segunda-feira, outubro 31, 2011

MIGUEL TORGA ( ADOLFO COELHO DA ROCHA,1907-1995) - Apontamento de Poesia Contemporânea (Parte V)



Nasci subversivo.
A começar por mim, meu principal
motivo de insatisfação...(Orfeu Rebelde-1958)



Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Coelho da Rocha, nasceu em São Martinho da Anta a 12 de agosto de 1907, e faleceu em Coimbra a 17 de janeiro de 1955. Destacou-se como poeta, contista e memoralista, mas também escreveu romances, peças de teatro e ensaios.

Terras de Trás-os-Montes, por onde passeava Miguel Torga

Aos 27 anos, Adolfo Correia da Rocha cria o pseudónimo "Miguel" e "Torga". Miguel em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é uma planta bravia da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo. É esta planta, a torga, plantada em honra do poeta, que acompanha a singela sepultura de Miguel Torga, uma campa rasa, em São Martinho da Anta. Miguel Torga veio a falecer em consequência de um cancro que pôs termo à sua atividade literária a partir do ano de 1994.

Proveniente de uma família humilde, Miguel Torga teve uma infância rural dura, que lhe deu a conhecer a realidade do campo, sem bucolismos, feita do trabalho árduo e contínuo. Após uma breve passagem pelo seminário de Lamego, emigrou com 13 anos para o Brasil, onde durante cinco anos trabalhou na fazenda de um tio, em Minas Gerais, como cortador de relva, apanhador de café, vaqueiro e caçador de cobras. De regresso a Portugal, em 1925, concluiu o ensino liceal  e frequentou em Coimbra o curso de Medicina, que terminou em 1933.

Casa onde nasceu Miguel Torga, São Martinho da Anta.

Exerceu a profissão de médico em São Martinho da Anta e noutras localidades do país, fixando-se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941. Ligado inicialmente ao grupo da revista Presença, desligou-se dele em 1930, fundando nesse mesmo ano, com Branquinho da Fonseca (outro dissidente), a Sinal, da qual apenas saiu um número. Em 1936, lançou outra revista, Manifesto, também de curta duração.

A sua saída da Presença reflete uma característica fundamental da sua personalidade literária, uma individualidade veemente e intransigente, que o manteve afastado, por toda a vida, de escolas literárias e mesmo do contacto com os círculos culturais do meio português. A esta intensa consciência individual aliou-se, no entanto, uma profunda afirmação da sua pertença à natureza humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças que oprimam a energia viva e a dignidade do homem, sejam elas as tiranias políticas ou o próprio Deus.

Memorial a Miguel Torga, em Coimbra

Miguel Torga, tendo como homem a experiência dos sofrimentos da emigração e da vida rural, do contacto com a miséria e com a morte, tornou-se o poeta do mundo rural, das forças telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na luta dramática contra as leis que o aprisionam. Nessa revolta consiste a missão do poeta, que se afirma tanto na violência com que acusa a tirania divina e terrestre, como na ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a todas as criaturas no seu sofrimento. Mas essa revolta, por outro lado, não corresponde a uma falta de religião ou recusa de transcendência.

A sua obra, recheada de simbologia bíblica, encontra-se, antes, imersa num sentido divino que transfigura a natureza e dignifica o homem no seu desafio ou no seu desprezo face ao divino. A ligação à terra, à região natal, a Portugal, à própria Península Ibérica e às suas gentes, é outra constante dos textos do autor. Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Portugal e Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, pela rudeza e pobreza dos meios naturais, pelo movimento de expansão e opressões da história, e por certas características humanas definidoras da sua personalidade. A intervenção cívica de Miguel Torga, na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos crimes da guerra civil espanhola e de Franco,
valeu-lhe a apreensão de algumas das suas obras pela censura e, mesmo, a prisão pela polícia política portuguesa.

Sepultura  do poeta, em São Martinho da Anta,
ladeada pela planta homónima de Miguel Torga.

Contista exímio, romancista, ensaísta, dramaturgo, autor de mais de 50 obras publicadas desde os 21 anos, estreou-se em 1928 com o volume de poesia Ansiedade. Também, em poesia, publicou, entre outras obras, Rampa (1930), O Outro Livro de Job (1936), Lamentação (1943), Nihil Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Alguns Poemas Ibéricos (1952), Penas do Purgatório (1954) e Orfeu Rebelde (1954).Na ficção em prosa, escreveu Pão Àzimo (1931), Criação do Mundo. Os Dois Primeiros Dias (1937), obra de fundo autobiográfico, continuada em O Terceiro Dia da Criação do Mundo (138), O Quarto Dia da Criação do Mundo (1939), O Quinto Dia da Criação do Mundo (1974), O Sexto Dia da Criação do Mundo (1981), Bichos (1940), Contos da Montanha(1941), O Senhor Ventura (1943, romance), Novos Contos da Montanha (1944), Vindima (1945), e Fogo Preso (1976).

É ainda autor de peças de teatro (Terra Firme e Mar, 1941; O Paraíso,1949; e Sinfonia, poema dramático, 1947) de volumes de impressões de viagens (Portugal, 1950; Traço de União, 1955) e de um Diário em dezasseis volumes, publicado entre 1941 e 1944. Notável pela sua técnica narrativa no conto, pela expressividade da sua linguagem, frequentemente de cunho popular, mas de uma força clássica, fruto de um trabalho intenso da palavra, conseguiu conferir aos seus textos um ritmo vigoroso e original, a que associa um uso da imagem extremamente vivo e sugestivo.

Por várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram-lhe atribuídos, entre outros, o Prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional da Poesia (1977), o Prémio Montaigne (1981), o Prémio Camões (1989), o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prémio Crítica,  consagrando a sua obra (1993). Em 2000, é publicado Poesia Completa. 

Miguel Torga foi, ainda, proposto várias vezes para o Nobel da Literatura.
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Algumas citações de Miguel Torga:

"Os homens são como as obras de arte: é preciso que se não entenda tudo delas duma só vez." (Diário,1943).

"O mundo é uma realidade universal, desarticulada em biliões de realidades individuais" (Diário, 1938).

"Quanto maior é um romance ou um poema, mais a sua magia nos separa da mão de barro que o escreveu" (Diário, 1940).

"Nas duas grandes horas da vida  - o nascer e o morrer - o homem bebe sozinho o seu cálice. No trajeto entre os dois pólos, acobardado pela maior consciência da espessura da bruma, arregimenta amigos e companheiros. Mas a sua unidade é ele. Mesmo que consiga ter à volta a maior multidão - vai só." (Diário, 1946).
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Poemas de Miguel Torga:

Liberdade
1-Liberdade
2- Quase um Poema de Amor
3-Nau Catrineta
4-Aqui, Diante de Mim
- Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

- Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
- Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
                          ( In DiárioXII)

Quase um poema de amor:
Há muito tempo já não escrevo um poema
De amor.
E é o que sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
            (In DiárioV)

Nau Catrineta:
"Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar.
Ouvi, agora Senhores,
Uma história de pasmar..."
A Mãe correu à varanda,
Bem longe de imaginar
Que o alarme desejado
Vinha dum cego a cantar:
"Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar,
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar..."
A Mãe abriu num soluço
O coração a sangrar,
Porque a sola era tão rija
Que a não podiam tragar...
"Deitam sortes à ventura
Qual se havia de matar".
(A Mãe tinha pão na arca
E não lho podia dar!)
"Logo foi cair a sorte..."
(Que sorte tão singular!).
O gageiro olhava, olhava,
Mas só via céu e mar...
"Alvíssaras,Capitão..."
E o vento a enrodilhar
A voz do homem da gávea
Na do ceguinho a cantar!
"A minha alma é só de Deus,
O corpo dou-o eu ao mar..."
A Mãe que nada podia,
Já só podia rezar...
"Deu um estoiro o demónio,
Acalmaram vento e mar."
E quando o cego acabou
Estavam em terra a varar...
                      

Aqui,diante de mim:
Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.

Me confesso
O dono das minhas horas
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima.
E abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!
                  (In Livro das Horas)




sexta-feira, outubro 28, 2011

MUNDO DOS DINOSSAUROS - Cordoaria Nacional






Extintos há milhões de anos, pelas diferentes catástrofes ambientais e em diferentes períodos, os dinossauros dominaram o planeta como criaturas imponentes e demolidoras. Os primeiros fósseis descobertos no século XIX pelos paleontólogos, permitiram reunir esqueletos completos que hoje integram as mais ricas coleções de muitos museus de todo o mundo. A sua existência e a sua extinção, têm dado, ao longo dos tempos, origem às mais diversas e lendárias especulações.

Os dinossauros constituem uma superordem de membros de arcossauros referente ao final do período Triássico (cerca de 225 milhões de anos atrás) e dominante da fauna terrestre, durante boa parte da era Mezosóica, do início do Jurássico até ao final do período Cretácico (cerca de 65 milhões de anos), quando da extinção de quase todas as linhagens, à excepção das aves - entendido por muitos cientistas, como os únicos representantes atuais.

Os diferentes Períodos Jurássicos e respetivas espécies de Dinossauros

Distinguem-se de outros arcossauros por um conjunto de caracteríscas anatómicas, entre as quais se destacam a posição dos membros em relação ao corpo - projetados diretamente para baixo - e o acetábulo (encaixe do fémur na região da bacia) aberto, isto é, o fémur encaixa-se num orifício formado pelos ossos da bacia. A etimologia da palavra remete ao grego "déinos", terrivelmente grande, "saorós", lagarto, e por extensão, réptil.

O filme de Steven Spielberg "Parque Jurássico", com o seu enorme sucesso, em muito contribuiu para a divulgação da magia destes seres jurássicos, estimulando as imaginações com a história real destes animais pré-históricos, extintos há 65 milhões de anos.

Zonas do Glodo Terrestre, povoadas por Dinossauros ( Natural History Museum, Nova Iorque)

A Cordoaria Nacional em Lisboa, abre, agora, as suas portas para acolher a exposição "O Mundo dos Dinossauros", de 22-10 a 01-01-2012, exposição que além de ter percorrido uma boa parte do mundo, já esteve entre nós na cidade do Funchal e na de Guimarães, sempre com um sucesso enorme. Trata-se de uma monumental exposição didática, para toda a família, a preços francamente apelativos para todos e também para grupos organizados.

"O Mundo dos Dinossauros" mostra, para além das várias espécies de dinossauros - feitos à escala real -, também os ambientes onde estes viveram. Pode-se ver, bem e perto, os répteis do Parque Jurássico, como o assustador T-Rex. Mas também eles podem reagir à nossa presença, com movimentos e som...

Tiranossauro-Rex,  Dilofossauro,  T- Rex,  Triceratops, presentes no "Mundo dos Dinossauros".

Este "Mundo dos Dinossauros" divide-se nas seguintes áreas, distintas:
  • Estúdio de cinema, onde são projetados vídeos e documentários impressionantes, sobre os dinossauros.
  • Galeria de Fósseis, aqui o visitante é recebido num cenário de escavação paleontológica, numa recriação fantástica do ambiente de laboratório e trabalho de campo de um paleontologista. Neste espaço é apresentado o fóssil de um Yangchaurus com 10 metros.
  • Exposição de Dinossauros, com cenários que recriam florestas, desertos, bordas de rio, cascatas e zonas de floresta densa, numa conjugação de elementos e despertar dos sentidos. As figuras reagem com movimento e som à presença dos visitantes, o que torna esta visita mais dinâmica e interactiva.
  • Zonas de Apoio, com loja de merchandising e espaço de diversão suplementar, onde os mais jovens são convidadas a interagir. 

Por entre florestas, bosques e desertos, o público vai poder descobrir os temíveis répteis Velociraptors, Oviraptor e o T-Rex, ou ainda o mais simpático Braquiossauro...





quarta-feira, outubro 26, 2011

IL DIVO NO LONDON COLISEUM - WICKED GAME



Estreia mundial de Wicked Game
no London Coliseum 



WICKED GAME:






DIA DE TODOS OS SANTOS - 1 de Novembro de 2011






Evangelho segundo São Mateus ( 5, 1-12 ):

Ao ver a multidão, Jesus subiu a um monte. Depois de se ter sentado, os discípulos aproximaram-se d'Ele. Então, tomou a palavra e começou a ensiná-los, dizendo:


São Mateus (Caravaggio)

Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino do Céu.
Felizes os que choram, porque serão consolados.
Felizes os mansos, porque possuirão a Terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Felizes os puros de coração, porque verão Deus.
Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu.
Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por Minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam.

No dia 1 de novembro, a Igreja Católica celebra a Festa do Dia de Todo os Santos, festa de todos os cristãos que se encontram na glória de Deus, tenham ou não sido canonizados e que também se comprometeram, de maneira radical, com os seus semelhantes. Por isso, nesta Festa, todo o Povo cristão é convidado a entrar em comunhão com Deus e com todo o Homem de boa vontade.


Evangelho Segundo São Mateus

Como Jesus de Nazaré, somos convidados a fazer da nossa vida uma Eucaristia, uma oferenda viva. Na Igreja antiga, os santos eram entregues às chamas, às feras, às torturas cruéis. Hoje, também milhares de justos são entregues à morte, são torturados pela fome, pelo desemprego, pela doença, e silenciados pela repressão, pela intimidação, pelas ameaças de morte dos que se julgam senhores deste mundo.

Mas é nas entranhas dos que sofrem, dos aflitos, dos esquecidos, que germinam, nascem e dão fruto as sementes do Evangelho de Jesus Cristo. Assim, desta maneira, esta é também a Festa dos justos dos nossos dias, uma enorme multidão cujo testemunho vivo é fonte perene de renovação para a Igreja.

Em Portugal, no Dia de Todos os Santos, é tradição as crianças saírem à rua em pequenos grupos, para pedir o "Pão-por-Deus", de porta em porta. Quando pedem o Pão-por-Deus, as crianças recitam versos e recebem uma oferta, em troca: pão, broa, bolos, romãs, frutos secos, nozes, castanhas ou amendoas, que guardam nos seus tradicionais saco de pano. Em algumas regiões, é também usual os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Daí este dia também ser conhecido, em certas povoações, como o "Dia dos Bolinhos".


Pão-por-Deus

 A tradição é atribuída à grande fome que aconteceu em Lisboa, como consequência da grande catástrofe do Terramoto de 1755, e que levou milhares de pessoas da população,  agora ainda mais pobre, a pedir de porta em porta. Infelizmente este costume de pedir o Pão-por-Deus tem vindo a desaparecer, substituído por outras comemorações mais novas e importadas de outras culturas, como o Halloween.

Bem falta faz, nestes tempos de carências e de grande crise, sempre bem mais severa para quem menos tem...







Lá vai o meu coração
Sózinho, sem mais ninguém.
Vai pedir o Pão-por-Deus
A quem quero tanto bem...
( Quadra popular)


domingo, outubro 23, 2011

ARTE EQUESTRE NO CAMPO PEQUENO - Gala Hípica ArtEquestre








O esplendor da Arte Equestre, mostra-se no Campo Pequeno. Uma gala hípica de excepção, durante a qual se assistirá à simbiose exemplar entre o equitador e cavalo, numa arte que já tem séculos de tradição e história.
Escola Cadre Noir de Saumur, França.

Depois do êxito obtido no pavilhão Atlântico em 2004, as três Academias de Arte Equestre vão voltar a reunir-se em Lisboa num espectáculo no Campo Pequeno.

Por ocasião do 25.º aniversário da Escola Portuguesa de Arte Equestre, decorria então o ano de 2004, as três Academias, Cadre Noir de Saumur (França), a Real Escuela de Arte Ecuestre (Espanha) e a nossa Escola Portuguesa de Arte Equestre proporcionaram um espetáculo inesquecível a todos os presentes no pavilhão Atlântico em Lisboa, e que se espera repitam no próximo dia 5, no Campo Pequeno.
Escola Portuguesa de Arte Equestre, Portugal.

Trata-se sem dúvida, de poder assistir à exibição conjunta de três das mais famosas Escolas de Equitação de todo o mundo num programa próprio, elaborado especialmente para este grande espetáculo.

Num projeto conjunto dos especialistas Filipe Figueiredo (Graciosa), Jean-Michel Poisson  e Alain Laurioux, com a música e a coreografia a terem lugar de relevo, serão apresentados números individuais e conjuntos das três célebres escolas.

Por obra dos mestres de equitação, em interpretação do Cavalo Lusitano e seus pares, momentos extraordinários da conjunção entre cavalo e cavaleiro serão vividos, dos quais são meros exemplos a "capriola", a "levada" e a "corveta", nos movimentos individualizados.

Nas demonstrações em grupo, poderemos admirar o "carrossel", o "pas de trois" ou os "ares altos".
Real Escuela de Arte Ecuestre, Espanha


Espectacularidade, história, tradição, rigor, e perfeição num programa inolvidável.


Espectáculo recomendado para toda a família.Lá estarei com a minha, se Deus quiser.















sábado, outubro 22, 2011

"A PERSPECTIVA DAS COISAS - A NATUREZA MORTA NA EUROPA" - Museu Calouste Gulbenkian



Girassóis-Claude Monet (1840-1926), Telefone Afrodisíaco Branco-Salvador Dali (1904-1988),
O Retrato--René Magritte (1898-1967), Maçãs e Laranjas-Paul Cézanne (1839-1906).



Raramente Lisboa tem a oportunidade de apreciar uma exposição de pintura tão qualificada e monumental como esta. Acontece de vez em quando. Agora, o museu Calouste Gulbenkian põe à disposição dos lisboetas, uma vasta coleção de obras dos mais famosos pintores, como Picasso, Van Gogh, Dali, Matisse Cezanne, Monet, Gauguin, que estarão representados através de obras de referência.
Pote de Gengibre e Beringelas-Paul Cézanne (1839-1906)

Esta exposição, que se manterá desde 21 de outubro de 2011 até 8 de janeiro de 2012, é uma continuidade da exposição apresentada em 2010 sobre o tema da natureza-morta na Europa. Esta segunda parte será dedicada à modernidade do século XIX  e às alterações fundamentais ocorridas na primeira metade do século XX.

A renovação do interesse pela natureza-morta, por parte dos artistas da vanguarda francesa, será documentada através de obras dos Realistas e também da da nova linguagem do Impressionismo. Em exposição estará uma peça-chave desta contexto, a Natureza-Morta de Claude Monet, que faz parte das coleções do Museu Calouste Gulbenkian. A natureza-morta foi, no final do século XIX, tema que interessou de sobremaneira os pintores Pós-Impressionistas como Cézanne, Van Gogh e Gauguin, que estarão representados através de obras de referência.

Jarro, Taça e Limão-Pablo Picasso (1881-1973)

A exposição demonstrará como a natureza-morta, enquanto género pictórico, se transformou em veículo de uma experimentação ainda mais radical com Picasso, Braque e Matisse. Poder-se-á entender como permitiu a alguns artistas um olhar reflexivo sobre a sociedade contemporânea, enquanto outros se envolveram nas novas realidades da experiência subjetiva, como é o caso de Magritte e Dalí. A fragmentação e reinvenção da própria categoria de natureza-morta serão exploradas através da amostragem de peças escultóricas ou objectos de uso corrente transformados em obras de arte.

Esta é a viagem que nos é proposta através dos vário tempos e geografias da natureza-morta na pintura ocidental, ilustrada com obras maiores dos autores que mais reflectiram sobre este género. A natureza-morta foi sem dúvida pretexto para as indagaões dos pintores e é hoje motivo de fascínio para o público em geral.

A exposição será comissariada por Neil Cox, Professor da Universidade de Essex, especialista em arte francesa do século XX, com tese de doutoramento sobre Picasso e uma vasta obra publicada.


Pessoalmente, conto deslocar-me lá, já na próxima semana...







sexta-feira, outubro 21, 2011

FIM DE UMA DITADURA - Morte de Muammar Kadhafi




Afinal Kadhafi, de 69 anos, não andava fugido pelo sul da Líbia nem estava refugiado junto à fronteira com a Argélia, como o próprio Conselho de Transição julgava. Estava na sua cidade natal, último bastião das forças que lhe eram leais e refúgio provável, mas menosprezado pelas autoridades líbias, por ser tão óbvio. Foi junto aos seus que  Kadhafi tentou resistir à mudança inevitável e foi ali que a mudança o apanhou.
Local onde se escondeu Kadhfi, perto de Sirte

No fim da madrugada de ontem, perante a queda iminente da cidade, tentou fugir. Uma coluna armada com cerca de quinze veículos deixou Sirte rumo a oeste, mas tinha percorrido pouco mais de 3 quilómetros, quando foi detetada por aviões franceses da NATO.

A coluna foi bombardeada e os poucos sobreviventes, incluindo Kadhafi, ferido nas pernas, procuraram refúgio em dois túneis de escoamento de águas, debaixo de uma auto-estrada. Foi ali que os rebeldes os encontraram, pouco depois.

Após um forte tiroteio, os poucos guardas que restavam foram mortos e o ditador foi capturado, de pistola na mão e a pedir clemência. Baleado no abdómen, foi metido numa carrinha e levado para Sirte, onde foi manietado e espancado por combatentes rebeldes, antes de ser executado, ao que tudo indica, com um tiro na têmpora esquerda.
Corpo de Muammar Kadhfi

O Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia ainda não decidiu o destino dar ao cadáver do ex-líder  Muammar Kadhafi. Apesar da lei islâmica indicar que o funeral deve ocorrer o mais depressa possível, o funeral pode ser adiado por alguns dias. "Disse-lhes para guardarem (o corpo) numa câmara frigorífica durante alguns dias, para garantir que todos saibam que está morto", afirmou o ministro do petróleo, Ali Tarhouni, adiantando que ainda que não está marcada qualquer data para o enterro.

O corpo de Kadhafi foi transportado para Misrata. A ONU pretende abrir um inquérito para esclarecer como o ex-líder líbio foi morto. "As circunstâncias não são claras. Pensamos que é necessário abrir um inquérito" afirmou o porta-voz do alto comissariado, Rupert Colville, referindo-se à confusão causada pela existência de um video em que Kadhafi aparece vivo entre os rebeldes.

A morte de Muammar Kadhafi termina uma era na Líbia e põe fim à vida de um dos governantes mais excêntricos do mundo árabe, o que não o impediu de receber e ser recebido ao longo das décadas, por estadistas de todo o mundo. 
Kadhafi com alguns líderes europeus

Mas alguns deles, como Sarkozy, apoiaram as forças que o derrubaram.

Imagens divulgadas pela al-Jazeera mostram o corpo ensanguentado a ser arrastado pelas ruas da cidade de Sirte, na humilhação final daquele que um dia  quis ser o "Rei dos Reis" de África".  





terça-feira, outubro 18, 2011

JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS (1937- 1984), Poeta da Revolução - Apontamento de Poesia Contemporânea (Parte IV)






E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém,
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu,
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

 




Proveniente de uma família da alta burguesia, José Carlos Pereira Ary dos Santos, de linhagem aristocrata, era filho do reputado médico Carlos Ary dos Santos e de Maria Bárbara Pereira da Silva. Nasceu em Lisboa, no dia 7 de Dezembro de 1937 e também em Lisboa, a sua cidade tão amada, morreu em 18 de Janeiro de 1984.

José Carlos Ary dos Santos

Ao escrever este texto, não posso deixar de sentir emoção e saudade de um amigo de infância e da juventude de um dos meus irmãos, seu inseparável colega de estudos, amigo e companheiro, que a vida acabou por afastar, e que mais tarde a morte voltou a juntar numa outra dimensão muito mais nobre, certamente.

Estudou no Colégio São João de Brito, em Lisboa,onde foi um dos seus primeiros alunos. Após a morte da mãe, vê publicados pela mão de vários familiares, alguns dos seus poemas. Tinha catorze anos e viria, mais tarde, a rejeitar esse livro. Ary dos Santos revelaria, verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade. Várias poesias suas integraram então a Antologia do Prémio Almeida Garrett.

Pela mesma altura, Ary abandona a casa da família. Para assegurar o seu sustento económico exerceu as mais variadas atividades, que passaram pela venda de máquinas para pastilhas elásticas, até ao trabalho numa empresa de publicidade. Nunca parando de escrever, a sua estreia literária efetiva dá-se com a publicação de A Liturgia do Sangue (1963). Em 1969 aderiu ao Partido Comunista Português, com o qual participou ativamente nas sessões de poesia do então intitulado Canto Livre Perseguido.


Ary dos Santos, poeta intervencionista.

Através da música chegou ao grande público,concorrendo, por mais de uma vez, ao Festival RTP da Canção, sob pseudónimo, como exigia o regulamento.Classificou-se em primeiro lugar com as canções Desfolhada Portuguesa (1969), interpretada por Simone de Oliveira, Menina do Alto da Serra (1971), interpretada por Tonicha, Tourada (1973) e Portugal no Coração (19779, interpretações do conjunto Os Amigos.

Após o 25 de Abril, tornou-se um ativo dinamizador cultural da esquerda, percorrendo o país de lés a lés. No Verão Quente de 1975, juntamente com militantes da UDP e de outras forças radicais, envolveu-se no assalto à Embaixada de Espanha, em Lisboa.

Autor de mais de seiscentos poemas para canções, Ary dos Santos fez neste meio muitos amigos. Ele próprio, gravou textos e poemas seus e de outros autores e intérpretes. Notabilizou-se também como declamador, gravando um álbum que continha O Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira. À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado As Palavras das Cantigas, onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos quinze anos, e um outro intitulado Estrada da Luz - Rua da Saudade, que pretendia ser uma autobiografia romanceada.

Obra poética de Ary dos Santos

Depois de falecer, o seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, onde foi descerrada uma lápide evocativa na fachada da sua casa, na Rua da Saudade, onde praticamente viveu toda a sua vida. Ainda em 1984 foi lançada o obra VII Sonetos de Ary dos Santos, com um estudo sobre o autor de Manuel Gusmão e planeamento gráfico de Rogério Ribeiro, no decorrer de uma sessão na Sociedade Portuguesa de Autores, da qual o autor era membro. Em 1988, Fernando Tordo editou o disco O Menino Ary dos Santos, com os poemas escritos por Ary dos Santos na sua infância. Em 2009, Mafalda Arnauth, Susana Félix, Viviane e Luanda Cozetti deram voz ao álbum de tributo Rua da Saudade - canções de Ary dos Santos.

Senhor de uma personalidade entusiasta e irreverente, muitos dos seus textos têm um forte tom satírico e até panfletário, anticonvencional, contribuindo decisivamente para a abertura de novas possibilidades para a música portuguesa. Deixou cerca de 600 textos destinados a canções.

Hoje, o poeta do povo é reconhecido por todos e todos conhecem José Carlos Ary dos Santos. A sua obra permanece na memória coletiva e estranhamente, muitos dos seus poemas continuam atualizados. Todos os grandes cantores o interpretaram, e ainda hoje surgem as melhores vozes a cantá-lo na perfeição.

Ele foi, de facto, o Poeta do 25 de Abril...

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Poemas de Ary dos Santos:

Os Putos
Uma bola de pano, num charco.
Um sorriso traquina, um chuto.
Na ladeira a correr, um arco.
O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.


Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos.
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos.
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo.
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.


As caricas brilhando na mão
À vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo.


Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.


Poeta Castrado, Não!
Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!


Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.


Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhece o que é seu
quando lhes mostro o reverso:


Da fome já não se fala
-é tão vulgar que nos cansa-
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?


Do frio não reza a história
-a morte é branda e letal-
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?


E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
Um bisturi a crescer
nas coxas de um judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
Ah, não me venham dizer
que é fonética a poesia!
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!


1-Os Putos; 2-Poeta Castrado, Não!; 3-Cavalo à Solta;
4-Meu Amor. Meu Amor; 5-O Poeta Ary;
6-Um Homem na Cidade
Cavalo à solta
Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.

Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstea
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
em ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.

Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.

Por isso digo
canção castigo
Amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.

Meu amor, Meu amor
Meu amor, meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.

Meu limão de amargura, meu punhal a escrever
nós parámos o tempo, não sabemos morrer
e nascemos, nascemos
do nosso entristecer.

Meu amor, meu amor
meu nó e sofrimento,
minha mó de ternura,
minha nau do tormento.

Este mar não tem cura, este céu não tem ar
nós parámos o vento, não sabemos nadar
e morremos, morremos
devagar, devagar.








LISBOA, MENINA E MOÇA ( ARY DOS SANTOS):

sexta-feira, outubro 14, 2011

ANTÓNIO GEDEÃO (RÓMULO DE CARVALHO, 1906-1997) - Apontamento de Poesia Contemporânea (Parte III)




Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança...


Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa, António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, nasceu em Lisboa a 24 de novembro de 1906 e também em Lisboa morreu em19 de fevereiro de 1997. Neste mesmo ano, o dia do seu nascimento foi escolhido em Portugal como o Dia Nacional da Cultura Científica.

António Gedeão

Concluíu, na cidade do Porto, o curso de Ciências Fisico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente. Teve um papel importante na divulgação de estudos científicos, colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições, como a Actividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos séculos XVIII e XIX. Publicou ainda outros estudos, com destaque para a História da Fundação do Real Colégio dos Nobres de Lisboa (1959), o sentido Científico de Bocage (1965), e Relações entre Portugal e a Rússia no séc XVIII (1979).

Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina do Fogo, Poema de Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogénias e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia.


Compilação da Obra de António Gedeão





Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para a música que, à época da revolução do 25 de abril em Portugal, foi intitulada música de intervenção.

De notar que esta corrente musical, não faz de António Gedeão um poeta chamado de intervenção, integrado nesse movimento social, tal como veio a acontecer com outros poetas da altura.

Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973)


Na data do seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago da Espada.


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Poemas de António Gedeão:

Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão correta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso, 
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara negra, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
pssarola voadora, 
pára raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto forno, geradora,
Cisão do átomo, radar,
ultra som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

Lágrima de Preta:
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima,
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:


nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio

Fala do Homem Nascido:
(chega à beira da cena, e diz:)
Venho da terra assombrada
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui,
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci.

Trago boca para comer
e olhos para desejar.
Com licença, quero passar,
tenho pressa de viver.
Com licença! Com licença!
Que a vida é água a correr.
Venho do futuro do tempo;
não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte;
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada.
Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham,
nem forças que me molestem,
correntes que me detenham.

Quero eu e a Natureza,
que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se faz ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

Todo o Tempo é de Poesia:
Todo o tempo é de poesia
Desde a manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.
Todo o tempo é de poesia.
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.

"PEDRA FILOSOFAL":

segunda-feira, outubro 10, 2011

YELLOWSTONE - O Alerta







O Parque de Yellowstone, localizado nos estados de Wyoming, Montana e Idaho, é o parque nacional mais antigo do mundo. Inaugurado a 1 de março de 1872, cobre um área de 8.980 metros quadrados, situando-se a maior parte do seu território a noroeste de Wyoming. 
Parque de Yellowstone

Famoso, entre outras coisas, pelos seus geysers, pelas suas fontes termais e pela sua variedade de vida selvagem, é o centro do grande ecossistema de Yellowstone, um dos maiores ecossistemas de clima temperado ainda existentes em todo o mundo. O geyser mais famoso do mundo, o Old Faithful, encontra-se neste parque e a cidade mais próxima deste parque é Billings, no estado de Montana.

Muito antes de haver presença humana em Yellowstone, uma erupção vulcânica gigantesca projetou um volume enorme de cinza vulcânica que cobriu todo o oeste dos Estados Unidos da América, a maioria do centro-oeste, o norte do México e algumas áreas da costa leste do Oceano Pacífico. Foi uma erupção muito maior do que a famosa erupção do Monte Santa Helena, em 1980. Deixou uma enorme caldeira vulcânica (70 km por 30 km) assente sobre uma câmara magmática. 

Yellowstone registou três grandes ventos eruptivos nos últimos 2,2 milhões de anos, o último dos quais ocorreu há 640.000 anos. Estas erupções são as de maiores proporções ocorridas no planeta Terra durante este período de tempo, e são as responsáveis pelas alterações climáticas verificadas nos períodos posteriores à sua ocorrência.

Grand Geyser,  Steamboat Geyser,  Old Faithful Geyser,  Geyser Grotto
A presença humana no parque remonta a 11.000 anos. Pontas de setas fabricadas a partir de obsidiana de Yellowstone são encontradas tão longe como o vale do Mississippi, o que indica a existência de negócios entre os nativos americanos de Yellowstone e outra tribos mais a leste.

Mapa da "Zona Quente" de Yellowstone

Várias expedições à região de Yellowstone surgiram ao longo dos anos: a expedição de Lewis e Clark , em 1806, Jim Bridger em 1857 e  a do biólogo Ferdinand  Hayden conduzido pelo guia W. F. Reynolds, que não conseguiu alcançar a região do planalto, devido ao excesso de neve e às condições desfavoráveis e impeditivas que se fizeram sentir com a Guerra Civil Americana.

Mas onze anos após a sua primeira tentativa frustrada, em 1871, Hayden finalmente conseguiu condições para explorar a região, com o apoio dado pelo governo. O conjunto dos seus relatórios, de fotografias de grande formato elaboradas por William Jackson e pinturas de Thomas Moran, ajudaram a convencer o Congresso dos Estados Unidos da América a cancelar a hipótese de leilão público daquela região. E em 1 de março de 1872, o presidente Ulysses S. Grant promulgou legislativamente a criação do Parque Nacional de Yellowstone.

Grand Prismatic Spring

O Parque Nacional de Yellowstone foi designado como Reserva da Biosfera, a 26 de outubro de 1976, e em 8 de setembro de 1978 foi considerado como Património Mundial, pela UNESCO.

 Yellowstone situa-se num planalto, cuja particularidade mais interessante é a caldeira vulcânica ali existente, uma caldeira de grandes dimensões que se encontra coberta quase na totalidade por fragmentos de rocha derivados de atividade vulcânica e que mede 50 por 60 quilómetros. Dentro desta caldeira encontra-se o lago Yellowstone, o maior lago em elevação da América do Norte, situado num dos pontos "quentes" do planeta, existentes sob a crosta terrestre. É exatamente este lago que poderá ser, eventualmente, a cratera de um oculto e temido supervulcão nesta zona do globo.

Películas de bactérias termofílicas

As manifestações, fruto de atividades vulcânicas, proliferam por todo o território do parque. Mas as mais visitadas são as crateras, denominadas caldeiras e que originaram lagos térmicos e os geysers, dos quais o mais conhecido é o Old Faithful. De grande beleza visual, das 3 caldeiras a mais visitada e maior é a Grand Prismatic Spring, considerada uma das maravilhas do mundo.

Esta fonte hidrotermal, com um diametro de 90 metros, apresenta uma diversidade de cores brilhantes. As diferentes tonalidades são devidas à existência de películas de bactérias termofílicas. A zona em azul contém água a ferver e é livre de bactérias; as zonas que vão do verde ao laranja são zonas onde crescem bactérias em temperaturas sucessivamente menores.
As fotos que inseri no início desta publicação, são precisamente da Grand Prismatic Spring, e onde se pode observar perfeitamente esta sucessão maravilhosa de cores ocasionada pelas as diferentes camadas de bactérias.
Supervulcão

Mas toda esta beleza, sempre fruto de grande atividade vulcânica, vem alertar-nos para uma realidade. O Parque Nacional de Yellowstone, situa-se no cimo de uma câmara subterrânea de rocha fundida e todas estas manifestações são indiscutivelmente prova de um dos maiores vulcões ativos no mundo.

Segundo os cientistas, um "inchaço ou reservatório de magma" sob o Parque de Yellowstone tem elevado o nível do chão em 10 cms dede 2004. O que os leva a afirmar a existência de um supervulcão cuja erupção pode não estar para breve, uma vez que a acumulação do magma ainda está a 10 quilómetros sob a terra. Se fosse uma distãncia de 3 quilómetros, possivelmente breve grande parte do continente americano seria destruído e o restante globo terrestre inundado por um inverno prolongado, levando à extinção de várias espécies, pelo menos neste continente. A questão é quando isto poderá acontecer...

Lago de Yellowstone

Em 23 de janeiro de 2010, um relatório especial emitido pelo Alerta Especial de Yellowstone- USGS, informou a ocorrência de bem mais de mil terramotos nos últimos 7 dias, quatro dos quais atingiram o Parque. A evidência de forte atividade vulcânica infelizmente tem vindo a consolidar-se. Sobretudo a movimentação dos solos foi a causa da emissão de vários alertas, posteriormente silenciados a fim de se evitar o pânico das populações locais, tendo mesmo o presidente Bush, em 2006, determinado o uso do silêncio sobre o estado do Yellowstone.

Recentemente, as imagens satélite, GPS stats, e um monte de outros dados, sugerem que definitivamente Yellowstone poderá ser um problema em breve...







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