"Uma
pequenina luz bruxuleante
não
na distância brilhando no extremo da estrada
aqui
no meio de nós e a multidão em volta
une
toute petite lumière
just
a little light
una
piccola... em todas as línguas do mundo
uma
pequena luz bruxuleante
brilhando
incerta mas brilhando
aqui
no meio de nós
entre
o bafo quente da multidão
a
ventania dos cerros e a brisa dos mares
e
o sopro azedo dos que a não vêem
só
a advinham e raivosamente assopram.
Uma
pequena luz
que
vacila exacta
que
bruxuleia firme
que
não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe
voz ouviram-na e é muda.
Muda
como a exactidão como a firmeza
como
a justiça
Brilhando
indefectível.
Silenciosa
não crepita
não
consome não custa dinheiro.
Não
é ela que custa dinheiro.
Não
aquece também os que de frio se juntam.
Não
ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas
brilha bruxuleia ondeia
indefectível
próxima dourada.
Tudo
é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo
é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo
é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo
é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde
sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma
pequenina luz bruxuleante e muda
Como
a exactidão como a firmeza
como
a justiça.
Apenas
como elas.
Mas
brilha.
Não
na distância. Aqui
no
meio de nós.
Brilha."
JORGE
DE SENA
Jorge de Sena |
Jorge de Sena nasceu em Lisboa e faleceu em Santa Bárbara, Califórnia. Frequentou o curso de Engenharia Civil na Faculdade de Engenharia do Porto, tendo trabalhado entre 1948 e 1959 como engenheiro na Junta Autónoma das estradas. Partiu em 1959 para o Brasil, fazendo o doutoramento em 1964, na área da literatura portuguesa. No ano seguinte parte para os Estados Unidos, leccionando primeiro em Wiscousin e, a partir de 1970, na Universidade de Santa Bárbara. Em 1977 recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina. A nível literário, Jorge de Sena esteve ligado aos Cadernos de Poesia com José Blanc de Portugal, Rui Cinatti entre outros. A par da sua escrita poética e ficcional, há a salientar os estudos poéticos sobre literatura portuguesa e inglesa, em especial aqueles que se referem a Camões e a Fernando Pessoa.
Entre outros livros, escreveu: "Génesis"(1983), "Sinais de Fogo" (1979), "Poesia I" e "Poesia II" e ainda "Antigas e Novas Andanças do Demónio" em 1978.
Voz: Pedro Lamares
Voz: Pedro Lamares
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