segunda-feira, janeiro 25, 2016

PELA NOITE, COM MIA COUTO: "A DEMORA"




A DEMORA


O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.


Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.


Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.


Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.


Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.


O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.



MIA COUTO,
in «Idades cidades divindades»




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