Quem morreu, no domingo, de insuficiência respiratória e
cardíaca no Hospital de Chelsea e Westminster, em Londres, foi o Drácula da Hammer, foi o intérprete por
excelência do maravilhoso cinema de terror britânico de entre os anos 50 e os
anos 70, foi o actor essencial na obra desse grande cineasta que foi Terence
Fisher. Os Anéis, a Guerra das Estrelas, são adendas.
Mesmo os filmes de Tim Burton, o cineasta contemporâneo
que (assim como com Vincent Price) melhor o tratou, e em cujos filmes entrava
regularmente desde os anos 90 (A Lenda do
Cavaleiro sem Cabeça), são adendas,
que têm acima de tudo o mérito de confirmar a implantação de Christopher Lee
num imaginário cinéfilo “trans-geracional”, e de atestar a sua vontade de não
ficar quieto, continuar sempre a trabalhar e, como disse um dia, “morrer de botas calçadas”.
Figuradamente, morreu calçado: as notícias dizem que ainda no mês passado tinha
confirmado a sua participação num filme dinamarquês de elenco internacional, a
rodar em breve.
Christopher Lee morreu com 93 anos e uma filmografia
enorme, com mais de 200 títulos, e fazia cinema desde o final dos anos 40. Foi
no mesmo ano do filme de Ray, 1957, que a sua carreira deu uma volta: entrou no
seu primeiro produzido pelos britânicos estúdios da Hammer, The Curse of Frankenstein, dirigido por
Terence Fisher, a fazer o papel do monstro.O filme foi um sucesso colossal.
E trabalho não faltou a Christopher Lee. Se Drácula e as suas variações, de Terence
Fisher a Jess Franco, foi a figura que mais o celebrizou, também foi Fu Manchu, Rasputine, Sherlock Holmes
(para Terence Fisher) e o seu irmão Mycroft
(para Billy Wilder).
A partir do final dos anos 70, radicado nos EUA e já
transformado em “ícone” da cinefilia, foram os realizadores cinéfilos que lhe
dão os papeis simbolicamente mais significativos, de Spielberg (1941 Ano Louco
Em Hollywood) a Tim Burton (vários filmes), passando por Joe Dante (Gremlins 2), antes do novo fôlego e da
renovação da sua popularidade que advieram da sua participação em duas das mais
populares séries das últimas décadas, a Guerra
das Estrelas e os filmes baseados nos livros de J.R. Tolkien.
Certa vez, comentando o empenho que punha no seu trabalho
mesmo nos filmes mais esfarrapados, disse algo como isto: “O filme pode ser uma bosta, mas a minha interpretação não tem que o
ser”.
Descanse em paz.
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