BLUES DA
MORTE DE AMOR
já ninguém
morre de amor, eu uma vez
andei lá
perto, estive mesmo quase,
era um tempo
de humores bem sacudidos,
depressões
sincopadas, bem graves, minha querida.
mas afinal
não morri, como se vê, ah não
passava o
tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci
bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim,
pela noite dentro, minha querida.
a gente
sopra e não atina, há um aperto
no coração,
uma tensão no clarinete e
tão
desgraçado o que senti, mas realmente,
mas
realmente eu nunca tive jeito, ah não,
eu nunca
tive queda para kamikaze,
é tudo uma
questão de swing, de swing minha querida,
saber sair a
tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me
arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.
há ritmos na
rua que vêm de casa em casa,
ao acender
das luzes. uma aqui, outra ali.
mas pode ser
que o vendaval um qualquer dia venha
no
lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu
nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha
querida, toda a gente do bairro,
e então
murmurarei, a ver fugir a escala
do
clarinete:- morrer ou não morrer, darling, ah, sim.
VASCO DA
GRAÇA MOURA
(Portugal)
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