domingo, agosto 30, 2015

À NOITINHA, COM FERNANDO PESSOA: "ORAÇÃO"







ORAÇÃO


Senhor, que és o Céu e a Terra,
E que és a Vida e a Morte!
O Sol és tu e a Lua és Tu,
E o Vento és Tu também!
Onde nada está Tu habitas e onde tudo está é o Teu templo.
Eis o Teu Corpo!
Dá-me vida para Te servir e alma para Te amar.
Dá-me vista para Te ver sempre no Céu e na Terra,
Ouvidos para Te ouvir no Vento e no Mar,
Mãos para trabalhar em Teu nome.
Torna-me puro como a água e alto como o céu.
Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos
Nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos.
Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos
E Te servir como a um Pai.
Minha vida seja digna da Tua presença.
Meu corpo seja digno da Terra tua cama
Minha alma possa aparecer diante de Ti,
Como um filho que volta ao lar.
Torna-me grande como o Sol,
Para que eu Te possa adorar em mim
E torna-me puro como a Lua,
Para que eu Te possa rezar em mim;
E torna -me claro como o dia para que
Eu te possa ver em mim.
Senhor,protege-me e ampara-me
Dá-me que eu me sinta Teu
Senhor livrai-me de mim.


FERNANDO PESSOA





sexta-feira, agosto 28, 2015

PELA NOITE, COM ANA ALMEIDA: "SILÊNCIOS"





SILÊNCIOS


Que há no silêncio que te apavora?
Que há na quietude das palavras
que assim te impacienta
e agonia?
Que há no mutismo que não te pacifica
e antes, subversivo,
te lança numa cruzada
letra após letra, ditongos, hiatos,
vagas figuras de estilo,
queixas, clamores,
ironias disfarçadas de humor,
preces, insultos, sentenças e alvitres,
inquirições avulsas sem resposta possível,
sequer necessária, rodeios absurdos,
tolices obscenas e outros desnortes?

Um dia quererás a quietação, sabes,
e andará perdida
dentro de ti.


ANA ALMEIDA




TALVEZ A MULHER MAIS FLEXÍVEL DO MUNDO...ACHEI JULIA GÜNTEL(ZLATA) ESPANTOSA!




Julia Güntel , mais conhecida por Zlata, nasceu no Cazaquistão e como referi no título, deve ser a mulher mais flexível do mundo.

Durante vários anos dedicou-se à ginástica artística até se mudar do seu país para a Alemanha onde começou a carreira de contorcionista tendo já figurado algumas vezes no livro Guiness.

Aqui estão dois vídeos e algumas fotografias que demonstram a capacidade espantosa desta artista.






terça-feira, agosto 25, 2015

À NOITINHA, COM "ARTISTA SEM PENA": "VOCÊ PODE SER"







VOCÊ PODE SER

pode ser dor
desde que tenha fim
algo como a saudade

pode ser lenta
e escorrer como lágrima
de alegria

pode ser falso infarto
de coração disparado
parado na garganta

pode ser ansiedade
que vira saciedade
ao te ver

pode ser qualquer pessoa
que eu já sei
que a única é você


ARTISTA SEM PENA








domingo, agosto 23, 2015

IMAGEM DO DIA, COM MIGUEL TORGA










PELA NOITE, COM "ARTISTA SEM PENA": "O LIMITE DA PESSOA"






O LIMITE DA PESSOA


Melhor tirar da pessoa a melhor palavra
Cruzar com a pessoa o melhor olhar
Perceber até onde a pessoa é boa
Seja a pessoa humana até onde for bom humanizar


Um limite é um grito
O chão é a falência
A intriga é fria seringa
Que tira a peçonha da pessoa
De onde até não se sabia
Um potencial é um mal
Se espreita escondido
Armado o ser é desalmado


O que resta da pessoa
Depois de ser testada
É pouca coisa boa
É uma careta enrugada


ARTISTA SEM PENA







HOJE, ÚLTIMO DIA DA RAINHA DAS ROMARIAS PORTUGUESAS - Romaria da Senhora D´Agonia 2015


A minha terra é Viana!
Sou do monte e sou do mar.
Só dou o nome de terra
Onde o da minha chegar!
(Pedro Homem de Melo)


Era uma vez uma pequena povoação nascida no margem direita do rio Lima, junto à foz, quando as águas doces e vaporosas se misturaram com o bravio das ondas salgadas. Chamava-se Átrio e tinha, sobranceira, uma montanha de arvoredo, onde no alto existia a fortificação de um castro habitado por povos sem nome e que, a dada altura, desceram ao litoral, buscando na pesca melhor alimento e mais comércio.
Era extremamente bela, entre veigas cultivadas, palmos de horta viçosas, redis, pomares e vinhedos, mas a sua principal vocação era o mar, a pesca. Na praia, várias embarcações esperavam pelas madrugadas para serem lançadas às vagas, com o afã dos remos, o aceno das velas e o espalhar das redes.

Pelo entardecer, as companhas regressavam ao Átrio, para a alegria das mulheres e crianças, com o fundo da embarcação coberto e pescado palpitante: a sardinha, o carapau, a faneca, o congro...
Vinham rio abaixo, habitantes de outras povoações, para o abastecimento pródigo das suas mesas.
Ora morava no Átrio, na modéstia de um casebre, uma linda rapariga chamada Ana, filha de pescador e desenvolta na venda do peixe, sempre com uma canção nos lábios, ouvida a algum jogral chegado da vizinha Galiza, onde animava os serões dos paços e terreiros das romarias.
Escutava-lhe, deliciado, estas cantigas de amor e de amigo, um jovem barqueiro que transportava na correnteza do rio, até ao Átrio, lavradores, mercadores, à compra de peixe fresco e saboroso. De tanto escutar a voz harmónica de Ana e de lhe admirar a graça, o rapaz começou a sentir pela rapariga um amor que ia aumentando dia após dia.
Confessava já aos amigos e companheiros de lida, o agrado desse amor nascente. E estes, contentes com o seu contentamento, sorriam quando o moço barqueiro, ao voltar ao Átrio, lhes atirava um brado feliz:
    - Vi Ana! Vi Ana!
Um dia, porém, não se contentou em vê-la e dirigiu-lhe a palavra, num enleio que corava as faces. A rapariga, percebeu o vivo interesse amoroso do rapaz por ela, os olhos brilhantes sobre o rosto, sobre o cabelo dela. O seu coração lisonjeado retribui-lhe esse interesse, retribui-lhe esse amor.
Não tardou em realizar-se a boda dos dois namorados. Durante os festejos, os companheiros e amigos do noivo recordavam-lhe o brado entusiástico:
    -Vi Ana! Vi Ana! 
O dito foi logo adotado pelos pescadores do Átrio que passaram a repeti-lo, quando regressavam dos trabalhos duros da faina, se lhes deparava o vulto acolhedor da montanha, as praias douradas, as veigas férteis, as águas lentas do rio e a paz dos seus lares:
    -Vi Ana! Vi Ana !

Ao conceder o foral à povoação da foz do Lima, em 1258, o rei D. Afonso III, que a visitara tempos antes, extasiando-se com tanta beleza e prosperidade, substitui-lhe o nome de Átrio pelo de Viana.
                                                                                (António Manuel Couto - "Lendas do Vale do Lima")


Acorda-se ao som de foguetes, mistura-se lágrimas com saudades, regressos e reencontros; dos que voltam e ficam amarrados às suas coisas que não querem perder; dos que voltam e partem à bolina, a sul e a norte, à busca de nova maré.

É a FESTA do Minho, no norte de Portugal - a animação permanente noite e dia. Um palco cheio de iniciativas e uma passerelle cheia de atrações que justificam bem a razão de uma visita. São quatro dias de festa rija, que têm como pontos altos o Desfile da Mordomia, composto por muitas centenas de minhotas envergando os diversos trajes regionais, o Cortejo Etnográfico, o Fogo de Artifício e a Procissão ao Mar, ainda a Feira Franca, os Zés Pereiras, corridas de touros, serenatas e concertos.

A Procissão ao Mar e Rio Lima, é uma impressionante manifestação de fé sem fronteiras, sendo por aí que as nossas caravelas chegaram ao Brasil, Índia e a outros pontos do globo. As ruas da Ribeira cobrem-se com tapetes floridos, assinalando a passagem da imagem da Senhora D'Agonia rumo ao mar e são igualmente testemunhos de profunda fé religiosa.

A etnografia tem o seu espaço nos desfiles do Cortejo Etnográfico e na Festa do Traje, onde se podem admirar os belos trajes de noiva, mordoma e lavradeira, vestidos por lindas minhotas que ostentam peitos repletos de autênticas obras de arte em ouro. A festa continua...Tocam as concertinas e os bombos, dançam as lavradeiras...

Estas Festas da Senhora D'Agonia constituem o maior cartaz vivo de atração turística do norte de Portugal. Por dois motivos: em primeiro lugar, porque mantém a especificidade e a individualidade que a caracteriza e a torna diferente, o que significa a preservação do nosso património, das tradições histórico / culturais, da riqueza do nosso folclore, da autenticidade do artesanato, a valorização dos costumes.
Em segundo lugar pelo cartaz turístico da Romaria que já representa, hoje, uma vivência duplamente centenária ( a Romaria data de 1783) e assumida que foi como símbolo de uma região. Região que em termos populares a designa de FESTA.

Saiba mais em:









RAINHA DAS ROMARIAS PORTUGUESAS, COM PEDRO HOMEM DE MELO: "HAVEMOS DE IR A VIANA"



HAVEMOS DE IR A VIANA


Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.

Se o meu sangue não me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.

Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorços têm oitenta.


PEDRO HOMEM DE MELO



Letra: Pedro Homem de Melo
Intérprete: Amália Rodrigues

Música: Alain Oulman





segunda-feira, agosto 17, 2015

UM NOVO INSTRUMENTO QUE PERMITE SONS VERDADEIRAMENTE FABULOSOS: O "CHAPMAN STICK"






O "Chapman Stick" ou simplesmente "The Stick", é um instrumento musical eléctrico criado pelo californiano Emmett Chapman no início dos anos 1970. Os seus primeiros modelos só foram comercializados em 1974. Chapman queria criar uma mescla entre baixo e guitarra.

A técnica usada para se tocar o instrumento é o tapping, que consiste em tocar o instrumento sobre o "braço" com ambas as mãos pressionando as cordas por toda a sua extensão, conforme a execução da peça musical. Alguns dos nomes que recebeu foram 
"The electric stick" ou ainda "Pau-eléctrico".

A sua capacidade de produzir sons de amplitude espantosa é enorme, o que torna este instrumento extremamente agradável de ouvir, como se verifica nos vídeos inseridos …







domingo, agosto 16, 2015

PELA NOITE, COM ÁLVARO DE CAMPOS (Het. de FERNANDO PESSOA: "TODAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS"





TODAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.


Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.


As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.


Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.


Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.


A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.


(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)



ÁLVARO DE CAMPOS ,
in "Poemas"
(Heterónimo de FERNANDO PESSOA)




Para o entendimento desta visão do eu-lírico, é extremamente necessário conhecer a privação de contato que o mundo moderno gera, e que o poeta Álvaro de Campos viveu nesse mundo de isolamentos afetivos.

Ele vive em um jogo, porque lembra o passado, quando era um amante inocente, e o presente, no qual é um homem amargurado, porque só vive de memórias. Existem, aqui, dois momentos distintos que geram a intensidade do poema.

A palavra esdrúxulo significa extravagância, excentricidade, ou seja, há uma extravagância quando Álvaro de Campos denomina as cartas de amor como sendo ridículas: ele assim as adjetivou porque não tem alguém a quem amar. Na última estrofe, não aparecem as cartas de amor, pois tudo o que foi dito antes é um desabafo de um ser solitário. Ridículos, aqui, são as palavras e os sentimentos esdrúxulos que ele usou por todo o poema para falar do amor, pois na penúltima estrofe, alega que ainda pensa no passado, que sente saudades desse tempo.

Percebe-se finalmente que a beleza deste poema de Álvaro de Campos está na noção que o eu-lírico tem, de que o amor valioso faz falta. Apesar de o negar em quase todas as estrofes e de estar insatisfeito, no final, abre o seu coração para confessar que mentia quando classificou o amor como uma coisa ridícula: compreende que apesar de ser inexplicável (ridículo, segundo Campos) ele é essencial.



segunda-feira, agosto 10, 2015

PELA NOITE, NO DIA EM QUE SE ASSINALAM OS 70 ANOS DOS BOMBARDEAMENTOS DE HIROXIMA E NAGASAKI: VINICIUS DE MORAES E A SUA "ROSA DE HIROXIMA"






A ROSA DE HIROXIMA


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.


VINICIUS DE MORAES

Rio de Janeiro , 1954






domingo, agosto 09, 2015

HÁ 70 ANOS AS SOMBRAS CAÍRAM SOBRE AS CIDADES DE HIROXIMA E NAGASAKI







Dia 6 de Agosto. 

Há 70 anos a humanidade despertava para a era atómica. Na cidade japonesa de Hiroxima decorreram as cerimónias dos 70 anos do lançamento da primeira bomba atómica que atingiu o país. Esta manhã foi feito um minuto de silêncio pelas vítimas à hora exata a que foi lançada a primeira bomba pelo avião norte-americano Enola Gay. Durante a noite, cerca de duas centenas de pessoas marcharam pelas ruas da cidade com lanternas de papel.

Também o papa Francisco recordou hoje o bombardeamento nuclear contra as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki, um facto que disse ser "um chamamento perene" da humanidade para que repudie a guerra e acabe com estas armas.

Na saudação dominical deste domingo, que coincidiu com o septuagésimo aniversário do bombardeamento atómico norte-americano contra a cidade japonesa de Nagasaki, depois de ter recordado o ataque a Hiroxima na passada quinta-feira, declarou: "Há setenta anos, a 6 e a 9 de agosto de 1945, ocorreram bombardeamentos atómicos tremendos em Hiroxima e Nagasaki.

Depois de tanto tempo, este trágico evento suscita ainda horror e repulsa”.O mundo mudou depois destes bombardeamentos nucleares atingirem Hiroxima, a 6 de Agosto de 1945, e Nagasaki, três dias depois. Setenta anos depois, um fotojornalista japonês registou, num projecto pessoal, as cambiantes de sombra e luz nestas duas cidades.

Issei Kato, assim se chama o fotojornalista em questão,  viu as “sombras de Hiroxima” pela primeira vez através de fotografias. “Fiquei comovido quando as vi”, justificou. “Mostravam sombras de vítimas, do parapeito de uma ponte ou de um escadote”. Junto algumas fotos comprovativas deste seu projeto, na segunda colagem de imagens inserida no início da publicação.


Essas sombras não eram mais do que marcas que ficaram gravadas nas paredes ou mesmo no solo após as explosões, provocadas pela radiação térmica das explosões que, ao ser bloqueada por um objecto ou por uma pessoa, imprimiu uma marca.

Uma sombra.

O registo fantasmagóricos de algo que desapareceu assim que as bombas Little Boy e Fat Man atingiram os seus alvos. Inspirado por estas sombras, Kato passou algum tempo a registar sombras de ambas as cidades japonesas, para um projecto pessoal no qual procura “homenagear as vítimas e os actuais habitantes”. Encontrou cidades cheias de vitalidade e surpreendeu-se com o vasto número de turistas.

Mas não só.

“Setenta anos depois da tragédia, como é que a luz do sol irrompe por estas cidades? A tragédia não terminou”, resumiu o fotojornalista. Cerca de 180 mil pessoas sobreviveram aos ataques e a média de idades desses sobreviventes chegou este ano aos 80. “Para muitos deles ainda é difícil falar destes acontecimentos mas há muitas pessoas determinadas a transmitir estas experiências às novas gerações”, resumiu Kato. E concluiu: “Para que esta tragédia não se repita, não devemos esquecer nunca aquilo que aconteceu em Hiroxima e Nagasaki – por mais tempo que passe.”














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