OS SEUS OLHOS
Seus olhos tão negros, tão
belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas
dormentes
Do mar vão ferir;
Seus olhos tão negros, tão
belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, — mais
doce que o nauta
De noite cantando, — mais doce
que a frauta
Quebrando a solidão,
Seus olhos tão negros, tão
belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis,
engraçados
Brincando a sorrir.
São meigos infantes, brincando,
saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; —
causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de
um momento,
Com modo gentil.
Seus olhos tão negros, tão
belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos,
tranquilos,
Às vezes vulcão!
Às vezes, oh! sim, derramam tão
fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar
lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o
pranto humedece
Me fazem chorar.
Assim lindo infante, que dorme
tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil
coisas,
Não pensa — a pensar.
Nas almas tão puras da virgem,
do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa
celeste,
Um vago desejo; e a mente se
veste
De pranto co'um véu.
Quer sejam saudades, quer sejam
desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em
causa
Um pranto sem dor.
Eu amo seus olhos tão negros,
tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão
doce harmonia,
Que falam de amores com tanta
poesia,
Com tanto pudor.
Seus olhos tão negros, tão
belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de
amores
Com tanta paixão.
GONÇALVES DIAS
(1823-1864)
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