O primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques, notabilizou-se não só pelo valor guerreiro e nobre, mas principalmente por uma grande santidade. É assim que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo lhe aparece para manifestar ao mesmo o desejo de fundar um grande reino através de seus descendentes e pedindo que coloque os símbolos da Paixão no brasão de Portugal.
Dom Afonso Henriques tinha uma grande e entranhada
devoção ao Arcanjo São Miguel. Antes do rei haver tido a visão de Nosso Senhor,
apareceu-lhe um Embaixador angélico, dizendo-lhe: “Sois amado do Senhor, porque
sem dúvida pôs sobre vós, e sobre vossa geração depois de vossos dias, os olhos
de sua misericórdia, até a décima sexta descendência, na qual se diminuirá a
sucessão, mas nela assim diminuída, Ele tornará a pôr os olhos e verá”.
Em seguida, declara o próprio rei: “Obedeci, e prostrado
em terra, com muita reverência, venerei o embaixador e Quem o mandava. E como
posto em oração, aguardava o som, na segunda vela da noite ouvi a campainha, e
armado de espada e rodela saí fora dos reais, e subitamente vi à parte direita,
contra o nascente, um raio resplandecente indo-se pouco a pouco clareando, cada
hora se fazia maior. E pondo de propósito os olhos para aquela parte, vi de
repente, no próprio raio, o sinal da Cruz, mais resplandecente que o sol, e um
grupo grande de mancebos resplandecentes, os quais creio que seriam os santos
anjos..”
O santo rei, chorando maravilhado com a visão, vê
finalmente Nosso Senhor, que lhe diz: “Não te apareci deste modo para
acrescentar tua fé, mas para fortalecer teu coração neste conflito, e fundar os
princípios do teu reino sobre pedra firme. Confia, Afonso, porque não só
vencerás esta batalha mas todas as outras em que pelejares contra os inimigos
da minha cruz. Acharás tua gente alegre e esforçada para a peleja, e te pedirá
que entre na batalha com o título de rei. Não ponhas dúvida, mas tudo quanto te
pedirem lhes concede facilmente. Eu sou o fundador e destruidor dos reinos e
impérios, e quero em ti e em teus descendentes fundar para Mim um império, por
cujo meio seja Meu nome publicado entre nações mais estranhas. E para que teus
descendentes conheçam Quem lhes dá o reino, comporás o escudo de tuas armas do
preço com que Eu remi o género humano, e daquele por que Fui comprado pelos
judeus, e ser-Me-á reino santificado, puro na fé e amado da minha piedade”. Até
os dias de hoje permanecem os estigmas da Paixão no escudo da grande nação
portuguesa.
Um episódio demonstra quanto os homens que cercavam o rei
Dom Afonso Henriques eram também de grande valor. O rei de Leão, Afonso VII,
estava cercando as tropas de Afonso Henriques e a derrota deste parecia
iminente. Egas Moniz, que fora educador de Afonso Henriques, vai até Afonso VII
e empenha sua palavra de que seu antigo pupilo lhe prestaria obediência.
Confiando na promessa do nobre português, o rei de Leão levanta o cerco.
Como Dom Afonso Henriques não cumpriu a palavra, que
aliás não dera, Egas Moniz vai até junto do rei de Leão, acompanhado da mulher
e filhos, em traje de penitente, pedindo que o mesmo lhe castigue por não se
ter cumprido o que prometera. E o castigo, Egas Moniz o sabia, poderia ser a
pena de morte. Admirado com tal grandeza de alma, o rei manda de volta e em paz
o fidalgo português.
Dom Afonso Henriques continua suas conquistas,
principalmente contra os mouros. Em 1147 domina Santarém, que era um grande
baluarte islâmico. Algum tempo depois, sob o comando pessoal de Al-Baraque, rei
de Sevilha, Santarém é sitiada. O santo rei vê-se impotente para liderar a
defesa dos cristãos pois estava ferido numa perna e sem poder montar a cavalo.
Mesmo assim, arrisca-se e vai lutar pela defesa de seus homens em Santarém.
Quando se encontrava no meio dos combates, Dom Afonso Henriques vê, junto de
si, um braço levantado brandindo uma espada. Percebe claramente que um Anjo do
Senhor estava a seu lado para protegê-lo.
Quando os combates estavam em sua fase mais renhida e
sangrenta, o braço angélico começou a desferir mortais golpes contra os mouros,
os quais fugiam aterrorizados e deixavam o campo de batalha à mercê dos
soldados cristãos. Os próprios soldados agarenos, presos durante a batalha,
confessaram ter visto o braço angélico armado com a espada a lhes deferir mortais
golpes.
Como prova de gratidão por tão insigne favor divino, Dom
Afonso Henriques fundou a Ordem militar com o nome de “São Miguel da Ala” (a
palavra “ala” é aplicada no sentido de “levantada” ou “alada”), em honra
daquela intervenção angélica. Seus descendentes estabeleceram o costume de
colocar nos seus filhos os nomes dos três Arcanjos, São Miguel, São Gabriel e
São Rafael, também em honra desta batalha.
Cresce a devoção ao Anjo de Portugal ao longo dos anos. A pedido do rei Dom Manuel e dos bispos portugueses, o
Papa Leão X instituiu em 1504 a festa do «Anjo Custódio do Reino» cujo culto já
era antigo em Portugal.
Oficializada a celebração tradicional, Dom Manuel expediu
alvarás às Câmaras Municipais a determinar que essas festas em honra do Anjo da
Guarda de Portugal fossem celebradas com a maior solenidade. Na referida festa
deveriam participar as autoridades e instituições das cidades e vilas, além de
todo o povo. Por determinação das Ordenações Manuelinas a festa do Anjo de
Portugal era equiparada à festa do Corpo de Deus, já então a maior festa
religiosa de Portugal, em que toda a nação afirma a sua Fé na presença real de
Cristo na eucaristia.
Esta celebração manteve o seu esplendor durante os
séculos XVI, XVII e XVIII, período em que Portugal mantinha grande poder e
muita religiosidade, e decaiu no século XIX quando o país já estava em
decadência.
De acordo com o testemunho dos Pastorinhos de Fátima, em
1915 e 1916 o Anjo de Portugal apareceu por diversas vezes a anunciar as
aparições de Nossa Senhora nesta sua Terra de Santa Maria e deu aos Pastorinhos
a comunhão com o «preciosíssimo corpo, sangue, alma e divindade de Jesus
Cristo» como ele próprio declarou.
O culto do Anjo de Portugal teve o seu maior brilho nas
cidades de Braga, Coimbra e Évora, especialmente na diocese de Braga, Sé primaz
de Portugal, onde se celebrava a 9 de Julho.
No tempo de Pio XII a festa do Anjo de Portugal foi
restaurada para todo o País e transladada para o dia 10 de Junho a fim de que o
Dia de Portugal fosse também o Dia do Anjo de Portugal.
Fonte: Portugal Misterioso
Publicada por Real Associação do Médio Tejo http://comendadoriadesantamariadocastelo.blogspot.pt/2014/06/s-anjo-da-guarda-de-portugal.html
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