É ela. É sempre ela. Para onde quer que olhe, para onde
quer que vá. É ela. É sempre ela. O rosto dela, os traços dela, o jeito dela. E
ouço-a falar. E sei exactamente como ela fala, e conheço exactamente o tom de
voz dela, cada pausa, cada esgar, cada momento em que pára para pensar e cada
momento em que pára para sorrir. E sou eu que paro. Sou eu que, ao vê-la em
cada espaço por preencher dentro dos meus olhos (e o que são os olhos senão
espaços por preencher; espaços sempre por preencher?), não paro. Continuo a
encontrá-la. E não sei o que hei-de fazer para lhe fugir (como se foge do que
está por dentro dos olhos? como se escapa do que não pode ser eliminado, do que
não é mais do que um pensamento dentro da cabeça? como se escapa do que não
existe? como se acaba com o que nunca começou?), não sei o que hei-de fazer
para me fugir.
PEDRO CHAGAS FREITAS
in "OU É TUDO OU NÃO VALE NADA"
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