A Semana Académica é uma festividade estudantil do Ensino Superior, em Portugal. Normalmente cada universidade tem a sua própria semana académica. Apesar dos diversos nomes dados a esta semana ("Enterro" na Universidade de Aveiro, "Enterro da Gata" na universidade do Minho, etc.), é geralmente mais conhecida como "Queima", referindo-se à "Queima das Fitas", a semana académica mais antiga do país (Universidade de Coimbra), e também a designação mais comum das demais semanas académicas de todo o Portugal.
Fitas académicas |
Trata-se de uma tradição académica profundamente acarinhada pelos
estudantes e por todos nós, que já o fomos. Por isso , é com emoção grande que recordo
estes momentos tão repetidamente vividos, sempre com saudade e lágrima no canto
do olho…
Esta tradição da Queima das Fitas acontece normalmente no início do mês de
maio, e este ano acontece já desde o dia 9 até ao dia 14 deste maio de 2016.
Entre outras diversas atividades, os pontos de referência desta Festa são a
serenata estudantil, que assinala o início das festividades, os concertos
musicais e o cortejo académico e que culminam com a cerimónia de encerramento
da Benção das Pastas.
Antes de mais, é importante dizer que tudo isto que hoje se festeja por
todas as universidades do país, começou em Coimbra. Toda a tradição académica
tem as suas raízes na mais antiga universidade portuguesa. Originalmente, no
cortejo, que faz parte das atividades académicas da Queima das Fitas, os
finalistas iam à frente e os carros alegóricos e os caloiros seguiam na parte
traseira do cortejo.
Cortejo dos Estudantes Finalistas
Traje académico |
Atualmente, os finalistas vão espalhados pelas respetivas casas, (faculdades,
instituições, etc.), imediatamente à frente do carro. Frequentemente, em cima
dos carros vão os Fitados. Atrás do carro, a fechar cada casa, vêm os caloiros.
Nesse dia do cortejo, os caloiros, ao passarem pela tribuna, deixam de ser
caloiros e passam a pastranos.
A ordem do cortejo é determinada pelo Magnum Consilium Veteranorum, órgão
máximo da praxe e conforme a antiguidade académica.
Assim , na cidade do Porto, em primeiro lugar desfilam as casas da
Universidade do Porto, depois as da
Universidade Católica Portuguesa e da Universidade Portucalense Infante
D.Henrique, depois as do Instituto Politécnico do Porto. Seguem-se as demais
instituições reconhecidas como integrando o Magnum Consilium, depois as
chamadas casas convidadas (casas em processo de admissão ao Magnum Consilium )
e por fim o Carnaval (casas sem nenhuma ligação ao Magnum Consilium
Veneratorum, mas cuja presença é autorizada pelo mesmo).
Encerra o cortejo uma casa da Academia, a Universidade Fernando Pessoa, que
foi, em tempos idos, relegada sancionatoriamente para o último lugar e que
agora prefere manter essa mesma posição.
Praxes académicas |
O cortejo segue atualmente o trajeto Palácio de Cristal - Rua da
Restauração - Cordoaria - Rua dos Clérigos - Avenida dos Aliados. Aqui situa-se
a tribuna, onde está o reitor da Universidade do Porto (e outras entidades
académicas e civis), a quem o Dux Veteranorum simbolicamente pede autorização
para que a Academia Portucalense possa passar. Após isso, o Dux Veteranorum
assume o seu lugar na tribuna e as casas começam a sua passagem.
A indumentária correta para todos os participantes no cortejo é o traje
académico, excepto para os caloiros. Os finalistas usam, como traje académico,
uma cartola e uma bengala com as cores da sua instituição académica, sinal de
terem chegado ao fim da vida de estudante e que receberam na imposição de
Insígnias, no domingo anterior.
Este Cortejo mantém ritual semelhante nas demais celebrações das diversas
Queimas universitárias de Portugal. Tal
como no restante país e após outras festividades locais, a Queima termina com a
celebração da Missa Campal e respetiva Benção das Pastas, celebrada no Porto
pela autoridade eclesiástica hierarquia superior, neste caso o Bispo do Porto .
A hora da despedida... |
Em Lisboa, as festividades principais concentram-se normalmente na Alameda da Cidade
Universitária, ao longo das ruas da Capital, com especial relevo para a Avenida
da Liberdade e Restauradores, por onde passa o cortejo.
A Missa Campal e Benção
das Pastas têm lugar na Alameda da Cidade Universitária, numa cerimónia
largamente emotiva e cheia de cor, celebrada pelo Cardeal Patriarca de Lisboa.
Na cidade de Coimbra, onde teve lugar a primeira Queima das Fitas do país,
organizada pelos alunos da Universidade de Coimbra, a mais antiga de Portugal,
as festividades da Queima são a grande festa anual para os alunos e também para
as pessoas da cidade. Aqui a semana das festas inicia-se com a tradicional
noite do fado, a Serenata Monumental que acontece nas escadas da bela e também
monumental Sé Velha de Coimbra, para uma multidão de milhares de estudantes,
turistas e outros espectadores.
A praça fica repleta de estudantes com as suas capas negras de acordo com o
ritual, os estudos são esquecidos por uma semana de alegria e folia que duram
toda a noite. As restantes cerimónias e festividades seguem o ritual das outras
suas semelhantes, celebradas no resto do país.
Serenata Monumental, junto da Sé Velha, Coimbra. |
Após a eclosão da crise que e em 17 de abril de 1969 levou
os estudantes a oporem-se ao governo de Marcelo Caetano, as festividades
assim como todas as outras manifestações de tradições académicas foram suspensas
pelos próprios alunos, como um ato de protesto. Foi um período de tempo que
ficou conhecido como o luto académico.
O reinício das celebrações teve lugar em 1980, no meio de um intensa
controvérsia entre estudantes de esquerda que se opunham às celebrações e
estudantes conservadores, que queriam retomar a antiga prática. Esta luta ainda
durou um tempo, mas hoje a Queima das Fitas só é contestada por uma pequena
minoria de estudantes dos movimentos da esquerda estudantil mais radical.
Em suma, mais um ano em que os estudantes cumprirão a tradição. Muitos
deles, os finalistas, já saudosos da cidade que os acolheu nos últimos anos,
terminam o cortejo com um arrepio na espinha e os olhos embaciados pela comoção.
Afinal, Coimbra tem mais encanto, na hora da despedida...
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