sexta-feira, julho 10, 2015

PELA NOITE, COM FERNANDO PESSOA: " AUTOPSICOGRAFIA "







AUTOPSICOGRAFIA


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


FERNANDO PESSOA




O poeta é um fingidor. Neste poema Fernando Pessoa fala da teoria do fingimento poético, pois um poema não traduz aquilo que o poeta sente, mas sim aquilo que o poeta imagina a partir da recordação do que anteriormente sentiu. 
O poeta é, assim, um fingidor que escreve uma emoção fingida, pensada, por isso fruto da razão de da imaginação e não a emoção sentida pelo coração, que apenas chega ao poema transfigurada na tal emoção trabalhada praticamente.
O leitor não sente nem a emoção vivida realmente pelo poeta, nem a emoção por ele fingida no poema, sentido apenas o que na sua inteligência é provocado pelo poema

Assim, a poesia, segundo Fernando Pessoa, é a intelectualização da emoção.


Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...