segunda-feira, junho 29, 2015

PELA NOITE, RECORDANDO ALMEIDA GARRETT: "BARCA BELA"






BARCA BELA


Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Ó pescador?


Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!


Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!


Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ó pescador!


Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Ó pescador!


ALMEIDA GARRETT



IMAGEM DO DIA, COM PEDRO CHAGAS FREITAS: "QUERES CASAR COMIGO TODOS OS DIAS, BÁRBARA?"









domingo, junho 28, 2015

PELA NOITE, COM CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: " JOSÉ"





JOSÉ


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?


Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE




Carlos Drummond de Andrade nasceu a 31 Outubro 1902 (Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, Brasil) e morreu a 17 Agosto 1987 (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil).
Foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado hoje, talvez o mais influente poeta brasileiro do século XX.


IMAGEM DO DIA, COM PEDRO CHAGAS FREITAS: "QUERES CASAR COMIGO TODOS OS DIAS, BÁRBARA?"










“QUEIMA DO GATO” NÃO É TRADIÇÃO… É CRIME!







O vídeo de um gato a arder, publicado no YouTube e que alegadamente regista uma "tradição" das festas de São João no concelho de Vila Flor, tem sido recebido com indignação nas redes sociais. O caso, que ocorreu na freguesia de Mourão, foi denunciado pela associação de defesa dos animais Midas. O vídeo foi inicialmente disponibilizado online pelo Grupo de Danças e Cantares de Vila Flor, mas a onda de contestação que se gerou levou a que tivesse sido entretanto removido.
A população de Mourão, no concelho Vila Flor, Bragança, já está a braços com a Justiça devido a esta tradição de São João .

Entretanto a Associação Midas denunciou hoje este caso  de umas festas populares que queimam um gato vivo, tudo em nome da tradição, faz lembrar o festival na China em que matam cães:


“O Vídeo tem a duração de 5:54m [nós editamos as partes que tinha o bailarico] mas os factos criminosos ocorrem durante o último minuto no qual se podem ver as imagens chocantes. Um gato que é fechado dentro de uma peça de barro, colocado no cimo de um poste, a imensos metros de altura. O gato vai sendo “assado” vivo e, por fim, cai, com o gato a arder. Com toda a certeza acabará por morrer, após o sofrimento brutal que lhe foi infligido.

Os factos terão ocorrido na noite de S. João, na freguesia de Mourão, Vila Flor sob o nome FESTAS DE SÃO JOÃO NO MOURÃO 2015. “A Queima do gato é uma festa tradicional portuguesa que tem lugar no Mourão (Vila Flor) durante a época das festas de São João”, diz a associação na sua página de Facebook. Esta tradição supostamente tinha sido abolida em 2008, mas pela calada afinal continuam com esta barbárie.
“Por favor, DENUNCIEM JÁ ESTE CRIME DE MAUS-TRATOS A ANIMAIS para o Tribunal Judicial da Comarca de Vila Flor, SERVIÇOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO e à GNR de Vila Flor:
Enviar para: vilaflor.tc@tribunais.org.pt; ct.bgc.dmdl.pvlf@gnr.pt
Com o conhecimento destes:



Ajudem os animais, acabando com barbáries como esta.
Os animais têm direitos consagrados pela lei, como nós:https://dre.pt/application/file/56384663










sábado, junho 27, 2015

PELA NOITE, COM RUDYARD KIPLING: " SE " ( IF)





Se ( IF )

  
Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.

Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas

Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos

Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres

Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos

Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo

Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruíres tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo

Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.

Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"

Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente

Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender

Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado

Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam

Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!


RUDYARD KIPLING


(Tradução de Vitor Vaz da Silva do poema "IF" de Rudyard Kipling)



O PAPA FRANCISCO RECEBEU OS PAIS DAS VÍTIMAS DA TRAGÉDIA DO MECO NESTA QUARTA FEIRA



"Tivemos muitas pessoas que nos perguntaram o que estávamos a fazer 
e eu falei-lhes dos nossos filhos. 
Prometeram rezar pela nossa causa." 



Pais das vítimas do Meco reuniram esta quarta-feira com o Papa Francisco. No meio da multidão que ontem gritava pelo papa na audiência geral na Praça de  S. Pedro, no Vaticano, estava um grupo cujas lágrimas teimam em cair há já ano e meio. Eram os pais dos seis jovens que morreram na praia do Meco. A tragédia que os fez pedir ao Vaticano um encontro com o papa. 
O santo padre deu a mão aos pais dos seis jovens que morreram em dezembro de 2013. 

"Vou continuar a rezar por vocês", prometeu o papa Francisco. 

Palavras que deixaram os pais comovidos. 

"Senti uma força enorme para continuar a nossa luta. Acho que nos recebeu muito bem. O amor de mãe é maior do que a mentira. Vamos daqui com muita força. Senti o conforto que precisava. Ela (a filha Carina Sanchez) faria o mesmo por mim se cá estivesse. O papa olhou para a fotografia da minha filha e disse que ela era linda", declarou aos jornalistas Conceição Horta, mãe de Carina Sanchez. 
Às dez da manhã de ontem, o papa Francisco saudou a multidão no papa móvel e a seguir proferiu a homilia cujo tema foi dedicado à família.

Por sua vez, Anabela Pereira, mãe de Tiago Campos, antigo estudante da Universidade Lusófona e uma das vítimas desta tragédia que tanto nos impressionou, publicou uma declaração sentida na sua página no Facebook:


“Não se supera a morte de um filho, nunca. Ontem o meu mundo estava preenchido, hoje nada neste mundo preenche o vazio que existe em mim. Nunca deixarei de falar em ti, meu filho, nunca deixarei que te esqueçam e serás sempre o meu Tiago André, o meu menino, o meu homenzinho, este amor e este orgulho é que me fazem levantar diariamente a cabeça. Jamais penses que te esqueço um minuto sequer por dia, sorriu por fora, mas, a minha alma e o meu coração choram por dentro”.






quinta-feira, junho 25, 2015

O ATOR JAMES HORNER(1953-2015), CRIADOR DAS BANDAS SONORAS DE "TITANIC", "AVATAR" E TANTAS OUTRAS, DEIXOU-NOS...






“Quando perdemos um personagem, quando alguém ganha, quando alguém perde, quando alguém desaparece 
– em todas as vezes eu controlo, constantemente, 
o que é suposto o coração sentir.”


Morreu nesta segunda-feira o compositor James Horner (1953-2015), responsável por grandes sucessos musicais na indústria cinematográfica de Hollywood. É o autor de bandas sonoras de filmes como Titanic e Avatar. O músico de 61 anos, morreu num acidente devido à queda do seu avião pessoal em Santa Barbara, Califórnia, EUA, que pilotava. Era o único a bordo.

Com o filme Titanic, de James Cameron, em 1997, Horner recebeu dois Óscares, um pela banda sonora e outro para melhor canção original com o tema My heart will go on, cantado por Celine Dion. Neste último, o músico partilhou o prémio com o compositor Will Jennings. Ao todo, em todo o mundo, venderam-se mais de 27 milhões de cópias desta banda-sonora.
James Horner foi ainda nomeado oito vezes com a música de produções cinematográficas como Avatar (2009), Uma Mente Brilhante (2001), Apollo 13 (1995), Braveheart (1995) ou o segundo filme da saga Alien (1986).

A sua parceria com James Cameron tornou-o no compositor dos dois filmes mais lucrativos de sempre em Hollywood: Avatar fez mais de 5 mil milhões de euros em bilheteiras e Titanic somou 4,4 mil milhões de euros.
Horner começou a estudar música aos cinco anos quando começou a ter lições de piano. Estudou no Royal College of Music, em Londres, antes de se mudar para a Califórnia nos anos 1970. Já nos Estados Unidos, continuou os estudos na área da música, dedicando-se à composição. O seu primeiro grande trabalho como compositor aconteceu em 1982 quando compôs a banda sonora de Star Trek II: The Wrath of Khan, de Nicholas Meyer. 



Começava assim a sua aventura em Hollywood, onde trabalhou com nomes maiores da arte como George Lucas, Steven Spielberg ou Oliver Stone, além de James Cameron e Ron Howard. James Horner tem hoje o seu crédito em 158 composições para filmes, televisão e documentários.

James Cameron ainda não reagiu à morte do compositor de vários dos seus filmes mas em 2011 quando este foi homenageado no EDIT Filmmakers Festival, em Frankfurt, o realizador falou de como Horner reinventou a música romântica no filme Titanic. “Eu desafiei-te para fazeres uma banda sonora poderosa sem violinos”, contou então. “Avatar foi um desafio diferente – capturar o coração e o espírito de uma cultura alien sem alienar o público. Ao combinar a extensão de uma partitura orquestral clássica com instrumentos indígenas e vocais, criaste um som único que deu uma dimensão épica ao filme e também um sentido infantil de maravilhar e experienciar esse mundo fantástico pela primeira vez.”

Sempre ocupado e cheio de trabalho, James Horner deixa trabalho feito ainda por chegar às salas. É o compositor de três filmes ainda por estrear: Southpaw, o drama de boxe com Jake Gyllenhaal e Rachel McAdams e que chegará aos cinemas em Julho; Wolf Totem, de Jean-Jacques Annaud com estreia marcada para Setembro; e The 33, sobre o desastre dos mineiros do Chile em 2010 e que se estreia em Novembro.
                                                
Descanse em paz.

   


segunda-feira, junho 22, 2015

PELA NOITE, COM MANUEL BANDEIRA: "A ESTRELA DA MANHÃ"







ESTRELA DA MANHÃ


Eu queria a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda à parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com malandros
Pecai com sargentos
Pecai com fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás

Procurem por toda à parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.


MANUEL BANDEIRA



Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Nasceu a 19 Abril 1886 no Recife, Pernambuco, Brasil. Morreu a 13 de outubro de 1968 no Rio de Janeiro.

Estrela da manhã, é um poema representativo da literatura contemporânea. Avulta o tom erótico, denso e sugestivo, expondo um Bandeira viril e carnal. A mulher inatingível, difícil, até mesmo decadente, preenche, com seu corpo, a imaginação do poeta.
A visão desses dois mundos - o ideal, do sonho, onde habita o que está por ser atingido, e o material, da realidade das ruas - transparece liricamente neste poema.

Estrela da Manhã é um dos mais expressivos poemas lírico-amoroso de todo o Modernismo. Celebra a mulher amada, evocada na metáfora "estrela". A enumeração caótica das imagens, o desconcerto amoroso...

Depois da leitura deste poema, não sabemos com absoluta convicção o que esta estrela simboliza. Uma mulher experiente que o poeta deseja? Uma prostituta? A própria vida a que Bandeira pela doença foi obrigado a abdicar?



IMAGEM DO DIA, COM LUCCIANO LUPI










sábado, junho 20, 2015

VIVA O VERÃO!







"Quero apenas cinco coisas.
A primeira é ver o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são  teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser...sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando".
  

PABLO NERUDA




IMAGEM DO DIA, COM MIA COUTO











sexta-feira, junho 19, 2015

PELA NOITE, COM ESTE BELO POEMA DE VASCO GRAÇA MOURA: "SONETO DO AMOR E DA MORTE"







SONETO DO AMOR E DA MORTE


quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.



VASCO GRAÇA MOURA,
in Antologia dos Sessenta Anos (Ed. Asa, 2002)




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