segunda-feira, janeiro 25, 2016

À NOITINHA, COM PEDRO CHAGAS FREITAS: "PROMETO FALHAR"







Há qualquer coisa de Deus na forma como me amas, mãe.
As pessoas não são tão grandes como tu, as pessoas não aguentam tanto a vida como tu. As pessoas choram, as pessoas sofrem, as pessoas passam pela vida à procura da melhor maneira de viver. Mas tu amas-me, mãe. Tu amas-me assim, sem condições, e parece que quando me amas nem sequer existes. Apenas ficas ali, a ver-me existir, e é assim que descobres e me ensinas que a vida se resume a ver quem amas viver.

Há qualquer coisa de impossível na forma como me amas, mãe. O possível teria de exigir que parasses quando te dói, que parasses quando o mundo, filho da puta do mundo, te obriga a inventares novas maneiras de me dares tudo o que eu preciso.

Há qualquer coisa de genial na forma como me amas, mãe. E tu consegues o milagre da multiplicação dos pães e dos corpos, estás no sítio exacto onde te preciso na hora exacta onde te preciso com as palavras exactas de que preciso, a falares-me de como é importante acreditar que sabemos tudo mesmo que seja importante acreditar que não sabemos nada.

Há qualquer coisa de eu todo na forma como me amas, mãe.

E quando me perguntarem que idade tem a minha mãe direi apenas que para sempre. 

PEDRO CHAGAS FREITAS,
 in 'Prometo Falhar'






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