O
MENINO DE SUA MÃE
No
plaino abandonado
Que
a morna brisa aquece,
De
balas trespassado-
Duas,
de lado a lado-,
Jaz
morto, e arrefece.
Raia-lhe
a farda o sangue.
De
braços estendidos,
Alvo,
louro, exangue,
Fita
com olhar langue
E
cego os céus perdidos.
Tão
jovem! Que jovem era!
(agora
que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um
nome e o mantivera:
«O
menino de sua mãe.»
Caiu-lhe
da algibeira
A
cigarreira breve.
Dera-lhe
a mãe. Está inteira
E
boa a cigarreira.
Ele
é que já não serve.
De
outra algibeira, alada
Ponta
a roçar o solo,
A
brancura embainhada
De
um lenço… deu-lho a criada
Velha
que o trouxe ao colo.
Lá
longe, em casa, há a prece:
“Que
volte cedo, e bem!”
(Malhas
que o Império tece!)
Jaz
morto e apodrece
O
menino da sua mãe
O
menino de sua mãe
No
plaino abandonado
Que
a morna brisa aquece,
De
balas trespassado-
Duas,
de lado a lado-,
Jaz
morto, e arrefece.
Raia-lhe
a farda o sangue.
De
braços estendidos,
Alvo,
louro, exangue,
Fita
com olhar langue
E
cego os céus perdidos.
Tão
jovem! Que jovem era!
(agora
que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um
nome e o mantivera:
«O
menino de sua mãe.»
Caiu-lhe
da algibeira
A
cigarreira breve.
Dera-lhe
a mãe. Está inteira
E
boa a cigarreira.
Ele
é que já não serve.
De
outra algibeira, alada
Ponta
a roçar o solo,
A
brancura embainhada
De
um lenço… deu-lho a criada
Velha
que o trouxe ao colo.
Lá
longe, em casa, há a prece:
“Que
volte cedo, e bem!”
(Malhas
que o Império tece!)
Jaz
morto e apodrece
O
menino da sua mãe
FERNANDO
PESSOA
Antes de mais, deve-se saber que Fernando Pessoa foi um
extraordinário poeta e uma das personalidades mais complexas e representativas
da literatura europeia do séc. XX. Era dotado de uma grande densidade
psicológica, um talento e cultura imensos,
era capaz de criar várias personagens, completamente diferentes, tanto a
nível de experiência de vida como no modo de escrever ( os chamados
heterónimos). Os seus principais
heterónimos foram Alberto Caeiro (“O Mestre”), Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
Pessoa teve alguns aspectos peculiares na vida: todo o registo de óbito foi
escrito na negativa: não deixou bens, nem descendentes nem mesmo testamento,
não foi casado, não teve carro, nem diploma de doutor, nem máquina de escrever. Nem um emprego definido nem filiação
política nem religiosa. Outro aspecto peculiar era que para Pessoa, os anos
terminados em cinco tiveram um significado especial na vida.Durante o século XX surgiu uma nova corrente artística, o
Modernismo. Fernando Pessoa foi um dos seus grandes defensores e
impulsionadores.
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa a 13 de
Junho de 1888. Pessoa era filho de um modesto funcionário, porém inteligente e
culto (foi mesmo jornalista e crítico
musical) que morreu tuberculoso em 1893 deixando o filho com cinco anos e a
mulher. Fernando Pessoa morreu em Novembro de 1935, no Hospital de S. Luís dos
Franceses, onde foi internado com uma cólica hepática, causada provavelmente
pelo consumo excessivo de álcool,
"O poema “O menino de sua Mãe”, publicado na revista Contemporânea, III Série, n.º 1, em 1926 é porventura um dos mais conhecidos dos poemas ortónimos de Pessoa, ou seja, poemas que ele publicou usando o seu próprio nome e não um nome de um heterónimo. Quando o publica Fernando tem 38 anos e está num período de grande criatividade poética. No entanto este poema, muitas das vezes analisado superficialmente, é capital na análise de um fundo de dor que para sempre assolaram o poeta e pensador até ao fim dos seus dias.
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