25 de abril
- Até que enfim, aconteceu ! Deus seja
louvado.
A mãe agradecia a
Deus aquela tamanha desgraça? O juízo da senhora teria sofrido um idêntico
golpe de Estado?
- Mãe, como pode dizer uma coisa dessas?
-
Estou contente, sim. Nem pode imaginar como me sinto feliz!
O pide
sentou-se, combalido. Fosse melhor receber a notícia da sua total orfandade? A
mãe parecia transfigurada. Desolhuda, lhe segurou pelas mangas do casaco e
puxou-o como se receasse que ele não a escutasse bem:
- A única coisa que eu quero é ir embora.
Todos esses anos, esse foi o meu sonho. E agora, Lourenço de Castro, só nos
resta mesmo é ir embora.
O filho não
reconhecia a progenitora.
- Quando o teu pai morreu eu pensei que tudo
tinha acabado. E que voltávamos para a nossa aldeia, de onde nunca devíamos ter
saído. Mas depois tu quiseste-o vingar, seguiste-lhe as pisadas, essa merda da
política.
- Não acredito que esteja a usar essa
linguagem, mãe.
- Merda é pouco, filho. Merda é pouco. É por
isso que, por mais que nos lavemos, não há água que chegue para nos limparmos
do passado.
MIA COUTO
In “Vinte e
Zinco (25 de abril)”
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