quinta-feira, abril 30, 2015

ESTA NOITE, COM ARY DOS SANTOS: "KYRIE", UM POEMA MARAVILHOSO.






KYRIE


Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas,
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo,
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filhos de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!


ARY DOS SANTOS




sábado, abril 25, 2015

ESTA É A HISTÓRIA DO CRAVO VERMELHO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL - Dia 25 de Abril de 2015










Celeste Martins Caeiro, nascida no dia 2 de Maio de 1933,  foi a mulher que, no dia 25 de Abril de 1974, distribuiu cravos pelos militares que levavam a cargo o golpe de estado para derrubar o regime ditatorial liderado por Marcelo Caetano, movimento este que ficou conhecido pela Revolução dos Cravos ou ainda Revolução 25 de Abril.

Celeste Caeiro trabalhava, à altura da Revolução, num restaurante na Rua Braancamp em Lisboa. O restaurante, inaugurado a 25 de Abril de 1973, fazia um ano de abertura nesse dia, e a gerência planeava oferecer flores para dar às senhoras clientes, e um Porto aos cavalheiros. 

Nesse dia, todavia, como estava a decorrer o golpe de estado, o restaurante não abriu. O gerente disse ao funcionários para voltarem para casa, e deu-lhes os cravos para levarem consigo, já que não poderiam ser distribuidos pelas clientes. Cada um levou um molhe de cravos vermelhos e brancos que se encontravam no armazém.



Ao regressar a casa, Celeste apanhou o metro para o Rossio e dirigiu-se ao Chiado, onde se deparou imediatamente com os tanques dos revolucionários. Aproximando-se de um dos tanques, perguntou o que se passava, ao que um soldado lhe respondeu "Nós vamos para o Carmo para deter o Marcelo Caetano. Isto é uma revolução!". 

O soldado pediu-lhe, ainda, um cigarro, mas Celeste não tinha nenhum. Celeste queria comprar-lhes qualquer coisa para comer, mas as lojas estavam todas fechadas. Assim, deu-lhes as únicas coisas que tinha e que lhes podia oferecer: os molhos de cravos, dizendo "Se quiser tome, um cravo oferece-se a qualquer pessoa". 

O soldado aceitou e pôs a flor no cano da espingarda. 

Celeste foi dando cravos aos soldados que ia encontrando, desde o Chiado até ao pé da Igreja dos Mártires...







UM FIM DE TARDE COM MIA COUTO: "VINTE E ZINCO (25 de abril)"





25 de abril

   

     - Até que enfim, aconteceu ! Deus seja louvado.
  
A mãe agradecia a Deus aquela tamanha desgraça? O juízo da senhora teria sofrido um idêntico golpe de Estado?
    
     - Mãe, como pode dizer uma coisa dessas?
   - Estou contente, sim. Nem pode imaginar como me sinto feliz!
   
O pide sentou-se, combalido. Fosse melhor receber a notícia da sua total orfandade? A mãe parecia transfigurada. Desolhuda, lhe segurou pelas mangas do casaco e puxou-o como se receasse que ele não a escutasse bem:
   
   - A única coisa que eu quero é ir embora. Todos esses anos, esse foi o meu sonho. E agora, Lourenço de Castro, só nos resta mesmo é ir embora.
   
O filho não reconhecia a progenitora.
   
   - Quando o teu pai morreu eu pensei que tudo tinha acabado. E que voltávamos para a nossa aldeia, de onde nunca devíamos ter saído. Mas depois tu quiseste-o vingar, seguiste-lhe as pisadas, essa merda da política.
    - Não acredito que esteja a usar essa linguagem, mãe.
   - Merda é pouco, filho. Merda é pouco. É por isso que, por mais que nos lavemos, não há água que chegue para nos limparmos do passado.



MIA COUTO
In “Vinte e Zinco (25 de abril)”


NO DIA DE HOJE, COM ARY DOS SANTOS: " O REVÓLVER"







O REVÓLVER



Quando nos disparamos do que somos

quando nos encantamos e seguimos

o contido estampido do silêncio

que nos rebenta dentro dos ouvidos

a corola pistola o suspiro do tiro

já não nos basta a bala da palavra

o gatilho dos dedos

o alvo do sentido.



Trincamos uma pétala de cor

e matamos no cheiro de uma flor

cinco sentidos unidos.




ARY DOS SANTOS





quinta-feira, abril 23, 2015

NO DIA DO LIVRO, UM ARTISTA ORIGINAL - MIKE STILKEY








Uma notícia original, hoje, dia em que se festeja o Dia do Livro.

Enquanto muitos ilustradores se limitam a ilustrar páginas de livros, Mike Stilkey prefere usá-los como telas de pintura. Chamadas por ele de “esculturas de livros”, as peças são formadas por diversos livros usados, resgatados dos lixos de bibliotecas, por estarem velhos, copiados ou desatualizados. Ao unir estas peças, cria uma bela tela, que preenche com a sua arte espantosa.

Com estes livros reciclados, Mike Stilkey cria belíssimos retratos de pessoas e animais antropomórficos, que tocam instrumentos musicais e se vestem com roupas “de gente”. As lombadas dos livros, com as suas diferentes cores e inscrições, funcionam como um fundo perfeito para a pintura.


Oriundo da Califórnia, Mike teve uma infância problemática. Após uma lesão grave que sofreu na prática de skate, desporto a que se dedicou como escape ao ambiente em que vivia, Stilkey decidiu dedicar-se às artes. Para ele um mundo novo da fantasia: "Eu usei drogas, tive pais viciados e uma família com problemas. Art salvou-me a vida."

As imagens são bastante elucidativas do seu grande e original talento.

Vejam…






IMAGEM DO DIA, COM YVES SAINT LAURENT









PELA NOITE, COM MIA COUTO: "A OUTRA"






“Mas a paixão é coisa que morre mesmo antes de se extinguir, 
tão sorrateira que nem lhe notamos enterro nem velório.

No jejum do coração quem emagrece é a alma.

Até que o céu perde o cheiro, 
o tempo não tem sabores e a vida se descolará.”

MIA COUTO
in « A Outra »




terça-feira, abril 21, 2015

IMAGEM DO DIA, COM S.M. RAINHA ISABEL II DE INGLATERRA: PARABÉNS








S.M. Rainha Isabel II de Inglaterra, completa hoje 89 anos.
Os nossos parabéns a S.M., assim como a toda a Inglaterra.
Sempre com este belo sorriso!






domingo, abril 19, 2015

IMAGEM DO DIA, COM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN










PELA NOITE COM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN: "AS ROSAS"








AS ROSAS



Quando à noite desfolho e trinco as rosas

É como se prendesse entre os meus dentes

Todo o luar das noites tranparentes,

Todo o fulgor das tardes luminosas,

O vento bailador das Primaveras,

A doçura amarga dos poentes,

E a exaltação de todas as esperas.




SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN







sábado, abril 18, 2015

PELA NOITE, COM GONÇALO VIANA DE SOUSA: " HEI-DE ESCREVER-TE"






HEI-DE ESCREVER-TE


Hei-de escrever-te um dia
Quando apertar a saudade
Para me lembrar da alegria
Que abraçava a cidade.

Mas enquanto não chegar essa hora
Irei recordar com carinho
Aquele teu beijinho
Que num instantinho
Veio sem demora.

Hei-de escrever-te, minha garota do Ipanema
Quando as horas forem cruéis e duras
Quando as tuas mãos, leves e puras,
Entrelaçaram as minhas naquela noite,
Em Copacabana, no cinema.

(Lembras-te do tempo feliz naquelas noites
Em que adormecíamos nas areias das praias?)

Mas hei-de escrever-te
Hei-de escrever-te outras palavras
palavras ao som da cuíca e do piano e do tambor
Mais belas e frescas
Que acabem com esta fria tristeza
E tragam beleza e Sol à palavra Amor.



GONÇALO VIANA DE SOUSA





quinta-feira, abril 16, 2015

LISBOA E OS SEUS TESOUROS SUBMERSOS - AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES: RESERVATÓRIO DA MÃE D´ÁGUA DAS AMOREIRAS (Museu da Água)







Lisboa não pára de nos surpreender. Com os seus tesouros ocultos, neste caso submersos nas suas águas. Como ontem tive ocasião de observar numa ida ao Aqueduto das Águas Livres. Precisamente ao Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras, com a entrada marcada pelo arco da Rua das Amoreiras, realizado pelo arquitecto húngaro Carlos Mardel, entre 1746 e 1748, e onde terminou o Aqueduto durante estes anos.
O Aqueduto foi construído durante o reinado de D. João V, com origem na nascente das Águas Livres, em Belas, Sintra, e foi sendo progressivamente reforçado e ampliado ao longo do século XIX. Resistiu incólume ao Terramoto de 1755.
Reservatório da Mãe D´Água das Amoreiras

A extensão da rede de captação e adução, incluindo todos os tributários, foi crescendo até atingir um total de 47 quilómetros, recolhendo água de 58 nascentes, boa parte delas na zona da serra da Carregueira. Se ainda se considerarem os 11 quilómetros da rede de distribuição dentro da cidade, o sistema atinge uma extensão total de 58 quilómetros.

Na realidade, o Aqueduto das Águas Livres é um complexo sistema de captação, adução e distribuição de água a Lisboa, e que tem como obra mais emblemática a grandiosa arcaria em cantaria que se ergue sobre o vale de Alcântara, um dos bilhetes postais da cidade.

A cisterna conheceu três plantas, apresentando um projecto inicial cuja implantação incluía mais três arcos levando o edifício até à face norte do Largo do Rato. No projecto final, o reservatório surgiu simplificado com a diminuição do número de tanques e da carga decorativa exterior.

Após a morte de Carlos Mardel, em 1763, o reservatório final do Aqueduto, iniciado em 1746, ainda estava por concluir. A obra foi retomada, em 1771, por Reinaldo Manuel dos Santos, que introduziu algumas modificações ao plano inicial.

Actualmente, o Reservatório da Mãe d’Água apresenta-se como um espaço amplo, luzente e unificado, semelhante a uma igreja estilo Salão, convidando assim este espaço à sacralidade.

A água das nascentes jorra da boca de um golfinho sobre uma cascata, construída com pedra transportada das nascentes do próprio Aqueduto, e converge para o tanque de sete metros e meio de profundidade, com uma capacidade de 5.500 m3. Do tanque emergem quatro colunas que sustentam um tecto de abóbadas de aresta que, por sua vez, suporta o magnífico terraço panorâmico sobre a cidade de Lisboa.

Percurso do Aqueduto das Águas Livres aberto ao público.

Na frente ocidental deste reservatório encontra-se a Casa do Registo, local onde se controlavam os caudais de água que partiam para os chafarizes, fábricas, conventos e palacetes.

O Museu da Água promove e dinamiza visitas livres e guiadas ao Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras. Valem e asseguram um tempo certamente bem justificado. Não conhecia e fiquei encantada com as vistas panorâmicas desta cidade linda emoldurada pelo Tejo.

Deixo os contactos:

MUSEU DA ÁGUA

AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES:
Calçada da Quintinha,6 1070.225
Horário | Aberto de terça a sábado entre as 10h e as 17h30
(encerra de 30 de Novembro a 1 de Março)

RESERVATÓRIO DA MÃE D’ÁGUA DAS AMOREIRAS

Morada | Praça das Amoreiras 10, 1250-020 Lisboa
Horário | Aberto de terça a sábado entre as 10h e as 17h30
(encerra para almoço entre as 12h30 e as 13h30)









quarta-feira, abril 15, 2015

YUJA WANG, A JOVEM PIANISTA PRODÍGIO QUE VEM DA CHINA









Yuja Wang é uma jovem pianista clássica chinesa. Nasceu em Pequim, em 1987 e iniciou os estudos de piano com a idade de seis anos e logo ingressou no Conservatório Central de Música em Pequim.

 Wang nasceu numa família de músicos. Ingressou no Conservatório Central de Música de Pequim com sete anos e aí estudou  durante três anos. Yuja mudou-se para o Canadá aos 14 anos para aprender inglês e entrar no Mount Royal University Conservatory em Calgary.Vive atualmente em Nova Iorque, mas viaja a maior parte do tempo para apresentação de concertos.


Em 1998, Yuja Wang conquistou o terceiro lugar Prémio de Ettlingen International Competition para píanistas jovens, em Ettlingen, Alemanha.

Em 2001, Wang venceu o Terceiro Prémio e Special Jury Prize (oferecido a finalistas com menos de 20 anos de idade), prémio em dinheiro no valor de 500,000 Yens japoneses) no Piano Section at the First do Competição Internacional de Sendai em Sendai, Japão.3

Em 2003 Yuja fez a primeira apresentação no Tonhalle Orchestra em Zurique, na Suiça, tocando o Concerto n.º 4 para piano de Beethoven sob a batuta de David Zinman. A estreia nos Canadá ocorreu em Ottawa em 2005-06 substituindo Radu Lupu e interpretando Beethoven com Pinchas Zukerman na batuta.

Em 11 de setembro de 2005, foi indicada para o prémio Gilmore Young Artist, oferecido aos mais promissores e talentosos pianistas, com idade de 21 anos ou ainda mais jovens. Como parte do prémio, no valor de U$15,000, apresentou-se no Gilmore Festival Concerts, e ganhou um piano novo.


No lindo cenário da Konzerthaus de Viena, acompanhada pela orquestra Tonhalle de Zurique e sob a batuta de Lionel Bringuier, já considerada um prodígio, Yuja Wang deixou o público de boca aberta com esta execução do concerto número dois de Prokofiev.

"O concerto número dois significa muito para mim. Ouvi-o pela primeira vez quando tinha 14 anos. Lembro-me de ter ficado arrebatada pela intensidade emocional desta peça. Não há uma única nota que esteja a mais", declarou acrescentado: "“O que vejo na minha cabeça é uma bruxa envolta em fumo. Há muita cor, muito fogo de artifício. Mas o significado é negro. Diria mesmo que é fantasmagórico. Psicologicamente é muito potente, chega a ser perturbador, mas eu adoro”.

À pergunta: "Nesta peça musical tão complexa, qual o movimento que intimida mais a pianista?"



Yuja responde:
“Todos os movimentos! O que mais impressiona é toda a energia necessária para executar a peça, tanto fisicamente como mental e psicologicamente, porque não pára, do princípio ao fim”. 
A jovem pianista acrescenta ainda:

“Se todos procuraramos a perfeição, o que não significa não falhar notas, porque não somos máquinas, mas sim um estado de êxtase, algo que mexe com as pessoas, o poder da música que arrebata o público, é disso que estamos à procura. Por isso estou sempre a apanhar aviões de manhã para tocar à noite. Também recebo muito em troca” 


Além da música, Yuja Wang é também amante da moda e tem ainda outras grandes paixões.
 “Os amigos, sem dúvida, e a comida. Os chocolates”.

Saiba mais em: www,yujawang.com







IMAGEM DO DIA COM EDUARDO GALEANO (1940-2015)










terça-feira, abril 14, 2015

UM POUCO MAIS DE MIA COUTO: "ILHA"






ILHA


Tenho a sede das ilhas
e esquece-me ser terra

meu amor, aconchega-me
meu amor, mareja-me

Depois, não
me ensines a estrada.

A intenção da água é o mar
a intenção de mim és tu.



MIA COUTO




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