“Não me assusta nada. O sofrimento, sim, a morte
não".
“O realizador não é criador, é criatura.”
Manoel de Oliveira
“Portugal perdeu um dos maiores vultos da sua cultura
contemporânea que muito contribuiu para a projecção internacional do
país".
Aníbal Cavaco Silva
Manoel de Oliveira morreu aos 106 anos, depois de uma
vida longa dedicada ao cinema. Cerca de meia centena de longas-metragens e
documentários, a que se juntam mais trabalhos em segmentos de filmes com outros
realizadores, uma curta-metragem que substituiu o teledisco na música ‘Momento’
de Pedro Abrunhosa, entre outros trabalhos. A partir da segunda metade da
década de 80 dirigiu, em média, um filme por ano.
A obra inédita, "Visita ou Memórias e
Confissões", foi terminada em 1982 quando o cineasta tinha 74 anos. Era
seu desejo que fosse o seu filme autobriográfico póstumo.
É um documentário autobiográfico realizado pelo próprio
Manoel de Oliveira. Mas muito poucos o conhecerão. A condição do cineasta era
que fosse visto apenas após a sua morte. O realizador tinha na altura tinha 74
anos. Morreu na madrugada desta quinta-feira, 2 de abril, aos 106 anos de idade.
Era o cineasta no ativo mais antigo do mundo.
O filme em questão será, ao que tudo indica, um retrato
do homem que trabalhou até aos últimos dias, com um total de 47 filmes em 90
anos de carreira. “Visita ou Memórias e Confissões” tem por base um texto de
Agustina Bessa-Luís. Mostra a casa do Porto onde o realizador viveu e viu a sua
família crescer, ele que também nasceu na Invicta, na freguesia de Cedofeita,
em 1908.
A obra "sentida, sincera e significativa", como
lhe chamou Alves Costa, é a de um criador que se tornou, como diziam os
abaixo-assinados acima citados, "o maior cineasta português" e
"um dos mais seguros valores da cultura portuguesa contemporânea.”
É em “O Passado e o Presente” que o estilo "teatral"
do cinema de Oliveira começa a afirmar-se, bastante influenciado por escritos
de defensores do seu cinema, como Eduardo Prado Coelho
Em “O Convento” (1995), John Malkovich e Catherine
Deneuve surgem no elenco, e os filmes de Oliveira passam a contar,
regularmente, com a sua presença, bem como de outros intérpretes de renome
mundial.
A morte de Manoel de Oliveira mereceu a reação dos meios
de comunicação social estrangeiros.
No Libération, o desaparecimento de Oliveira foi
destacado e o jornal recorda o que escreveu o cineasta em 2002:
Já o Le Monde faz manchete na edição online com o
desaparecimento do cineasta. “Com a morte de Manoel de Oliveira, o cinema perde
o seu decano”, escreve o jornal francês dizendo-se ainda atónito com a notícia.
O jornal destaca dois motivos que justificam a marca inconfundível de Oliveira:
a longevidade de um homem “cujo espírito de batalha fez faísca” e o “excecional
destino deste homem que transformou uma carreira que se confunde com a própria
história do cinema”.
Em terras italianas, a morte de Manoel de Oliveira também
foi notícia. O jornal Republica apresenta extensamente a biografia e obra do
cineasta nascido no Porto. O jornal recorda as suas palavras quando este disse
que “o cinema era imaterial” porque “a imaginação não é palpável: apenas é
alcançável o material com que ela se manifesta”.
O Corriere della Sera destaca a morte de Manoel de Oliveira
escrevendo que o cineasta “disse a poesia e a cor de Portugal”, considerando
que o português se deixou inspirar pela cultura lusitana.
O International Business Times apresenta uma lista de sete
filmes a que se deve assistir em homenagem a Manoel de Oliveira “o realizador
cinematográfico mais velho do mundo”. E apresenta os trailers de “A Divina
Comédia”, “O Pintor e a Cidade”, “Vale Abraão”, “Aniki-Bóbó”, “Benilde ou a
Virgem Mãe, “O Passado e o Presente” e “O Quinto Império”.
O desaparecimento do cineasta foi ainda noticiado pelo
The Guardian, pelo Channel News Asia (que destacou o facto de Manoel de Oliveira
ter sido o último diretor a trabalhar em filmes mudos), entre outros.
Descanse em paz.
Aqui fica uma lista de muitas das obras de Manoel de
Oliveira:
Ficção:
1942: Aniki-Bobo
1963: O Acto da primavera
1963: A Caça
1972: O Passado e o Presente
1975: Benilde ou a Virgem mãe
1979: Amor de perdição
1981: Francisca
1985: Le Soulier de Satin
1986: O Meu Caso
1988: Os Canibais
1990: Não ou a Vã Gloria de mandar
1991: A Divina Comédia
1992: O Dia de desespero
1993: Vale Abraão
1994: A Caixa
1995: O Convento
1997: Party
1997: Viagem ao principio do Mundo
1998: Inquietude
1999: A carta
2000: Palavra e Utopia
2000: Je rentre à la maison
2001: Porto da Minha Infância
2002: O Principio da Incerteza
2003: Um Filme Falado
2004: O Quinto Império – Ontem Como Hoje
2005: Espelho Mágico
2006: Belle toujours
2007: Cristóvão Colombo, O Enigma
2009: Singularidades de uma rapariga loira
2010: O estranho caso de Angélica
2010: Painéis de São Vicente de Fora, visão poética
2012: O Gebo e a sombra
2014: O Velho do Restelo (curta metragem)
Documentários:
1931: Douro, faina fluvial
1932: Estátuas de Lisboa
1937: Os Últimos Temporais, Cheias do Tejo
1938: Miramar, Praia das rosas
1938: Em Portugal ja se fazem automóveis
1940: Famalicão
1956: O Pintor e a Cidade
1958: O Coração
1959: O Pão
1964: Villa Verdinho, uma aldeia transmontana
1965: As Pinturas do meu irmão Júlio
1982: Visita ou Memorias e confissões
1983: Lisboa Cultural
1983:
Nice… à propos de Jean Vigo
1986: Simpósio Internacional de escultura em pedra1988: A Propósito da bandeira nacional
Prémio FIPRESCI (Viagem ao Princípio do Mundo – 1997)
Top 10 do Ano – Competição Nacional, prémio partilhado com Pedro Costa, Víctor Erice, Aki Kaurismaki e Rodrigo Areias (Centro Histórico – 2012)
Sem comentários:
Enviar um comentário