Há qualquer coisa de Deus na forma como me amas, mãe.
As pessoas não são tão
grandes como tu, as pessoas não aguentam tanto a vida como tu. As pessoas
choram, as pessoas sofrem, as pessoas passam pela vida à procura da melhor
maneira de viver. Mas tu amas-me, mãe. Tu amas-me assim, sem condições, e
parece que quando me amas nem sequer existes. Apenas ficas ali, a ver-me
existir, e é assim que descobres e me ensinas que a vida se resume a ver quem
amas viver.
Há qualquer coisa de
impossível na forma como me amas, mãe. O possível teria de exigir que parasses
quando te dói, que parasses quando o mundo, filho da puta do mundo, te obriga a
inventares novas maneiras de me dares tudo o que eu preciso.
Há qualquer coisa de
genial na forma como me amas, mãe. E tu consegues o milagre da multiplicação
dos pães e dos corpos, estás no sítio exacto onde te preciso na hora exacta
onde te preciso com as palavras exactas de que preciso, a falares-me de como é
importante acreditar que sabemos tudo mesmo que seja importante acreditar que
não sabemos nada.
Há qualquer coisa de eu
todo na forma como me amas, mãe.
E quando me perguntarem
que idade tem a minha mãe direi apenas que para sempre.
PEDRO CHAGAS FREITAS,
in 'Prometo Falhar'
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