domingo, janeiro 29, 2012

SOLIDÃO DOS IDOSOS = MORTE E ABANDONO, EM PORTUGAL











Este mês de janeiro, o primeiro de 2012, foi pródigo em nos dar a conhecer impressionantes casos de idosos que, por isolamento e abandono, foram encontrados mortos em suas casas após mais ou menos longos períodos de tempo.

Casa da Travessa do Convento de Jesus, nas Mercês

De entre estes casos, dou especial relevo ao das duas irmãs, descoberto há dias e que me impressionou particularmente. Nele se constata o amor de duas irmãs e o desamor de quem com elas eventualmente contactava, as pessoas da vizinhança.

Não sendo vistas desde o Natal, foram há dias encontradas sem vida no interior da casa onde viviam, na Travessa do Convento de Jesus, nas Mercês, em Lisboa. Os corpos foram descobertos no início de uma tarde e estavam em adiantado estado de decomposição.

Uma morte terá levado à outra. A mais nova das mulheres tomava conta da outra. Mas uma doença em fase terminal terá levado a melhor sobre a menos idosa, que assim deixou de poder tomar conta da irmã. Estima-se que a outra terá morrido na sequência de não receber os cuidados prestados pela irmã.

Remoção dos corpos das duas irmãs mortas, pela PSP e
Bombeiros Sapadores de Lisboa

As mulheres, de 74 e 80 anos, permaneceram na residência até o delegado de saúde chegar, onde igualmente se deslocaram os agentes da PSP, e membros do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa.

O relatório policial  referiu não existirem quaisquer indícios de crime, porque as janelas e portas que davam para o exterior estavam todas fechadas e trancadas por dentro. No interior da casa foi ainda encontrado algum dinheiro e uma caderneta da Caixa Geral de Depósitos.

A PSP foi chamada a intervir, depois de alertada por um casal de vizinhos alemães que regressaram de férias do estrangeiro e estranharam ninguém responder ao toque da campainha.

Quando a porta se abriu, os polícias deparam-se com as duas mulheres mortas, «uma caída de cúbito dorsal e outra de lado», junto à cama onde a mais velha estava acamada. Num caso como este, sendo dispensados da autópsia pelo Instituto de Medicina Legal de Lisboa, sem parentes próximos, os respetivos corpos deverão ficar à guarda deste mesmo instuto por um período de trinta dias. Caso ninguém os reclame, será comunicado à Câmara Municipal de Lisboa para proceder aos funerais. 

Até hoje, ninguém apareceu a reclamar os corpos...

Também ninguém deu um pouco de amor a estas idosas, que, em tempo devido, poderia ter salvo pelo menos uma das duas...Ou até talvez mesmo as duas.

PSP e Bombeiros Sapadores de Lisboa

Como aconteceu com António Tarrinho, de 79 anos de Espinho, que também não foi visto desde o passado Natal. Vivia sózinho na rua 16 de Espinho e ontem foi encontrado morto pela PSP, após o alerta dos vizinhos.

Mas não fica por aqui. Neste sábado, mais dois idosos foram encontrados mortos nas suas casas de Lisboa. Numa das situações, a PSP presume que um fosse cadáver desde há um mês. Desde o início do ano, são já 12 os idosos encontrados sem vida, só em Lisboa.


Remoção do corpo de um dos idosos, hoje em Lisboa





Termino, deixando aqui um comentário (o mais votado) de um leitor que, como eu, leu a notícia da morte do idoso António Tarrinho de Espinho, de longa data afastado do filho por desavenças familiares: 




«Não previas este fim para o teu pai. Miserável, então se não querias saber dele para nada! Dá-me uma raiva estes filhos nojentos, perdi o meu pai em Setembro e dava tudo para o ter de volta!»
(COMENTÁRIO MAIS VOTADO)




















segunda-feira, janeiro 23, 2012

MANUEL ALEGRE, O POETA (1936-) - Apontamento de Poesia Contemporânea (Parte VII)






...Eu venho incomodar.
Trago palavras como bofetadas
e é inútil mandarem-me calar.
...Já disse: planto espadas
e transformo destinos.
E para isso basta-me tocar os sinos
que cada homem tem no coração.
(Manuel Alegre, in "Praça da Canção")





Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de maio de 1936, em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um aluno de intensa atividade estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador da CITAC - Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, membro do TEUC - Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, campeão naci onal de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal "A Briosa", foi redator da revista "Vértice" e colaborador de "Via Latina".

Manuel Alegre, estudante em Coimbra

A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da Ilha de São Miguel, com Melo Antunes. Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar.

É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses. Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964.

Passa dez anos exilado em Argel, onde foi dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade.

Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto das Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão, em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas. Poemas seus, cantados entre outros, por Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luís Cília, tornaram-se emblemáticos da luta pela liberdade.

Regressa finalmente a Portugal em 2 de maio de1974, dias após o 25 de Abril. Entra no Partido Socialista onde, ao lado de Mário Soares, promove as grandes mobilizações populares que permitem a consolidação da democracia e a aprovação de Constituição de 1976, de cujo preâmbulo é redactor.
"Praça da Canção", exemplar da 2.ª edição

Deputado por Coimbra em todas as eleições desde 1975 até 2002 e por Lisboa a partir de 2002, participa no I Governo Constitucional formado pelo Partido Socialista. Dirigente histórico do PS desde 1974, foi Vice-Presidente da Assembleia da República desde 1955 e é membro do Conselho de Estado (de 1996 a 2002 e de novo em 2005). É candidato a Secretário-geral do PS em 2004, aquele que foi o congresso partidário mais participado de sempre.

Em 2005 candidatou-se à Presidência da República, como independente e apoiado pelos cidadãos. tendo obtido mais de um milhão de votos nas eleições presidenciais de 2006, ficando em segundo lugar à frente de Mário Soares, o candidato então apoiado pelo PS. Em jullho de 2009 despediu-se do lugar de Deputado, que ocupou durante 34 anos e que deixou por vontade própria nas legislativas de setembro. Foi reeleito para o Conselho de Estado em Novembro de 2009. Em maio de 2010, Manuel Alegre apresentou oficialmente a sua candidatura à Presidência da República.

É sócio correspondente da Classe de Letras da Academia de Ciências, eleito em março de 2005. Em abril de 2010, a Universidade de Pádua inaugura a Cátedra Manuel Alegre, destinada ao estudo da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas. Tem edições da sua obra em italiano, espanhol, alemão, catalão, francês, romeno e russo.

Manuel Alegre com Miguel Torga,
também em Coimbra

A sua obra é vasta, foi reeditada sucessivas vezes e dela destacam-se: Praça da Canção, O Canto das Armas, Cão como Nós e tantas outras. Manuel Alegre recebeu o Grande Prémio da Associação de Escritores (1998) e o Prémio Pessoa (1999).

O autor é sobejamente conhecido. A partir da década de oitenta a sua produção é de quase um livro por ano. É a poesia que predomina nesse conjunto, e não desmente o que dele se conhece: a sua grande vocação poética, o seu muito especial sentido do ritmo, que permitiu facilmente transformar em canções muitos dos seus poemas mais emblemáticos. "Um escritor", respondeu alguém a quem se perguntou o que era um escritor, "é alguém que escreve". E isso é o que Manuel Alegre faz: escreve.

Na sua poesia, Manuel Alegre dá voz à liberdade, à revolta, à evocação histórica ou à saudade e mesmo o lamento. O estilo quer da sua prosa ou poesia, inicialmente mais clássico, afinando-se depois, não escapou mais modernamente à influência de Pessoa ou de Sophia, como os poetas da sua geração. "A arte é a maior razão da minha vida". Esta afirmação tem sido uma constante para Manuel Alegre.





Manuel foi descoberto, isso lhe dizem os leitores, há muitos anos.
E lhe dirão os netos, mais tarde, quando o lerem.

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POEMAS DE MANUEL ALEGRE:


Apresentação
Cantar não é talvez suficiente.
Não porque não acendam de repente as noites
tuas palavras irmãs do fogo
mas só porque palavras são
apenas chama e vento.
E contudo canção
só cantando por vezes se resiste
só cantando se pode incomodar
quem à vileza do silêncio nos obriga.

Eu venho incomodar.
Trago palavras como bofetadas
e é inútil mandarem-me calar
porque a minha canção não fica no papel.
Eu venho tocar os sinos.
Planto espadas
e transformo destinos.
Os homens ouvem-me cantar
e a pele
dos homens fica arrepiada.
E depois é madrugada
dentro dos homens onde ponho
uma espingarda e um sonho.

E é inútil mandarem-me calar.
De certo modo sou um guerrilheiro
que traz a tiracolo
uma espingarda carregada de poemas
ou se preferem sou um marinheiro
que traz o mar ao colo
e meteu um navio pela terra dentro
e pendurou depois no vento
uma canção.

Já disse: planto espadas
e transformo destinos.
E para isso basta-me tocar os sinos
que cada homem tem no coração.
(In Praça da Canção)



Os ratos invadiram a cidade
Os ratos invadiram a cidade
povoaram as casas os ratos roeram
o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
É proibido não ser rato.

Canto na toca. E sou um homem.
Os ratos não tiveram tempo de roer-me
os ratos não podem roer um homem
que grita não aos ratos.

Encho a toca de sol.
(Cá fora os ratos roeram o sol).
Encho a toca de luar.
(Cá fora os ratos roeram a lua).
Encho a toca de amor.
(Cá fora os ratos roeram o amor)Na toca que já foi dos ratos cantam
os homens que não chiam. E cantando
a toca enche-se de sol.
(O pouco sol que os ratos não roeram).
(In Praça da Canção)


1-Apresentação; 2- Os Ratos invadiram a Cidade;
3- Trinta Dinheiros; 4- As Facas
5- As Mãos; 6- Trova do Vento que passa;
7- Praça da Canção
Trinta Dinheiros
No bengaleiro do mercado público
penduraram o coração.
Vestem o fato dos domingos fáceis.
Não têm rosto
têm sorrisos muitos sorrisos
aprendidos no espelho da própria podridão.
Têm palavras como sanguessugas.
Curva-se muito.
As mãos parecem prostitutas.
Alma não têm. Penduraram a alma.
Por fora parecem homens.
Custam apenas trinta dinheiros.
(In Praça da Canção)


As facas
Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome

Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas.
E em cada assalto sou assassinado.

Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.
(In Obra Poética)
As mãos
Com as mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com as mãos tudo se faz e se desfaz.
Com as mãos se faz o poema - e são de terra.
Com as mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com as mãos se rasga o mar. Com as mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam -se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
(In O Canto e as Armas)











domingo, janeiro 22, 2012

SÃO VICENTE, PADROEIRO DA CIDADE DE LISBOA - Dia 22 de Janeiro














A Igreja Católica comemora hoje, 22 de janeiro, a festa do dia de São Vicente, abrindo uma exceção à Liturgia do Tempo Comum, por coincidir com um dia de domingo. Pela Igreja Ortodoxa, São Vicente é comemorado a 11 de novembro.

Fresco da Igreja de São Vicente, em Lisboa

Vicente de Saragoça, também conhecido como São Vicente de Fora ou San Vicente Mártir, foi um mártir do início do século IV, que sofreu o martírio em Valência. Nasceu em Aragão (atual Espanha) e não se sabe ao certo a data do seu nascimento. Os relatos apontam a sua existência de vida no fim do século III e início do século IV. A história deste santo chegou aos dias de hoje mais em forma de lenda, do que em dados documentais. Reza a lenda que Vicente teria deixado Huesca ainda criança, para viver em Saragoça.

São Vicente foi contemporâneo do imperador romano Diocleciano. Roma estendia, então, o seu império até à Península Ibérica. Durante o seu reinado, Diocleciano reabilitou as velhas tradições romanas, incentivando o culto dos deuses antigos, proibindo o culto do cristianismo, iniciando aquela que seria vista pelos historiadores como a penúltima perseguição do Império Romano ao cristianismo.

Em fevereiro de 303, Diocleciano promulgou um édito imperial que ordenava a destruição geral de igrejas e objetos do culto dos cristãos, ordenando que toda a população fizesse sacrifícios aos deuses romanos.

Cabo de São Vicente, no Algarve

Durante esta perseguição aos cristãos, Vicente, devotado cristão, recusou-se a obedecer às ordens imperiais de oferecer sacrifícios aos deuses pagãos. Por causa desta sua recusa, foi cruelmente martirizado até à morte, em 304. Após o martírio, o corpo de Vicente teria sido atirado aos animais, mas foi protegido de ser devorado por um corvo. Esta proteção foi vista  pelos cristãos como um milagre, foi-lhe erguida uma igreja, em homenagem, e Vicente passou passou a ser venerado como um santo.

Com o fim do Império Romano, a Península Ibérica sofreu a invasão dos mouros. Durante a época desta invasão, os muçulmanos, em 713, puseram o corpo de São Vicente num barco e deixaram-no à deriva, no mar. O barco, levando as relíquias do martirizado, foi dar ao Promontorium Sacrum (Promontório Sacro, Cabo de Sagres, Portugal), que passou a chamar-se Cabo de São Vicente.

Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa

Os cristãos que aí viviam sob o domínio dos mouros, recolheram o corpo e transportaram-no para uma ermida erguida em sua homenagem. Durante alguns séculos o culto de São Vicente alastrou-se por todo o território que seria futuramente o o reino de Portugal.

Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, foi quem decidiu resgatar o corpo de São Vicente aos sarracenos, que dominavam Sagres, nessa época. Sob as ordens de Dom Afonso Henriques, as relíquias do santo foram levadas para Lisboa. Diz a tradição da lenda que, quando o corpo seguiu no barco, dois corvos acompanharam-no, velando-o.

As relíquias, transferidas de Sagres para uma igreja fora das muralhas de  Lisboa, geraram uma veneração intensa dos habitantes desta cidade, por São Vicente, que em 1173 e de acordo com a tradição, foi proclamado o santo padroeiro de Lisboa. Hoje, a Igreja também reconhece São Vicente como santo padroeiro da diocese do Algarve.


Barca de São Vicente


Em França, São Vicente é padroeiro dos vinhateiros e profissões afins, e porta como insígnias um cacho de uvas, para além da palma do martírio.


O corvo, ave da lenda do santo martirizado em Valência e que também zelou pela segurança do transporte de barco das relíquias do santo para Lisboa, foi adotado como um símbolo do brasão desta cidade e de muitas outras povoações portuguesas.





E assim permaneceu até aos dias de hoje.









quarta-feira, janeiro 18, 2012

MUSEU DA FARMÁCIA (LISBOA) - Uma Visita








Ontem, integrada num grupo de colegas da Util, desloquei-me ao Museu da Farmácia em Lisboa, onde nos aguardava uma visita.

Constituiu uma agradável surpresa: usufruí de uma visita excelentemente guiada no que respeita a informação, simpatia e competência demonstradas pela jovem guia, como o próprio Museu me surpreendeu pela variedade e riqueza do seu espólio. De assinalar a beleza do palácio que ocupa, agora modernizado, em plena Lisboa histórica, e os jardins com o magnífico miradouro sobre o Tejo. Confesso, gostei. Justifica bem uma visita.

Com 12 mil visitantes anuais, um par de horas chega para se ficar a saber quase tudo o que há para saber sobre a conquista da saúde no mundo.

O projeto arrancou em 1981. Uma equipa da Associação Nacional de Farmácias decidiu começar a sensibilizar as farmácias portuguesas em remodelação, para doarem o seu património ao futuro museu. Até ao ano da abertura, em 1996, reuniram nove mil peças. Começaram a adquirir objetos mais antigos em leilões e coleções privadas. No museu que continua em crescimento, não existe nenhuma peça mais especial do que a outra. Só talvez a pedra filosofal.

Conhecida por pedra filosofal, a Pedra de Goa foi o medicamento feito por farmacêuticos portugueses na Índia no século XVI, que se achava ser a chave da eternidade. A do museu está intacta, com o respetivo cálice de prata que conferia pureza e  envolta em dourado, cor que simboliza a vida eterna. É uma mistura de barro, lodo, conchas, âmbar, almíscar, resina, raspas de corno de unicórnio, pedras preciosas e ópio. O seu uso era simples: nas dores ligeiras era só passar a pedra pelo corpo; para grandes males, raspava-se a pedra, ingeria-se e colocava-se uma folha de ouro a cobrir a parte usada.

O Museu da Farmácia alberga o sarcófago mais antigo do país. Todas as peças do espólio têm um sentido. No Egipto a múmia no sarcófago não representava o fim da vida, logo da saúde, mas sim o início. Exposto na vertical, significa a conquista da eternidade na saúde e na beleza, daí a importância da cosmética de então.

No museu pode ser vista a única peça gravada com escrita cuneiforme em exposição em Portugal, uma receita da Mesopotâmia, onde se recomenda o uso terapêutico da cerveja, entre um sem fim de peças singulares, como estatuetas do México datadas entre 550 e 950 A.C., e o mítico e enorme dente de narval (mamífero do Ártico) que as lendas diziam ser o corno do unicórnio, o animal puro com poderes curativos.

Perdidas na variedade do espólio, descobre-se outras curiosidades como um mapa com os pontos de energia do corpo humano, do Tibete, ou a "técnica" que antecede o Raio-X: no passado a questão resolvia-se com alucinogénos. O médico e o paciente drogavam-se para subir ao mundo dos espíritos onde falavam os dois para que então o espírito do médico entrasse dentro do corpo do paciente e fizesse o diagnóstico.

Daí até ao século XXI, passa-se pelas farmácias portáteis de expedições e por uma cultura original de penicilina, assinalada a vermelho por Alexander Fleming. Chega-se aos dias de hoje com uma alusão à exploração de aplicações da nanotecnologia para o campo de saúde.

Podem ainda ser vistas quatro reconstruções em tamanho real de farmácias do período entre o século XVII e o século XX, entre elas uma trazida na íntegra de Macau, e ainda uma farmácia lisboeta que participou recentemente nas gravações da série da RTP sobre o regicídio.

Um dia, ao olhar para o céu, o diretor deste museu, João Neto, lembrou-se de contactar a NASA e a  Agência Espacial Federal Russa, dado que no museu não havia nada referente às odisseias do homem no espaço.

Assim, após alguns contactos, a farmácia portátil original da missão STS-97 do vaivem espacial Endeavour, em dezembro de 2000, como produtos de higiene pessoal e alimentos utilizados na MIR e na parte russa da Estação Espacial, foram integrados no espólio deste museu.

O próximo projeto será a aquisição e exposição de objetos evocadores da saúde utilizados em filmes ou por pessoas famosas. Prometemos não nos surpreender com as novidades que possamos vir a admirar  numa próxima visita ao Museu da Farmácia...

Este Museu recebeu uma Menção Honrosa na entrega  dos Prémios Anuais de Museologia que a Associação Portuguesa de Museologia (APOM) atribuiu aos museus nacionais que mais se distinguiram em 2011, nas mais variadas vertentes.

O prémio, na categoria de Melhor Intervenção em Conservação e Restauro, valoriza o trabalho de reconstituição da Farmácia Estácio, que se encontra exposta no Museu da Farmácia da cidade do Porto.

Este prémio, visa distinguir também a ação do Museu na recolha e preservação do património farmacêutico desde 1981.


LOCALIZAÇÃO DO MUSEU DA FARMÁCIA:
Rua Marechal Saldanha, 1,
1249-069 Lisboa.
Distrito: Lisboa
Concelho: Lisboa
Freguesia: Santa Catarina
Telef: 213400680








segunda-feira, janeiro 16, 2012

GLOBOS DE OURO 2012 - Premiados










Terminou a 69.ª cerimónia dos Globos de Ouro este domingo dia 15, realizada no Hotel Berverly Hilton de Los Angeles. Promovidos pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, foram entregues 25 estatuetas relativas aos melhores do cinema e da televisão, tendo ainda lugar uma justa homenagem ao grande ator Morgan Freeman, galardoado com o Prémio Cecil B. DeMille, por toda a sua Carreira.


Os filmes " Os Descendentes" e "O Artista" foram os grandes premiados da noite. "O Artista" levou as estatuetas de melhor comédia musical, melhor ator (Jean DuJardin) e melhor banda sonora original (Ludovic Bource). "Os Descendentes) arrecadou os prémios de melhor drama e melhor ator de drama (George Clooney).

Monocromático, mudo e francês, o filme "O Artista" é uma comédia que valeu ao ator gaulês Jean DuJardin o prémio de melhor ator em comédia musical. "Um agente disse-me um dia, que eu nunca faria filmes porque tinha uma cara demasiado grande, demasiado expressiva", disse DuJardin durante a entrega do prémio.

Meryl Streep foi mais uma vez premiada por "Dama de Ferro", na categoria de melhor atriz de drama, e Michelle Williams recebeu o seu primeiro Globo pelo trabalho em "My Weekend with Marylin", como melhor atriz de comédia ou musical.

Na categoria de melhores atores secundários, o veterano Christopher Plummer, de 82 anos, recebeu  o prémio por "Toda Forma de Amor", e Octavia Spencer por "Histórias Cruzadas", onde conseguiu o papel porque era amiga do diretor e acabou por revelar todo o seu talento.

Martin Scorcese recebeu o Globo de melhor diretor pelo filme "Hugo", o seu primeiro trabalho em 3D. A cantora Madonna levou o prémio de melhor canção por "Masterpiece", do filme "W.E.", e apresentou a categoria de melhor filme de língua estrangeira, que foi para o iraniano "A Separação".Steven Spielberg levou o prémio de melhor filme de animação com "As Aventuras de Tintin", enquanto Woody Allen, que não compareceu à cerimónia, com "Meia-Noite em Paris" ganhou o prémio de melhor argumento original.

Os apresentadores da cerimónia foram Ricky Gervais...e um copo de cerveja, na representativa presença do "mundo dos famosos". E para todos, mas especialmente para os que consideram "Os Globos de Ouro" como um termómetro dos "Óscares", a lista dos premiados é a seguinte:

CINEMA

Melhor Filme (Drama): Os Descendentes

Melhor Filme (Comédia ou Musical): 50/50

Melhor Realizador: Martin Scorcese, por A Invenção de Hugo

Melhor Atriz (Comédia ou Musical): Michelle Williams, em A Minha Semana com Marilyn

Melhor Ator (Comédia ou Musical): Jean DuJardin, em O Artista

Melhor Atriz (Drama): Meryl Streep, em The Iron Lady

Melhor Ator (Drama): George Clooney, em Os Descendentes

Melhor Atriz Secundária: Octavia Spencer, em As Serviçais

Melhor Ator Secundário: Christopher Plummer, em Assim é o Amor

Melhor Argumento; Woody Allen, em Meia-Noite em Paris

Melhor Filme Estrangeiro: Uma Separação -Irão.

Melhor Filme de Animação: As Aventuras de Tintin - O Segredo do Licorne

Melhor Banda Sonora Original: Ludovic Bourse, por OArtista

Melhor Canção Original. Masterpiece, W.E.


TELEVISÃO

Melhor Série (Drama): Homeland

Melhor Ator (Drama): Kelsey Grammer, Boss

Melhor Atris (Drama): Claire Daines, Homeland

Melhor Série (Musical ou Comédia): Modern Family

Melhor Ator (Musical ou Comédia): Matt LeBlanc, Episodes

Melhor Atriz (Musical ou Comédia): Laura Dern, Enlightened

Melhor Telefilme ou Minissérie: Downtown Abbey

Melhor Ator em Telefilme ou Minissérie: Idris Elba, Luther

Melhor Atriz em Telefilme ou Minissérie: Kate Winslet, Mildred Pierce

Melhor Ator Secundário em Telefilme ou Minissérie: Peter Dinklage, Game of Thrones

Melhor Atriz Secundária em Telefilme ou Minissérie: Jessica Lange, American Horror Story














sábado, janeiro 14, 2012

BRAGA, CAPITAL DA JUVENTUDE 2012









A cidade de Braga foi a escolhida para Capital Europeia da Juventude 2012. O anúncio foi feito pelo Fórum Europeu da Juventude. Braga é Capital da Juventude na mesma altura em que a cidade de Guimarães é a Capital da Cultura.
Arco da Porta Nova

Cidade do Município de Braga, no noroeste de Portugal, é a capital do Distrito de Braga, a mais antiga arquidiocese uma das principais cidades do país. É a cidade portuguesa mais antiga e também uma das mais antigas cidades cristãs do mundo. Com uma população urbana de 175.063, Braga é o sétimo maior município de em Portugal pela população (62 freguesias e 177.183 habitantes em 2009) e uma das áreas de mais rápido crescimento urbano na União Europeia. Sob o Império Romano, como Bracara Augusta, foi capital da província da Gallaecia.

 Concorreu diretamente com duas cidades gregas - Iráclion, capital da Ilha de Creta, e Byron, situada próxima de Atenas - mas de fora ficaram 7 cidades que apresentaram a candidatura, entre as quais Málaga (Espanha), Sarajevo (Bósnia) e Roubaix (França).

A candidatura de Braga:
A Câmara Municipal de Braga baseou a sua proposta no facto de o concelho ser um dos mais jovens da Europa.

Jovens de Braga

Foi apresentado um programa de atividades centrado em temas como a participação ativa dos jovens na sociedade, espaços ao ar livre para cultura jovem, para aprendizagem informal e/ou diálogo inter-geracional, novas e inovadoras abordagens ao emprego jovem e multi-culturalismo e integração.

Eventos a realizar e destacarem-se:
  • O Fórum YWorld, evento de Abertura da Capital europeia da Juventude 2012, que pretende dar a conhecer junto da comunidade local da vida dos jovens nos vários países do mundo. Objetivo: apontar soluções que promovam a integração, inclusão e proteção dos direitos humanos, assumindo corresponsabilidades nas políticas públicas
  • O Festival"Music of the World", com músicos jovens oriundos dos cinco continentes, que representem tendências musicais das respectivas origens.
  • Criação do Programa AtCampus, que quer oferecer 27 bolsas de estudo a jovens com carências financeiras não contemplados pelo Programa Erasmus. Em troca, o estudante terá de retratar as suas experiências num "weblog".
  • Promover a história local através do curso "Bracara From Augustus".
Esta candidatura foi apoiada pela Secretaria da Juventude e do Desporto, o Conselho Nacional da Juventude, o Instituto Português da Juventude , a Agência Nacional do Programa Juventude em Ação, a Reitoria da Universidade do Minho e algumas estruturas associativas.

Conjunto Pearl Jam

No âmbito dos eventos musicais, a presença do conjunto Pearl Jam parece assegurada, entre outros também de renome.

Este título de "Capital Europeia da Juventude" é atribuído a uma cidade europeia por um período de um ano. Durante esse ano, a cidade terá oportunidade de apresentar um programa multi-facetado que destaque a riqueza, diversidade e características comuns da aproximação intergeracional europeia bem como o empreendedorismo dos jovens do continente.

Santuário do Bom Jesus

Roterdão foi a primeira Cidade Europeia da Juventude em 2009. Atualmente a detentora deste título é a cidade de Antuérpia.

A Capital Europeia da Juventude de Braga começou ÁS 10.00 horas, com a entrada "simbólica" pelo Arco da Porta Nova, a " porta da cidade", iniciando-se assim o "Soft Opening" do dia da abertura. A chuva não conseguiu demover os milhares de jovens que ali acorreram...

A cidade de Braga está de parabéns, assim como Portugal e  todos os seus jovens, pela realização deste evento de projeção à escala mundial...












quarta-feira, janeiro 11, 2012

A MAGIA DA DANÇA (PARTE III) - A VALSA








A primeira dança de salão oficial, a Valsa, a primeira que qualquer aspirante a bailarino aprende, foi apresentada ao mundo em Viena, Áustria, no ano de 1776, e na Alemanha quase simultaneamente. É  um género musical erudito de compasso binário composto ( embora muitas vezes, para facilitar a leitura, seja escrita em compasso ternário). As valsas foram muito tocadas nos salões vienenses e muito dançadas pela corte e toda a elite da época, nos grandiosos salões do Palácio de Hofburg, em Viena.

A Valsa Vienense - Ballet da Ópera de Viena

A palavra "Valsa" deriva do alemão "Walzen", que significa "girar" ou "deslizar". Nada mais apropriado, tendo em conta que esta é uma dança que incorpora um padrão básico de movimentos ( passo-passo-espera ) e resulta numa dupla de bailarinos elegantes que, em ondulações graciosas, mudanças rápidas na velocidade do corpo e as elevações nas pontas dos pés de ambos, tornam a Valsa única. A sua coreografia pode ser originalmente simples, baseada num esquema em diagonal, com um ritmo repetitivo, básico e de fácil memorização, que se traduzem em movimentos leves e suaves, executados na pista sempre no sentido contrário dos ponteiros do relógio.

Johan Strauss I

Curiosamente, uma das danças mais elegantes de todos os tempos teve a sua origem nos dançares tradicionais dos camponeses austríacos. Com algumas adaptações, o folclore camponês, tão popular na Áustria e no sul da Alemanha, entrou pelos salões de dança como um furacão, e foi imediatamente aceite pela sociedade vienense.

A Valsa e o seu sucesso seguiram para França (só em Paris existiram 700 salões de dança) e depois para Espanha e Portugal. Os portugueses, por sua vez, levaram a Valsa na bagagem da sua corte, quando a Corte portuguesa desembarcou no Brasil, em 1808. Foi apresentada nos salões onde dançava a elite do Rio de Janeiro. E assim correndo o mundo, chegou à América, Boston, no ano de 1834, onde não foi tão bem recebida.
Johan Strauss II

Ao contrário das danças existentes até então - onde o par dançava separado ou com os braços esticados e as mãos pousadas nos ombros um do outro - a Valsa implicava um contacto físico muito próximo e, por incrível que pareça, foi desde logo apelidada de "dança proibida" e apontada como uma dança vulgar, ou seja, um autêntico pecado. Este sentimento era ainda partilhado pelo povo inglês, na Europa, onde a aceitação da Valsa foi igualmente lenta.

Por outro lado, a intimidade da Valsa era algo que agradava a muita gente, principalmente aos jovens e, como o "fruto proibido é sempre o mais desejado", não houve resistência suficientemente forte para extinguir a dança.

Aliás a sua popularidade e aceitação continuaram a crescer ao longo de todo o século XIX, por dois motivos: os seus passos básicos eram fáceis de aprender e os salões de dança eram dos "espaços públicos de aproximação, que a época oferecia a namorados e amantes".

Palácio de Hofburg, na actualidade

Em meados do século XIX, a Valsa estava simplesmente na moda e praticava-se em todo o mundo, sem excepção.

Os compositores mais famosos do estilo são os membros da família Strauss, Johann Strauss I e Johann Strauss II. Mais tarde a Valsa foi reinterpretada por compositores como Frédéric Chopin, Joahannes Brahms e Maurice Ravel.

Johann Strauss foi o pai de Johann Strauss II  , e mais dois irmãos, Josef  e Eduard Strauss. Johan Strauss II afirmou muitas vezes admirar as obras de seu pai, mas não era segredo para os vienenses que a rivalidade entre os dois foi intensa, rivalidade fortemente alimentada pela imprensa da época. Strauss pai, morreu em Viena em 1849, vítima de escarlatina, apanhada por contágio de um dos seus filhos ilegítimos.

Baile Anual da Valsa, no Palácio de Hofburg

Quando o pai morreu, o jovem Johann Strauss II fundiu a sua orquestra com a de seu pai e iniciou uma série de "tournées", após as quais compôs uma série de composições patrióticas dedicadas ao imperador Franz Josef I, de Habsburg, provavelmente para agradar aos olhos do novo monarca que subiu ao trono austríaco, após a revolução de 1848.

Strauss Jr. finalmente superou a fama de seu pai, e tornou-se um dos compositores de valsa mais populares da época, fazendo digressões com a sua orquestra por todo o Império Austro-Húngaro, Polónia e Alemanha. Strauss foi admirado por outros compositores como Richard Wagner e tornou-se amigo pessoal de Johannes Brahms, a quem dedicou uma valsa.

Monumento a  Johan Strauss II, em Viena, Áustria.

O legado deixado pelo compositor é vasto, desde a composição de diversas operetas e uma ópera, marcado sobretudo pelas suas valsas tão belas quanto inesquecíveis, como "Danúbio Azul", "Lenda dos Bosques de Viena", a "Valsa do Imperador" e tantas mais. Mas foi  durante a composição do "ballet" "Aschenbrödel", que Johan Strauss II morreu, em 1899.

Apesar da popularidade inicial da valsa ter sido confrontada com alguma resistência, a mais conhecida dança de salão de sempre sobreviveu a todas as críticas, mostrando o seu valor nas melhores pistas de dança do mundo. Com o passar dos anos, serviu de base à criação de outras danças, igualmente populares e assumiu diversas variações:

  • Valsa Vienense: a pioneira, dança-se a um ritmo bastante rápido.
  • Valsa Moderna ou Inglesa: uma variante da Valsa Vienense, dança-se a um ritmo mais lento.
  • Valsa Internacional Standard: o par mantém sempre a posição "fechada", normalmente é apenas dançada em competições internacionais.
  • Valsa Estilo Americano: incorpora vários movimentos onde o par deixa praticamente de ter contacto um com o outro.
  • Valsa Peruana: muito semelhante à Valsa Moderna, difere na música, que é fortemente influenciada pelos sons latinos e espanhóis.
  • Valsa Venezuelana: os venezuelanos incluíram novos passos e a sua própria música, à Valsa clássica.
  • Valsa "Cross Step": como o próprio nome indica, esta Valsa inclui um passo especial, que é cruzado

Aceitemos o convite e, dançando ou simplesmente assistindo, vamos gozar a beleza da Valsa...






sábado, janeiro 07, 2012

O CANTO GREGORIANO










Este dia que assinala oficialmente, no Calendário Litúrgico, o Dia da Epifania do Senhor,e que encerra as festividades do tempo natalício para um novo tempo, sugeriu-me escrever esta publicação simples. Escreverei sobre um tema que desde há muito me fascina e me delicia, assim como a grande parte do mundo religioso, ou não: o canto Gregoriano.

Canticos de "Schola Scolarum"

O canto gregoriano é a mais antiga manifestação musical do Ocidente e tem as suas raízes nos cantos das antigas sinagogas, desde o tempo de Jesus Cristo. Os primeiros cristãos e discípulos de Cristo foram judeus convertidos que, perseverantes na oração, continuaram a cantar os salmos e cânticos do Antigo Testamento como estavam acostumados, embora com outro sentido. À medida que os não judeus gregos e romanos também se foram tornando cristãos, elementos da música e da cultura greco-franco-romana foram sendo acrescentados às canções judaicas.


Papa S. Gregório I,  o Magno
O período de formação do canto gregoriano vai dos séculos I ao VI, atingindo o seu auge nos séculos VII e VIII, quando foram feitas as mais lindas composições e, finalmente nos séculos IX, X e XI, princípio da Idade Média. Começa então a sua decadência. O seu nome é uma homenagem ao papa Gregório I, "o Magno"(560-604), que fez uma grande coletânea de peças, publicando-as em dois livros: o Antifonário, conjunto de melodias referentes às Horas Canónicas, e o Gradual Romano, contendo os cantos da Santa Missa. Foi ainda o papa Gregório I, quem iniciou a "Schola Cantorum", que deu grande desenvolvimento ao canto gregoriano.

A partir da iniciativa de dom Mocquereaux, no final do séc. XIX, o Mosteiro de São Pedro de Solesmes, na França, passou a ser o grande centro de estudos e prática do canto gregoriano. Os seus monges, na época, deram início a um trabalho de paleografia (estudo dos manuscritos antigos) de canto gregoriano e de recuperação de sinais escritos nos séculos VIII e IX.

Compilação dos cantos gregorianos do Mosteiro
de São Domingo de Silos
No começo do século XX, o papa Pio X pede aos monges beneditinos para fazerem uma edição moderna à luz dos manuscritos, surgindo então a Edição Vaticana. Após a realização do Concílio Vaticano II (1965), o latim deixou de ser a língua ofIcial na liturgia da Igreja, e as celebrações litúrgicas passaram a ser realizadas na língua vernácula de cada país e a prática do canto Gregoriano ficou restrita aos mosteiros e a grupos de admiradores e aficionados da beleza desta palavra-cantada, definida por Santo Agostinho como " a Bíblia cantada, a partir dos textos sagrados".

As principais características do canto Gregoriano, também conhecido como canto chão, são: as melodias cantadas em uníssono (monódico), sem predominância de vozes, ou seja, rigorosamente homofónico; de ritmo livre, sem compasso, baseado apenas na acentuação e no fraseado; cantado " a capella", isto é, sem acompanhamento de instrumentos musicais e as suas letras são em latim, tiradas, na sua maioria, dos  textos bíblicos, sobretudo os salmos.

Mosteiro de São Domingo de Silos, em Espanha

Pessoalmente, não dispenso o eco ou a impressionante ressonância das paredes conventuais, que chega a provocar arrepios...Neste tipo de canto, qualquer voz do estilo operístico que evedencie o intérprete, não tem lugar, o texto tem toda a primazia sobre a melodia, e é quem dá o sentido a esta.

Em 1994 houve um "renascimento" do canto Gregoriano quando foi lançado pela EMI, em CD, um disco que havia sido gravado há mais de vinte anos pelos monges do Mosteiro de Santo Domingo de Silos, no norte de Espanha. O disco atingiu o primeiro lugar em vendas em diversos países, alcançando os 5 milhões de cópias vendidas.

O conjunto alemão Enigma gravou o disco MCMXC A.D., com músicas rock (Sadness e outras) em estilo gregoriano, que também obteve um sucesso tremendo em todo o mundo. Outros grupos e outras músicas têm seguido este exemplo, sempre com enorme êxito, como "The Sound of Silence", "Tears in Heaven" "In the air tonight" e tantas outras mais.


Deliciemo-nos com estes cantos, o primeiro mais tradicional e o segundo mais elaborado, e que igualmente nos convidam à reflexão... 








sexta-feira, janeiro 06, 2012

DIA DE REIS, 6 DE JANEIRO - As Suas Tradições







Boas noites, meus senhores,
Boas noites vimos dar,
Vimos pedir as Janeiras,
Se no-las quiserem dar!
(Quadra popular)





Os Três Reis Magos ou simplesmente Reis magos ou Magos, na tradição cristã, teriam visitado Jesus logo após o seu nascimento, trazendo-lhe presentes. Foram mencionados apenas no Evangelho segundo Mateus, onde se afirma que teriam vindo "do leste" para venerar o Cristo, "nascido Rei dos Judeus".

Portal dos Reis Magos na cidade Natal, Rio Grande do Norte

Como três presentes foram mencionados, tradicionalmente diz-se que teriam sido três, embora Mateus não tenha especificado o seu número. Constantemente mencionados nos relatos da natividade e comemorações do natal, Belchior ou Melchior, Baltasar e Gaspar, não seriam reis, mas sim, talvez, sacerdotes de religião zoroástrica da Pérsia ou conselheiros. Calcula-se que teriam sido três, em função do número do presentes oferecidos.

Talvez fossem astrólogos ou astrónomos, pois, segundo consta, viram uma estrela e foram, por isso, até à região onde nascera Jesus, dito o Cristo. Assim os magos sabendo que se tratava do nascimento de um rei, foram ao palácio do cruel rei Herodes em Jerusalém da Judéia. Questionaram o rei sobre a criança. Este disse nada saber. Herodes alarmou-de e sentiu-se ameaçado, e pediu aos magos que, se o encontrassem o informassem, pois também iria adorá-lo, embora as suas intenções fossem, na realidade, de o matar. Até que os magos chegassem ao local onde estava o menino, havia já passado algum tempo, por causa da distância percorrida, assim a tradição atribuiu a data de 6 de janeiro à visita dos Reis Magos.

Cofre simbólico, contendo incenso, ouro e mirra

A estrela que os precedia, segundo o Evangelho, parou sobre onde estava o menino Jesus. "E vendo a estrela, alegraram-se eles com grande e intenso júbilo" (Mt 2 10). Os Magos ofereceram três presentes ao menino Jesus: ouro incenso e mirra, cujo significado e simbolismo espiritual é, juntamente com a visita dos Magos, um resumo do evangelho e da fé cristã.

O ouro pode significar a realeza. O incenso pode representar a fé, pois o incenso é usado nos templos para simbolizar a oração que chega a Deus, como a fumaça chega aos céus (Salmos 141:2). A mirra, resina antiséptica usada em embalsamentos desde o Egipto antigo, recorda-nos a morte de Jesus, o martírio, tendo sido exatamente um composto de mirra e aloés utilizado no embalsamento de Jesus, segundo o comprovaram os estudos feitos no Sudário de Turim .

"Entrando na casa, viram o menino (Jesus), com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e abrindo os tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra." (Mt 2. 11). "Sendo por divina advertência prevenidos em sonho a não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra" (Mt 2, 12). Nada mais a Escritura diz sobre esta história cheia de poesia, não havendo também quaisquer outros documentos históricos sobre eles.

Romãs, os seus bagos e a tradição

Devemos aos Magos a tradição de trocar presentes do Natal. Em Espanha. por exemplo, e países de língua espanhola, a principal troca de presentes é feita neste dia 6 de janeiro e não no dia de Natal, e os pais fantasiam-se de reis magos.

É também nesta altura que as igrejas do oriente celebram o Natal. Na Hungria as crianças vestem-se de reis magos e vão de porta em porta, transportando presépios nas mãos, pedir moedas. Na Alemanha as crianças também se fantasiam de reis magos e escrevem as iniciais do nome nas portas das casas. Em Portugal, como um pouco por todo o mundo, existe a tradição de comer os bagos das romãs, pedindo aos Reis Magos saúde, dinheiro, paz e amor. Manda a tradição que se coloquem três bagos de romã na carteira, para ter dinheiro no Ano Novo. Embrulham-se em alumínio três bagos para a "gaveta do dinheiro" (normalmente a carteira) para que nunca falte dinheiro, mais três para a "gaveta do pão"(geralmente congelador) para ter pão todo o ano, e ainda três bagos para a "gaveta da roupa".

Cantando as Janeiras

Existe ainda a tradição de se cantar as Janeiras, uma tradição muito antiga. Em muitas aldeias esta tradição mantém-se viva, especialmente no Norte de Portugal e nas Beiras e vai passando de geração em geração, assim como o reportório musical que lhe está associado. Na noite de Reis, formam-se grupos de pessoas que percorrem as ruas, indo de casa em casa, cantando e tocando alguns instrumentos, como pandeireta, ferrinhos, tambor e acordeão,desejando assim um bom ano aos seus vizinhos. Normalmente são convidados a entrar e são-lhes oferecidos petiscos como filhozes, chouriço assado, vinho...

Por fim, e para terminar esta mensagem de maneira doce e agradável, guardei a tradição do nosso Bolo Rei.
Diz a história que teriam sido os Três Reis Magos que deram origem a este famoso bolo, simbolizando os presentes que os magos levaram ao menino Jesus, quando do seu nascimento: o ouro, o incenso e a mirra.

O delicioso Bolo Rei

De acordo com a simbologia, a côdea simboliza o ouro, as frutas cristalizadas e secas, representam a mirra; e o aroma do bolo assinala o incenso. Certo é que o bolo, devido às frutas e forma circular com um buraco no centro, assemelha-se a uma coroa incrustada de pedras preciosas.

A fava e o brinde, incorporados no bolo, hoje em desuso por questões de segurança alimentar, têm também uma explicação tradicional. Segundo a lenda, quando os Reis Magos viram a estrela que anunciava o nascimento de Jesus, disputaram entre si qual dos três teria a honra de ser o primeiro a brindar o Menino.Com vista a acabar com esta discussão, um padeiro confeccionou um bolo escondendo no seu interior uma fava, para que aquele que a apanhasse fosse o primeiro a entregar o presente. A história, no entanto, não conta qual foi o feliz contemplado...


Doação dos presentes dos Magos ao Menino Jesus
Até há bem pouco tempo, quem recebesse a fava, teria de oferecer o Bolo Rei no ano seguinte. A fava, amaldiçoada pelos sacerdotes egípcios que a viam como alojamento para os espíritos, é considerada como elemento negativo, representando uma espécie de azar. O brinde, colocado no bolo como um presente, assumiu as mais diversas formas: moedas, medalhas, alfinetes, qualquer pequeno objecto simbólico. As regras comunitárias interditaram esta tradição no fabrico do bolo, como medida de segurança.


Sem presente, com ou sem fava, modernamente com diversas variantes, o Bolo Rei continua a fazer as delícias do paladar dos portugueses e não só...


De todos quantos apreciam a nossa deliciosa doçaria!






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