segunda-feira, setembro 29, 2014

À NOITINHA, COM MANUEL ALEGRE: "ESPLENDOR DE AGOSTO"






ESPLENDOR DE AGOSTO


Aconteceu o pior: o esquecimento.
Esqueci tudo o que deve ser lembrado
e já não sei se és tu ou se te invento
e se o que resta é só o imaginado.


Esqueci o nome o olhar esqueci o rosto
reclinado nas tardes de Setembro.
E já não sei sequer quem foi deposto
e se lembro não sei se és tu que lembro.


Porque tudo esqueci e não esqueci
esplendor dos corpos no azul de Agosto
e aquele não sei quê que havia em ti
e aquele ardor em mim de fogo posto.


Esqueço a lembrar e se te lembro esqueço
e já não sei se és margem ou ainda o centro
de tanto te inventar não te conheço
e quanto mais te esqueço mais te lembro.



MANUEL ALEGRE,
in Nada está Escrito



domingo, setembro 28, 2014

PELA NOITE, COM PHILIP LARKIN: "CONTINUING TO LIVE"





CONTINUING TO LIVE


Continuing to live –that is, repeat
A habit formed to get necessaries–
Is nearly always losing, or going without.
It varies.

This loss of interest, hair, and enterprise–
Ah, if the game were poker, yes,
You might discard them, draw a full house!
But it's chess.

And once you have walked the length of your mind, what
You command is clear as a lading-list.
Anything else must not, for you, be thought
To exist.

And what's the profit? Only that, in time,
We half-identify the blind impress
All our behavings bear, may trace it home.
But to confess,

On that green evening when our death begins,
Just what it was, is hardly satisfying,
Since it applied only to one man once,
And that one dying.

PHILIP LARKIN






IMAGEM DO DIA






sábado, setembro 27, 2014

PELA NOITE, COM GONÇALVES DIAS




OS SEUS OLHOS


Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta
De noite cantando, — mais doce que a frauta
Quebrando a solidão,

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; — causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto humedece
Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa — a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co'um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em causa
Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.


GONÇALVES DIAS
(1823-1864)



UMA FACA DE DOIS GUMES...- O "BLUETOOTH" ENTRE NÓS








NOTA:
Porque me parece importante e satisfazendo inúmeros pedidos, repito hoje , de novo, a publicação desta mensagem, assim como deixo o link de outra publicada em sequência e relacionamento com esta :http://pretobrancoe.blogspot.pt/2014/09/mais-um-idoso-encontrado-morto-em.html 

O Bluetooth pode ter problemas de segurança. Empresa finlandesa detectou vulnerabilidades na segurança dos dispositivos Bluetooth, sobretudo telemóveis.

Bluetooth arrisca segurança de telemóveis A tecnologia Bluetooth pode colocar em risco a segurança dos dispositivos, de acordo com um relatório técnico apresentado pela empresa finlandesa Codenomicon. A tecnologia Bluetooth, muito comum em dispositivos smartphones e telemóveis, tem vulnerabilidades que podem ser exploradas por hackers.

A Codenomicon testou o uso do Bluetooth num kit mãos livres para utilização do telemóvel em automóveis, concluindo que é possível aceder aos dados dos telemóveis. Em situações de maior risco também os sistemas electrónicos dos automóveis podem ser colocados em risco, colocando em causa a segurança dos passageiros do veículo.

«O problema está na implementação, uma vez que podem ocorrer erros humanos», referiu Ari Takanen, CFO da Codenomicon. «Raramente a qualidade do software é visível para os consumidores».
Os dados pessoais são uma verdadeira mina de ouro para aqueles que os exploram, mas cuidado com os deslizes.
Temos o exemplo flagrante, no nosso quotidiano, quando, levianamente nos referimos  “às vizinhas com saltos de papagaio”…Mas não é assim tão inocente.

Ao publicar esta mensagem, procurei , modestamente, porque os meus conhecimentos informáticos são puramente banais, informar-me um pouco mais acerca deste assunto “tabu” para tantos.
Certamente que muitos de nós já conhecemos o som dos saltos e as batidas que hoje em dia proliferam nos nossos condomínios. A própria comunicação social brinca com o assunto.
Talvez assim possam entender um pouco sobre a “técnica”, pessoalmente considerada psicoticamente criminosa, uma vez que não respeita nem a liberdade nem a privacidade de cada um de nós, constitucionalmente reconhecidas.
Colhi as informações que se seguem na intenet, e reproduzo o seu conteúdo na íntegra:


I-“Inscrever-se na lista de distribuição de uma newsletter, comprar bilhetes de avião, preencher um formulário administrativo, partilhar fotos através das redes sociais, utilizar o GPS integrado no Smartphone, ver um vídeo, jogar online e em rede, são tudo oportunidades para adquirir múltiplas tipologias de dados pessoais, cuja utilização poderá ser multiplicada infinitas vezes através das campanhas de e-marketing direcionadas, comportamentais e mais ou menos invasivas. O internauta terá então pela frente barras intermitentes ou deslizantes, links comerciais puxados pelo motor de busca, spams na caixa de correio eletrónico.
O dinamismo deste mercado também se serve da evolução das tecnologias e, em breve, certas informações serão recolhidas diretamente a partir do nosso corpo. Uma marca de equipamentos desportivos de renome mundial apresentou recentemente uma pulseira de medição de atividade física que permite arquivar os resultados obtidos para poder depois armazená-los nos servidores da empresa e utilizá-los mais tarde para oferecer conselhos em matéria de entretenimento desportivo ao seu utilizador.
Os grandes nomes que fazem a rede dos nossos dias são na essência máquinas financeiras que têm como objectivo rentabilizar ao máximo a sua atividade e criar valor. Apesar dos avisos permanentes, a grande maioria dos internautas não tem qualquer consciência da utilização que é feita dos seus dados pessoais.
Negligenciamos a proteção dos nossos dados pessoais por desejo de facilidade
O destino dos nossos dados pessoais está nas nossas mãos, se nos esforçarmos!


II_Comunicação WIFI sem qualquer hotspot
Há uns tempos atrás, o bluetooh começou por ser a tecnologia escolhida para comunicação entre alguns dispositivos, como por exemplo entre telemóveis. Apesar de muitos considerarem que o Bluetooth é actualmente uma tecnologia obsoleta, a verdade é que serve perfeitamente para vária situações, é uma tecnologia barata,  e além disso permite emparelhar dois equipamentos de forma muito fácil.
Uma vez que esta funcionalidade é interessante, porque não portá-la para as redes wifi?
A Wi-Fi Alliance, grupo responsável por garantir a interoperabilidade entre dispositivos Wi-Fi de diferentes fabricantes, veio anunciar recentemente um novo standard de comunicação designado por Wi-Fi Direct. Este novo standard,  permitirá que os equipamentos comuniquem entre si, não existindo a necessidade de um hotspot  (ex. router wifi) pelo meio das comunicações.

Review: Asus AT3N7A-I (Atom dual core com Ion!)

É uma placa-mãe mini-ITX que pode ser um interessante ponto de partida para a montagem de um PC compacto para uso geral ou até mesmo um Media PC transado para marcar presença no seu home theatre.
Apesar de a Nvidia afirmar que não faltam chipsets Ion no mercado, a oferta de produtos baseados nessa plataforma ainda é rara e disponível em pequenas quantidades. O que temos visto é que os primeiros lançamentos têm sido de fabricantes pequenos que desviam do radarzinho de Santa Clara ou de empresas grandes o suficiente para resistir às ofertas de vendas casadas (processadores Atom com chipset incluso) por preços super camaradas. Entre elas estão a Zotac e a ASUS, que fabrica a AT3N7A-I – um produto que, por sinal, nem consta do catálogo do site americano na empresa (fui encontrar informações dela no site da Inglaterra).


ASUS_AT3N7AI_overview

Ocupando um quadrado de apenas 17 cm de lado, a AT3N7A-I segue o padrão Mini-ITX, desenvolvido pela VIA Technologies e que aos poucos é adotado por outros big players do mercado, incluindo a própria Intel, como a linha Essential Series D945GCLF montada aqui no Brasil pela Digitron.

Se de um lado a placa da Intel é voltada para a montagem de PCs simples e baratos, o modelo da ASUS atrai um público bem mais maduro e sofisticado, em especial entusiastas que procuram por uma plataforma diferenciada que ofereça uma boa relação entre desempenho gráfico e consumo de energia.


ASUS_AT3N7AI_overview2_small

Na minha opinião, um dos grandes atrativos desse produto é sua compatibilidade com os atuais padrões do mercado, ou seja, nada de conectores exóticos, fontes customizadas ou gabinetes com furação estranha que você só vai encontrar (literalmente) na China. Ela se comporta como qualquer placa-mãe mainstream do mercado, podendo ser instalada em qualquer gabinete padrão ATX.


ASUS_AT3N7AI_no_gabinete_small

O seu painel traseiro aproveita ao máximo o espaço disponível, ofecendo (à partir da esquerda) uma porta PS/2 para teclado, duas USB 2.0, HDMI, SVGA, SPDIF, mais seis USB 2.0, eSATA, bluetooth (uia!), rede Gigabit Ethernet (Realtek RTL8112L) e som (VIA VT 1708s) de 7.1 canais. Ainda existe uma conexão interna para mais duas portas USB 2.0 e de som, provavelmente para ser usada em conexões frontais do computador.


ASUS_AT3N7AI_back_panel_small

O que mais chamou a atenção neste departamento foi a sua interface Bluetooth que — na primeira vez — pensei tratar-se de um dongle USB (eba!), mas o dito cujo não pode ser removido (boo!). Eu acho que essa solução é até mais interessante do que,  por exemplo, uma porta Wi-Fi integrada. Isso porque o Bluteooth pode comunicar facilmente com outros dispositivos de entrada e saída como controles remoto, mouses, teclados e até mesmo fones de ouvido. Fora isso ele poderia baixar informações e conteúdo de outros dispositivos móveis como fotos de um celular, vídeos e músicas de um PC etc. As possibilidades são infinitas.


ASUS_AT3N7AI_bluetooth_small

Outra vantagem desse modelo é a presença de dois slots para pentes de memória DIMM DDR2 de 667/800 Mhz com suporte para dual channel, algo incomum nesse tipo de placa. Na imagem abaixo podemos ver outros recursos interessantes, como as três portas SATA 300, o conector da fonte de 24 pinos e até duas saídas de alimentação para ventiladores do gabinete. Nada mal para uma simples placa do seu porte.


ASUS_AT3N7AI_slot_memory_small

No canto esquerdo podemos ver seu único slot PCI que pode ser usado para adicionar mais algum recurso ao projeto de montagem como mais uma placa de rede Ethernet ou Wi-Fi, mais portas de disco IDE ou SATA ou até mesmo uma placa de captura de vídeo ou recepção de TV.


ASUS_AT3N7AI_PCI

No canto inferior esquerdo podemos ver o LED verde que avisa que a placa está ligada, ao lado dos dois únicos jumpers da placa: o de cima limpa a CMOS e o de baixo abriga a entrada do sensor de invasão do gabinete. Também podemos ver as conexões do painel frontal que se resume ao essencial: botões de liga/desliga e Reset e os LEDs de liga e de acesso ao disco rígido.


ASUS_AT3N7AI_jumpers_small
Obviamente, toda essa parafernália eletrónica serve apenas para dar apoio aos dois principais componentes da placa-mãe, que são o processador Atom 330 dual core de 1,6 GHz e o seu chipset Nvidia Ion montados sob um grande cooler de alumínio e arrefecido por uma ventoinha cujo som lembra muito uma dor de dente: leve e constante ela não vai te matar, mas pode te deixar doido se ficar invocado com ela.


ASUS_AT3N7AI_cooler

Em termos simples, o Atom 330 é representado por dois processadores Atom N230 “Diamondville” de 1,6 GHz e 512 KB de cache L2 montados lado a lado no mesmo encapsulamento. É um tipo de solução dual core já usada pela Intel noutros produtos da casa como o Pentium D e os Core 2 Quad. O curioso é que, como o núcleo Diamondville tem suporte para Hyper-Threading, ele comporta-se como um processador de quatro núcleos. Se pensar um pouco, de um certo modo o Atom 330 é o menor e mais barato x86 quadcore da praça e que, por incrível que pareça, roda SOs de 64 bits.

(Review: Asus AT3N7A-I (Atom dual core com Ion!)
Mário Nagano @ztopztop on 01/10/09, 17:52
ASUS_AT3N7AI_Intro)


Repito:
Negligenciamos a proteção dos nossos dados pessoais por desejo de facilidade
O destino dos nossos dados pessoais está nas nossas mãos, se nos esforçarmos, caso contrário, serão do amigo do alheio.
Infelizmente, o tráfego destes dados é de tal modo importante, que a sua falta de proteção atrai a cobiça de uma outra categoria de coletores de dados, um certo tipo de hackers. Relacionados com o que inicialmente referi.

Deixo os contactos que considerei necessários na ajuda para a resolução da “brincadeira” dos “saltos de papagaio”, que de brincadeira tem muito pouco. Falem, não se calem, eduquem os vossos filhos e os vossos comportamentos. Todo o problema que o homem criou, também o pode eliminar.



Brigadas de crime informático:

Contactos
Diretoria de Lisboa e Vale Tejo - Piquete
211 967 202
Diretoria do Norte - Piquete
225 088 644
Diretoria do Centro - Piquete
239 828 130
Diretoria do Sul - Piquete
289 884 522






quinta-feira, setembro 25, 2014

quarta-feira, setembro 24, 2014

IMAGEM DO DIA, COM UNICEF





"Dear Nailatu, 
It’s not easy to be a school girl like you in Northern Nigeria. 
You are only 12. But you have a dream: become a doctor. 
Your father is behind you all the way. UNICEF as well. 
Don't give up on your dream. Never. You will be a doctor, Nailatu".
http://ow.ly/y6sKb 
Best,
UNICEFAfrica and its fans
#BringBackOurGirls #AfricanChildDay



LISBOA FESTEJA O "DIA EUROPEU SEM CARROS", COM BARCOS...- 22 de Setembro de 2014





No Programa Café da Manhã da RFM de hoje, 
o humorista Nilton falou do Dia Europeu sem carros, 
que Lisboa assinalou com barcos ...





terça-feira, setembro 23, 2014

IMAGEM DO DIA, COM MIA COUTO






PELA NOITE, COM LORD BYRON; "SO WE´LL BE NO MORE A ROVING"






SO, WE´LL BE NO MORE A ROVING


So, we'll go no more a roving
So late into the night,
Though the heart be still as loving,
And the moon be still as bright.


For the sword outwears its sheath,
And the soul wears out the breast,
And the heart must pause to breathe,
And love itself have rest.


Though the night was made for loving,
And the day returns too soon,
Yet we'll go no more a roving
By the light of the moon.



LORD BYRON (GEORGE GORDON)





domingo, setembro 21, 2014

DIA MUNDIAL DA DOENÇA DE ALZHEIMER 2014 - "Um Filho não tem Cabelos Brancos"











As pessoas com Alzheimer desaprendem todos os dias de viver. Esquecem nomes, caras, palavras, gestos e movimentos. Na Casa do Alecrim, unidade criada apenas para pessoas com este problema, todos os dias as ensinam a lembrar as suas próprias vidas. Hoje é dia mundial da doença.

 Reproduzo, seguidamente, um artigo que me impressionou particularmente, publicado no jornal Expresso.

"É como uma cena de um filme que se está sempre a ver de novo, em repetição contínua. Elena está habituada, faz parte da sua profissão, é terapeuta ocupacional na Casa do Alecrim, uma unidade no concelho de Cascais criada para pessoas com doença de Alzheimer. Basta-lhe que eles saibam que “é alguém importante nas suas vidas e que gosta deles”. Mas ser apenas isso, apenas isso, é muito mais difícil de pedir a um familiar.


Demora muito tempo, e alguns familiares nunca conseguem esse patamar que exige criar uma forma de “tolerância para não estar agarrado ao que a pessoa foi”, diz Fernanda Carrapatoso, directora desta unidade sem fins lucrativos da associação Alzheimer Portugal. 

É pedir a um filho que aceite que aquela mãe ou pai nunca mais vai saber que ele é seu filho, nem o nome com que escolheu baptizá-lo, nem nada do que viveu com ele, e que consiga aceitar ser apenas uma pessoa que reconhecem, que sentem que é familiar e que lhes traz bem-estar quando a vêem chegar. Em troca, não podem esperar mais nada. E, mesmo isso, a capacidade de os reconhecer como alguém significativo, irá, mais tarde ou mais cedo, desaparecer.

“Quem é que eu sou? És tu mesmo. Como é que eu me chamo? Com a boca. Quantos filhos tens? Dois. Como é que se chama o teu filho? Francisco José. Quem é que eu sou? És tu mesmo”. Esta é parte de um diálogo que se repete todas as vezes em que Francisco José Sequeira, filho de Natalina Sequeira, visita a mãe na na unidade situada na Alapraia, próximo do Estoril.

Ele sabe que ela o reconhece e que quando aparece sente uma emoção agradável, mas a interacção com a mãe, de 86 anos, limita-se a pouco mais do que esta troca de frases. Francisco deixou de lhe chamar mãe porque ela não responde ao chamamento e ainda lhe pergunta “’Qual mãe?’, como quem diz ‘Vai chamar mãe a outra’”, explica o filho, de 42 anos. Trata-a pelo nome, porque ela já não se lembra que é mãe dele, mas ainda sabe que se chama Natalina. “Anda, Natalina, vamos andar, faz-te bem o exercício”, diz-lhe, para darem mais uma volta ao edifício envidraçado, arquitectado para receber luz de todos os ângulos.

Também há dias em que Natalina identifica Francisco como “o mano”. Não sabe porquê é que por vezes ocupa esse lugar, afinal, um dos dois irmãos que Natalina tinha morreu, com o outro já não tem relações e nunca a visitou, ao contrário de Francisco, que o faz dia sim, dia não. Talvez ele seja “o mano” porque quando Francisco lhe voltou a aparecer na vida, vivia em Inglaterra desde 1997, já tinha umas mechas de cabelo grisalho “e um filho não tem cabelos brancos”, tentou explicar-se a si mesmo. Para Natalina “o Francisco é uma criança”.

No tempo em que cuidava de Natalina em sua casa havia noites em que Francisco adormecia a chorar e a pensar “a falta que me fazia ter aqui a minha mãe” e noites em que, na mesma casa, “a mãe vagueava à procura da criança, do filho”, que nunca conseguiu encontrar, apesar de habitarem ambos o mesmo espaço. É como se vivessem em tempos desencontrados. Natalina Sequeira procurava um filho que na sua cabeça ainda era pequeno, Francisco chorava uma mãe que começou a desaparecer há uns cinco anos. “Era superprotectora, andávamos sempre agarrados aos abraços e beijos. A preocupação dela por mim faz-me falta”; “agora é uma mulher distante, fria”.


Foi a mãe que ela foi que lhe serviu de combustível emocional para aguentar ser cuidador dela durante três anos, sozinho, antes de conseguir vaga na Casa do Alecrim, que abriu portas em Janeiro de 2013. A irmã tinha feito o mesmo, antes de ele ter de regressar. Para 30 vagas de utentes da segurança social há 400 pessoas em espera, só do concelho de Cascais, explica a directora da unidade.


 Francisco Sequeira vivia já 16 anos em Inglaterra, emigrou quando ainda não era tendência, não arranjava emprego em Portugal. Lá ganhou vida estável, como professor de educação especial, mas teve de voltar para tentar arranjar uma solução para os pais. Tirou um ano de licença sem vencimento, pensou que em seis meses resolveria tudo, lhes arranjaria um lar. Só conseguia lugar em lares privados, o mínimo 1200 euros por mês e ele não tinha esse dinheiro. Teve de desistir da vida em Inglaterra para tomar conta da sua mãe em sua casa, e também do pai, que entretanto também ficou demente mas morreu há uns meses. Em Portugal há 153 mil pessoas com alguma forma de demência, cerca de 90 mil são casos de Alzheimer. Está em Portugal há 4 anos, “a vida destruída”.


(CATARINA GOMES 21/09/2014 - 08:48)


Para saber mais sobre esta doença em Portugal:

http://alzheimerportugal.org/pt/


















IMAGEM DO DIA,COM MIA COUTO






sábado, setembro 20, 2014

BOA NOITE, COM BRUNO MARS: "WHEN I WAS YOUR MAN"











UM FIM DE DIA, COM EUGÉNIO DE ANDRADE:"ADEUS"





ADEUS 


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.



EUGÉNIO DE ANDRADE






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