sexta-feira, setembro 16, 2016

PELA NOITE, COM DAVID MOURÃO-FERREIRA: "BARCO NEGRO"



BARCO NEGRO


De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.


DAVID MOURÃO - FERREIRA



(Fado interpretado por Mariza)

David de Jesus Mourão-Ferreira GCSE (Lisboa, 24 de fevereiro de 1927 — Lisboa, 16 de junho de 1996) foi um escritor e poeta português. Tem uma biblioteca com o seu nome em Lisboa no Parque das Nações.
Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1951, onde mais tarde em 1957 foi professor, destacou-se como um dos poetas contemporâneos do Século XX.
Na sua obra, são famosos alguns dos poemas que compôs para a voz de Amália Rodrigues, como Sombra, “Maria Lisboa”, “Anda o Sol na Minha Rua” “Nome de Rua”, e sobretudo “Barco Negro”. Outros poemas da sua autoria, como “Escada sem corrimão” ou “Lembra-te sempre de mim”, serão interpretados anos depois por Camané

David Mourão-Ferreira trabalhou para vários jornais, dos quais se destacam a Seara Nova e o Diário Popular, para além de ter sido um dos fundadores da revista Távola Redonda. Entre 1963 e 1973 foi secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Autores. No pós-25 de Abril, foi diretor do jornal “A Capital” e director-adjunto do “O Dia”.
No governo, desempenhou o cargo de Secretário de Estado da Cultura (de 1976 a Janeiro de 1978, e em 1979).

Foi por ele assinado, em 1977, o despacho que criou a Companhia Nacional de Bailado Foi autor de alguns programas de televisão de que se destacam "Imagens da Poesia Europeia", para a RTP.

A 13 de Julho de 1981 foi condecorado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.Em 1996, a 3 de Junho, foi elevado a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada. No mesmo ano, 1996, recebeu o Prémio de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

Do primeiro casamento, com Maria Eulália, sobrinha de Valentim de Carvalho, teve dois filhos, David João e Adelaide Constança, que lhe deram 11 netos e netas.
Em 2005 é celebrado um protocolo entre a Universidade de Bari e o Instituto Camões, decidindo, como homenagem ao poeta, abrir naquela cidade o Centro Studi Lusofoni - Cátedra David Mourão-Ferreira que, dirigida pela Professora Fernanda Toriello e com a colaboração do professor Rui Costa, tem como objetivo o estudo da obra de David Mourão-Ferreira, assim como a divulgação da língua portuguesa e das culturas lusófonas. 

Promove também o Prémio Europa David Mourão-Ferreira.

Em 2005 a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o escritor dando o seu nome a uma avenida no Alto do Lumiar.

Obras
Poesia:
1950 - A Viagem
1954 - Tempestade de Verão (Prémio Delfim Guimarães)
1958 - Os Quatro Cantos do Tempo
1961 - Maria Lisboa
1962 - In Meae ou A Arte de Amar
1966 - Do Tempo ao Coração
1967 - A Arte de Amar (reunião de obras anteriores)
1969 - Lira de Bolso
1971 - Cancioneiro de Natal (Prémio Nacional de Poesia)
1973 - Matura Idade
1974 - Sonetos do Cativo
1976 - As Lições do Fogo
1980 - Obra Poética (inclui À Guitarra e À Viola e Órfico Ofício)
1985 - Os Ramos e os Remos
1988 - Obra Poética, 1948-1988
1994 - Música de Cama (antologia erótica com um livro inédito).
1954 - letra para Amália Rodrigues " Barco Negro"

Ficção narrativa
1959 - Novelas de Gaivotas em Terra (Prémio Ricardo Malheiros)
1968 - Os contos de Os Amantes
1980 - As Quatro Estações (Prémio Associação Internacional dos Críticos Literários)
1986 - Um Amor Feliz (Romance que o consagrou como ficcionista valendo-lhe vários prémios)
1987 - Duas Histórias de Lisboa

Outras
1961 - Aspectos da obra de M. Teixeira Gomes


Academia Brasileira de Letras:  David Mourão-Ferreira foi ainda escolhido para ocupar, na categoria de Sócio Correspondente, a Cadeira número 5, que tem por Patrono Dom Francisco de Sousa. A sua eleição deu-se em 1981, sendo ali o quinto ocupante. Depois da sua morte, esta Cadeira foi ocupada apenas em 1998 pelo poeta e escritor moçambicano Mia Couto.




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