quarta-feira, setembro 30, 2015

PAPA FRANCISCO NOS ESTADOS UNIDOS, ONDE PRONUNCIOU UM DISCURSO HISTÓRICO (Congresso dos Estados Unidos)










Um discurso inspirador, concreto e efusivamente aplaudido pelos deputados e senadores  foi inscrito na história pelo papa Francisco, quando da sua visita ao Congresso dos Estados Unidos, no passado dia 24, estruturado com base no exemplo de “sonho e luta” de “quatro filhos da América”, capazes de, ainda hoje orientar a trajetória do povo norte-americano.

Abraham Lincoln, Martin Luther King, Dorothy Day e Thomas Merton, cujos “sonhos e lutas” podem continuar a inspirar ainda hoje o povo norte-americano.

Abraham Lincoln: o sonho e a luta por um novo nascimento da liberdade:
A sua apaixonada defesa da liberdade é um alerta atual à “inquietante situação social e política do mundo hoje”, que continua sendo palco de “conflitos violentos, ódios e atrocidades brutais, cometidos inclusive em nome de Deus e da religião (…) Sabemos que nenhuma religião é imune às formas de engano individual e de extremismo ideológico (…) Precisamos de um delicado equilíbrio para combater a violência cometida em nome de uma religião, de uma ideologia ou de um sistema económico, protegendo, ao mesmo tempo, a liberdade religiosa, a liberdade intelectual e as liberdades individuais”.

É preciso evitar, para isto, “o reducionismo simplista que apenas distingue o bem ou o mal, justos e pecadores”. O resultado da polarização do mundo, da sociedade e das pessoas é a divisão: “Na tentativa de nos libertar do inimigo exterior, podemos alimentar o inimigo interior (…). Imitar o ódio e a violência dos tiranos e dos assassinos é a melhor maneira de acabar tornando-se igual a eles”.

Como agir, então? Cooperação: este é “um recurso poderoso na batalha para eliminar as novas formas globais de escravidão”, causadas por “graves injustiças” que só podem ser vencidas com uma política “ao serviço da pessoa humana” e não “da economia e das finanças”. “Toda a atividade política deve servir e promover o bem da pessoa humana e basear-se no respeito pela dignidade de cada um”. “O trabalho legislativo é sempre baseado no cuidado das pessoas”.

 Martin Luther King: o sonho e a luta pelos direitos civis e políticos plenos para todos:
Em 1965, Martin Luther King liderou a marcha de 25 mil manifestantes que pediam plenos direitos civis e políticos para os norte-americanos negros. “Aquele sonho continua a inspirar-nos”, disse o papa.

“Nós, os povos deste continente, não temos medo dos estrangeiros, porque muitos de nós fomos estrangeiros”. Francisco lembrou que os direitos “daqueles que estavam aqui muito antes de nós” foram despresados e avisou que o erro não se pode repetir: as novas gerações não podem “virar as costas ao seu próximo e para tudo o que nos rodeia”.

A “crise de refugiados, de proporções inéditas desde a Segunda Guerra Mundial, apresenta-nos grandes desafios e muitas decisões difíceis”: o fluxo imenso de pessoas em busca de melhores condições de vida não deve assustar-nos; temos que “vê-las como pessoas, olhando para o seu rosto, ouvindo as suas histórias” e respondendo de “modo justo, humano e fraterno”.

O papa defendeu então o fim da pena de morte. “Estou convencido de que este é o melhor caminho, porque toda vida é sagrada, toda pessoa humana tem uma dignidade inalienável e a sociedade só tem a se beneficiar com a reabilitação dos condenados”. (1)



Dorothy Day: o sonho e a luta pela justiça e pela causa dos oprimidos:
Fundou o Movimento Operário Católico e lutou pela inclusão social e económica dos mais vulneráveis, inspirando o papa Francisco a mencioná-la como exemplo para se fazer mais e para não se perder, no meio da crise económica, “o espírito de solidariedade global”.

A criação e distribuição da riqueza são cruciais para isto, assim como “o uso correto dos recursos naturais, a aplicação adequada da tecnologia e a capacidade de orientar o espírito empreendedor”. Igualmente, é preciso combater “os efeitos mais graves da degradação ambiental provocada pela atividade humana”.

Thomas Merton: o sonho e a luta pela paz entre os povos e religiões:
Este monge cisterciense foi “uma fonte de inspiração espiritual e um guia para muitas pessoas” na sua promoção do diálogo. Partindo do seu exemplo, Francisco elogiou “os esforços dos últimos meses para superar as diferenças históricas ligadas a dolorosos episódios do passado”.

Em menção ao embargo contra Cuba, o papa declarou que, “quando nações em desacordo retomam o caminho do diálogo, novas oportunidades se abrem para todos (…) O bom líder político é aquele que, pelo bem de todos, capta o momento com espírito de abertura e senso prático”.

O diálogo e a causa da paz também exigem “reduzir e, no longo prazo, acabar com os muitos conflitos armados em todo o mundo”. Com total clareza e indo direto ao ponto, Francisco indagou: “Por que são vendidas armas mortais para quem planeja causar sofrimentos incalculáveis a indivíduos e sociedades?”. E ele mesmo deu a corajosa resposta: “A resposta, como todos nós sabemos, é simplesmente o dinheiro. Um dinheiro encharcado de sangue, muitas vezes sangue inocente. Diante deste silêncio vergonhoso e culpável, temos o dever de encarar este problema e dar fim ao comércio de armas”.


Palavras finais:
A chave de ouro do discurso do papa Francisco no Congresso dos EUA foi a família, “essencial na construção deste país e merecedora do nosso apoio e incentivo! Mas eu não posso esconder a minha preocupação com a família, ameaçada hoje, talvez mais do que nunca, de dentro e de fora. Relações fundamentais são questionadas, assim como a própria base do matrimónio e da família. 

Eu só posso voltar a propor a importância e, principalmente, a riqueza e a beleza da vida familiar”.

Que esses “quatro indivíduos e quatro sonhos” continuem encorajando os Estados Unidos, exortou Francisco, para que “o maior número possível de jovens possa herdar e habitar uma terra que inspirou tantas pessoas a sonharem. Deus abençoe a América!”.


(1). Com mágoa profunda, li hoje na imprensa diária a seguinte notícia:
",,,As autoridades da Georgia, Estados Unidos da América, executaram na terça-feira passada, uma mulher condenada à pena capital pela morte do marido há 18 anos, após ter sido negado um pedido de clemência e de um apelo do papa Francisco.

Kelly Gissendaner, de 47 anos, morreu com uma injeção letal na prisão de Jackson, sudeste de Atlanta, tornando-se a primeira mulher a ser executada na Georgia desde 1945."








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