quarta-feira, novembro 25, 2015

PELA NOITE, COM VASCO GRAÇA MOURA: "BLUES DA MORTE DE AMOR"




BLUES DA MORTE DE AMOR


já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida.
mas afinal não morri, como se vê, ah não
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.


a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.


há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes. uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete:- morrer ou não morrer, darling, ah, sim.



VASCO GRAÇA MOURA




IMAGEM DO DIA, COM MARTIN LUTHER KING Jr.








quarta-feira, novembro 18, 2015

PELA NOITE, COM MIA COUTO: "MULHERES DE CINZA"





A diferença entre a guerra e a paz é a seguinte:
na guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos;
na paz os pobres são os primeiros a morrer.


MIA COUTO,

In "Mulheres de Cinza",
editorial Caminho, Outubro de 2015


BOM DIA, COM MIA COUTO: "ILHA"





ILHA

Tenho a sede das ilhas
e esquece-me ser terra

Meu amor, aconchega-me
meu amor, mareja-me

Depois, não
me ensines a estrada.

A intenção da água é o mar
a intenção de mim és tu.



MIA COUTO,
Raiz de orvalho e outros poemas
(Versos para a Patrícia 1.)



segunda-feira, novembro 16, 2015

PELA NOITE, COM ARY DOS SANTOS: "KYRIE"





KYRIE


Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas,
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo,
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filhos de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!



ARY DOS SANTOS



domingo, novembro 15, 2015

PELA NOITE, COM JOSÉ RÉGIO: " PÉROLA SOLTA "






PÉROLA SOLTA


Sem que eu a esperasse,

Rolou aquela lágrima

No frio e na aridez da minha face.

Rolou devagarinho...,

Até à minha boca abriu caminho.

Sede! o que eu tenho é sede!

Recolhi-a nos lábios e bebi-a.

Como numa parede

Rejuvenesce a flor que a manhã orvalhou,

Na boca me cantou,

Breve como essa lágrima,

Esta breve elegia.



JOSÉ RÉGIO
1901 - 1969

Portugal




sábado, novembro 14, 2015

MAIS UMA VEZ, PARIS SOFREU UM BANHO DE SANGUE INOCENTE - O Mundo condena e chora...








Paris em estado de choque. Os sete ataques simultâneos ocorridos esta sexta-feira em vários pontos da capital francesa fizeram pelo menos 120 mortos. Só na sala de espectáculos do Bataclan, onde decorria um concerto, terão morrido 100 pessoas. A estes juntam-se mais vítimas mortais nas imediações do Estádio de França, onde dois homens-bomba fizeram-se explodir e num restaurante no centro da cidade, onde ocorreu um tiroteio.
Um  apanhado dos diversos locais alvo dos ataques terroristas do dia de ontem em Paris,  até esta madrugada:

Bataclan: Perto de 100 vítimas mortais, incluindo os quatro terroristas. Na sala de espetáculos decorria um concerto de rock e encontravam-se cerca de 1500 pessoas. Algumas foram feitas reféns durante perto de três horas.

Estádio de França: Quatro mortos. No recinto, decorria o amigável França x Alemanha, quando se ouviram várias explosões nas proximidades. Os adeptos sairam do estádio a cantar o hino. O público acabaria por ser evacuado do estádio com relativa calma.  
François Hollande assistia à partida e foi imediatamente evaquado. Das três explosões de que há registo, pelo menos uma foi originada por um kamikaze.

Rue de Charonne, próxima da Praça da Bastilha: 18 mortos contabilizados. O atirador terá disparado durante dois a três minutos.

Rue Alibert: Pelo menos 14 mortos ao fim de um tiroteio num restaurante cambodjano. Foi este o primeiro incidente a ser noticiado, pouco depois das 21h00.

Rue de la Fontaine, perto de Bataclan: O terraço de uma pizzaria é palco de um tiroteiro, causando a morte de pelo menos cinco pessoas. O autor dos disparos usou uma metralhadora automática.

Boulevard Voltaire, também perto de Bataclan: Uma vítima mortal.
Os números provisórios contabilizam para já 120 vítimas mortais, 200 feridos, 80 dos quais em estado graves.

As últimas informações avançadas pelas agências dão conta de um número total de 150 mortos, incluindo quatro dos atacantes na sala de espectáculos de Bataclain, que ainda tentaram acionar explosivos. Estes são os atentados mais graves em solo francês dos últimos 30 anos.

Na sequência destes trágicos acidentes, François Hollande decretou o estado de emergência e o encerramento das fronteiras. Decorre entretanto um Conselho de Ministros extraordinário pela noite dentro, com a presença das principais figuras do Eliseu. A Europa e o Mundo mostram grande consternação e solidariedade com Paris.

“Vingar a Síria". Tem sido esta a mensagem nos sites e redes sociais ligadas aos jiadistas do autodenominado Estado Islâmico. A  organização já reivindicou os ataques desta sexta-feira na capital francesa, que resultaram na morte de pelo menos 150 pessoas. De acordo com as mesmas fontes, os extremistas islâmicos garantem que os próximos ataques terão como alvo as cidades de Washington, Londres e Roma.





quinta-feira, novembro 12, 2015

IMAGEM DO DIA, COM ANTÓNIO COSTA











PELA NOITE, COM TERESA DE ALMEIDA GONÇALVES: "FRIA FOI A NOITE" (A Vida é feita de Momentos)





FRIA FOI A NOITE


Fria foi a noite
em que os teus olhos
à luz se fecharam;
e quentes as lágrimas,
que, nos meus olhos 
por ti choraram.

Eu sofri o frio açoite
com que o vento da montanha
me rasgava o luto e os véus.
Fria aquela noite
em que poisei na tua boca
um beijo já moribundo,

julgando eu, quase louca,
que te prendia a este mundo.
Numa profunda abstração,
veio da montanha a melancolia.
A ti, estendeu-te a mão
numa doce melodia...

Fria e longa foi essa noite
que me acordou assim o dia.


TERESA DE ALMEIDA GONÇALVES,
in "A vida é feita de momentos"





segunda-feira, novembro 09, 2015

À NOITINHA, RECORDANDO...









PELA NOITE, COM FERNANDO PESSOA: " NÃO DIGAS NADA!"











NÃO DIGAS NADA!


Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer


Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.



FERNANDO PESSOA,
in "Cancioneiro"






sexta-feira, novembro 06, 2015

À NOITINHA, COM FERNANDO PESSOA: " CHOVE?...NENHUMA CHUVA CAI..."




CHOVE?...NENHUMA CHUVA CAI…


Chove?... Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que o ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia?


Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...


E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...


E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.


Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro em mim.
Se escuto, alguém dentro em mim ouve
A chuva, como a voz de um fim ...


Quando é que eu serei da tua cor,
Do teu plácido e azul encanto,
Ó claro dia exterior,
Ó céu mais útil que o meu pranto?


FERNANDO PESSOA,
1-12-1914

Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes-Rodrigues. (Introdução de Joel Serrão.)Lisboa: Confluência, 1944 (3.ª ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1985).



PELA NOITE, COM FERNANDO PESSOA: " COMO TE AMO "






COMO TE AMO


Como te amo? Não sei de quantos modos vários
Eu te adoro, mulher de olhos azuis e castos;
Amo-te com o fervor dos meus sentidos gastos;
Amo-te com o fervor dos meus preitos diários.


É puro o meu amor, como os puros sacrários;
É nobre o meu amor, como os mais nobres fastos;
É grande como os mares altisonos e vastos;
É suave como o odor de lírios solitários.


Amor que rompe enfim os laços crus do Ser;
Um tão singelo amor, que aumenta na ventura;
Um amor tão leal que aumenta no sofrer;


Amor de tal feição que se na vida escura
É tão grande e nas mais vis ânsias do viver,
Muito maior será na paz da sepultura!



FERNANDO PESSOA,
(Inéditos – Poemas de Lança-Pessoa – Manuscrito (Junho/1902))




segunda-feira, novembro 02, 2015

À NOITINHA, COM FERNANDO PESSOA: "CANÇÃO DA PARTIDA"





CANÇÃO DA PARTIDA


Pousa de leve
Inda que um breve momento,
A tua mão de neve
Sobre o meu triste coração
Ainda é cedo...
Guarda o segredo
E pousa leve, como a medo,
Sobre minha alma a tua mão,
Como é que na alma,
Pousa uma palma,
De mão,
E como é que a acalma
De toda a dor que não tem fim?
Não sei sabê-lo.
No meu cabelo,
Ao menos, pousa, com desvelo,
Sua mão leve de marfim.
Que é a vida? Nada.
A sorte? Estrada:
Que leva só a alma enganada
Por onde vai e onde não quer...
Que é a alma? Um sono?
Ser? O abandono.
De ser.
E as folhas que no outono,
O ouvido sente anoitecer.



FERNANDO PESSOA



PELA NOITE, COM LUÍS VAZ DE CAMÕES: "ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE"







ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.


Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,


Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


LUÍS VAZ DE CAMÕES,
in "Sonetos"



(In memoriam, 2/11/2015)





IMAGEM DO DIA DE FINADOS, COM PEDRO HOMEM DE MELLO








DIA DE TODOS OS SANTOS - 1 DE NOVEMBRO DE 2015




SOLENIDADE

"Os Santos, tendo atingido, pela multiforme graça de Deus a perfeição e alcançado a vida eterna, cantam hoje a Deus no Céu, o louvor perfeito e intercedam por nós.

A Igreja proclama o mistério pascal realizado na paixão e glorificação deles com Cristo; propõe aos fiéis os seus exemplos, que conduzem os homens ao Pai por Cristo; e implora, pelos seus méritos, as bençãos de Deus.

Segundo a sua tradição, a Igreja venera os Santos e as suas relíquias autênticas, bem como as suas imagens. É que as festas dos Santos proclamam as grandes obras de Cristo nos Seus servos e oferecem aos fiéis os bons exemplos a imitar".

(Constituição Litúrgica, n.º 104 e 111)




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