ESTRELA DA MANHÃ
Eu queria a
estrela da manhã
Onde está a
estrela da manhã?
Meus amigos
meus inimigos
Procurem a
estrela da manhã
Ela
desapareceu ia nua
Desapareceu
com quem?
Procurem por
toda à parte
Digam que
sou um homem sem orgulho
Um homem que
aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a
estrela da manhã
Três dias e
três noites
Fui
assassino e suicida
Ladrão,
pulha, falsário
Virgem
mal-sexuada
Atribuladora
dos aflitos
Girafa de
duas cabeças
Pecai por
todos pecai com todos
Pecai com
malandros
Pecai com
sargentos
Pecai com
fuzileiros navais
Pecai de
todas as maneiras
Com os
gregos e com os troianos
Com o padre
e o sacristão
Com o
leproso de Pouso Alto
Depois comigo
Te esperarei
com mafuás novenas cavalhadas
comerei
terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu
desfalecerás
Procurem por
toda à parte
Pura ou
degradada até a última baixeza
Eu quero a
estrela da manhã.
MANUEL
BANDEIRA
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de
literatura e tradutor brasileiro. Nasceu a 19 Abril 1886 no Recife, Pernambuco, Brasil.
Morreu a 13 de outubro de 1968 no Rio de Janeiro.
Estrela da manhã, é um poema representativo da literatura contemporânea. Avulta o tom erótico, denso e sugestivo, expondo um Bandeira viril e carnal. A mulher inatingível, difícil, até mesmo decadente, preenche, com seu corpo, a imaginação do poeta.
A visão
desses dois mundos - o ideal, do sonho, onde habita o que está por ser
atingido, e o material, da realidade das ruas - transparece liricamente neste
poema.
Estrela da Manhã é um dos mais expressivos poemas lírico-amoroso de todo o Modernismo. Celebra a mulher amada, evocada na metáfora "estrela". A enumeração caótica das imagens, o desconcerto amoroso...
Depois da leitura deste poema, não sabemos com absoluta convicção o que esta estrela simboliza. Uma mulher experiente que o poeta deseja? Uma prostituta? A própria vida a que Bandeira pela doença foi obrigado a abdicar?
Sem comentários:
Enviar um comentário