O SEU SANTO NOME
Não facilite
com a palavra amor.
Não a jogue
no espaço, bolha de sabão.
Não se
inebrie com o seu engalanado som.
Não a
empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque,
não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar
aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda
sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a
pronuncie.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Para o poeta, o “santo nome” é tão divino quanto o
símbolo do sagrado, pois é o “amor”— e o santo nome não deve ser pronunciado em
vão. A negação presente no poema, na verdade, é totalmente irónica. A voz
poética adverte sobre os perigos do amor ou da poesia, mas acaba por incitar a
sua procura, dentro do mundo sem sentido e insensível. Aquém das capacidades e
dos intuitos de bons ou maus poetas, amor e poesia tornam-se sinónimos de um
produto muito acessível, de um oásis de sensibilidade e de sentimento no meio
da brutalidade da vida quotidiana: um uso um tanto perigoso, por ser
despudorado.
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