade clandestina.
Quando as manhãs cheiravam a óleo e a flores ...
e o inverno espreitava ainda nos esquinas como uma
criança tremendo;
se ao menos tivesse quebrado o riso frio dos espelhos
onde o teu rosto se esconde no meu rosto
e a minha boca lembra a tua despedida,
talvez que, hoje, meu amor, eu pudesse esquecer
essa cor perdida nos teus olhos.



JOAQUIM PESSOA




PELA NOITE, COM ALBERTO CAEIRO (Het. de FERNANDO PESSOA): "A MENTIRA ESTÁ EM TI"





 A MENTIRA ESTÁ EM TI


"Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"

"Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"

"Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram."

"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."


ALBERTO CAEIRO
Heterónimo de Fernando Pessoa.
in "O Guardador de Rebanhos - Poema X"



domingo, setembro 20, 2015

O "NOSSO" PAPA FRANCISCO EM CUBA, NUMA PEREGRINAÇÃO MAIS PELA PAZ E AMOR MUNDIAIS...




O papa Francisco chegou este sábado a Cuba, primeira etapa de uma viagem que o levará também aos Estados Unidos, os dois países que contaram com o seu apoio para restabelecerem relações diplomáticas.
Segundo Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, à chegada a Havana,  cidade onde inicia uma visita de quatro dias à ilha de Cuba, Francisco foi saudado nas ruas de Havana por cerca de cem mil pessoas. 
Tendo ainda instado Cuba e os Estados Unidos "a avançarem" na normalização das relações bilaterais e a "desenvolverem todas as suas potencialidades",  o Papa Francisco declarou: 

"O mundo precisa de reconciliação nesta atmosfera de terceira guerra mundial que estamos a viver, somos testemunhas de um acontecimento que nos enche de esperança: o processo de normalização das relações entre os dois países, depois de anos de distanciamento. É um processo, um sinal da vitória da cultura do encontro, do diálogo”. 

Antes do discurso do papa, o Presidente de Cuba agradeceu a Francisco o seu apoio no restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos

“Um primeiro passo no processo de normalização das relações entre os países que permitirá resolver problemas e reparar injustiças. O bloqueio, que provoca danos humanos e privações às famílias cubanas, é cruel, imoral e ilegal. Deve cessar”, disse Raúl Castro, no discurso proferido logo à chegada do papa ao aeroporto de Havana.


Francisco iniciou assim uma das viagens mais longas e delicadas do pontificado, que o levará à praça da Revolução, em Havana, ao Congresso dos Estados Unidos, em Washington, e à ONU em Nova Iorque.

O papa foi recebido em casa de Fidel Castro, em Havana, num “ambiente muito familiar e informal”, tendo o encontro durado cerca de quarenta minutos na presença de vários familiares do líder histórico de Cuba, afirmou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
No encontro, Francisco e Fidel Castro falaram sobre vários temas da atualidade, em particular sobre o meio ambiente, e houve troca de ofertas literárias.
O papa Francisco ofereceu a Fidel Castro um livro sobre a relação entre humor e religião e a encíclica “Laudato si”, sobre o meio ambiente, e recebeu a obra “Fidel y la religión”, com uma entrevista que o teólogo brasileiro Frei Betto lhe fez em 1985.

Com uma agenda muito carregada, o papa argentino, de 78 anos, vai pronunciar 26 discursos: oito em Cuba e 18 nos Estados Unidos.
Até terça-feira, o papa estará em Cuba, com passagens por Havana, Holguin e Santiago, para encontros com jovens, famílias, bispos e o líder histórico do regime Fidel Castro.

Três visitas papais em 17 anos mostram a atenção excecional do Vaticano a este país, onde o regime e a Igreja católica se congratulam com o apoio do papa à normalização das relações diplomáticas com os Estados Unidos.
O avião papal levará diretamente Francisco de Havana à base militar de Andrews, em Washington, onde será recebido pelo presidente Barack Obama.
Nos Estados Unidos, os dois momentos mais esperados serão os discursos, em inglês, no Congresso, em Washington e em espanhol na assembleia-geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Ainda em Washington, Francisco vai canonizar o missionário espanhol Junipero Serra, que participou no século XVIII na evangelização da Califórnia (costa oeste).

Em Nova Iorque, o papa vai presidir no “Ground Zero” a uma cerimónia inter-religiosa contra o terrorismo e em memória das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001. Na última etapa, em Filadélfia (Pensilvânia), Jorge Bergoglio vai presidir ao encerramento do oitavo Encontro Mundial das Famílias católicas. Cerca de dois milhões de pessoas são esperadas para a missa final, ao ar livre, de acordo com as previsões da organização. 

Bem haja, Papa Francisco, por mais esta peregrinação pela paz, amor e renovação. Obrigada.










À TARDINHA, COM DAVID MOURÃO-FERREIRA





ESCADA SEM CORRIMÃO


É uma escada em caracol
e que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
mas nunca passa do chão.

Os degraus, quanto mais altos,
mais estragados estão.
Nem sustos, nem sobressaltos
servem sequer de lição.

Quem tem medo não a sobe
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
o lastro do coração.

Sobe-se numa corrida.
Correm-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
a escada sem corrimão.



DAVID MOURÃO-FERREIRA






quinta-feira, setembro 17, 2015

À NOITINHA, COM PABLO NERUDA: "NÃO O QUERO, AMADA"






NÃO O QUERO, AMADA

Não o quero, amada.
Para que nada nos prenda
para que não nos una nada.
Nem a palavra que perfumou tua boca
nem o que não disseram as palavras.
Nem a festa de amor que não tivemos
nem teus soluços junto à janela...


PABLO NERUDA


terça-feira, setembro 15, 2015

PELA NOITE, COM PABLO NERUDA: "VEM COMIGO"






VEM COMIGO


“bem vale ter vivido se o amor me acompanha.”



Em minha pátria há um monte.
Corre em minha pátria um rio.

Vem comigo.

A noite sobe ao monte.
A fome desce o rio.

Vem comigo.

Quem são os que padecem?
Não sei, sei que são meus:

Vem comigo.

Não sei, porém me chamam
e me dizem: “Sofremos.”

Vem comigo.

E me dizem: “Teu povo,
teu povo deserdado,
entre o monte e o rio,

com fome e com dores,
não quer lutar sozinho,
te está esperando, amigo.”

Oh tu, a que amo,
pequena, grão vermelho
de trigo,
a luta será dura,
a vida será dura,
mas tu virás comigo.



PABLO NERUDA
(1904-1973)




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