PÉROLA SOLTA
Sem que eu a esperasse,
Rolou aquela lágrima
No frio e na aridez da
minha face.
Rolou devagarinho...,
Até à minha boca abriu
caminho.
Sede! o que eu tenho é
sede!
Recolhi-a nos lábios e
bebi-a.
Como numa parede
Rejuvenesce a flor que
a manhã orvalhou,
Na boca me cantou,
Breve como essa
lágrima,
Esta breve elegia.
JOSÉ RÉGIO
José Régio |
José Régio,
pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, foi um escritor português que viveu
grande parte da sua vida na cidade de Portalegre. Nasceu
a 17 Setembro 1901 em Vila do Conde e morreu em 22 Dezembro 1969.
Escritor português,
natural de Vila do Conde, onde viveu até completar o quinto ano do liceu, após
o que continuou a estudar no Porto. José Régio, pseudónimo de José Maria dos
Reis Pereira, publicou, em Vila do Conde, nos jornais O Democrático e
República, os seus primeiros versos.
Aos 18 anos, foi para
Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925), com a tese «As
Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa». Esta foi pouco
apreciada, sobretudo pela valorização que nela fazia de dois poetas então quase
desconhecidos, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. Esta tese, refundida,
veio a ser publicada com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa
(1941). Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a
revista Presença (cujo primeiro número saiu a 10 de Março, vindo a publicar-se,
embora sem regularidade, durante treze anos), que marcou o segundo modernismo
português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo.
Para além da sua
colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por
publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias.
No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro
no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde
permaneceu mais de trinta anos. Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde
morreu dois anos mais tarde. Participou activamente na vida pública, fazendo
parte da comissão concelhia de Vila do Conde do Movimento de Unidade
Democrática (MUD), apoiando o general Nórton de Matos na sua candidatura à
Presidência da República e, mais tarde, a candidatura do general Humberto
Delgado. Integrou ainda a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), nas
eleições de 1969.
Como escritor, José
Régio dedicou-se ao romance, ao teatro, à poesia e ao ensaio. Centrais, na sua
obra, são as problemáticas do conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a
sociedade, numa análise crítica das relações humanas e da solidão, do
dilaceramento interior perante a relação entre o espírito e a carne e a ânsia
humana do absoluto. Levando a cabo uma auto-análise e uma introspecção
constantes, a sua obra é fortemente marcada pelo tom psicologista e,
simultaneamente, por um misticismo inquieto que se revela em motivos como o
angelismo ou a redenção no sofrimento.
A sua poesia, de grande
tensão lírica e dramática, apresenta-se frequentemente como uma espécie de
diálogo entre níveis diferentes da consciência. A mesma intensidade
psicológica, aliada a um sentido de crítica social, tem lugar na ficção.
Como ensaísta,
dedicou-se ao estudo de autores como Camões, Raul Brandão e Florbela Espanca.
Na revista Presença, assinou um editorial («Literatura Viva») que constituiu
uma espécie de manifesto dos autores ligados a este órgão do segundo modernismo
português, defendendo a necessidade de uma arte viva, e não livresca, que
reflectisse a profundidade e a originalidade virgens dos seus autores.
Estreou-se, em 1926, com o volume de poesia Poemas de Deus e do Diabo, a que se
seguiram Biografia (1929, poesia), Jogo da Cabra-Cega (1934, primeiro romance),
As Encruzilhadas de Deus (1936, livro de poesia e tido como a sua obra-prima),
Primeiro Volume de Teatro: Jacob e o Anjo e Três Máscaras (1940), Davam Grandes
Passeios aos Domingos (novela publicada em 1941 e incluída, em 1946, em
Histórias de Mulheres), Fado (1941, livro de poesia com desenhos do irmão Júlio,
principal ilustrador da sua obra), O Príncipe Com Orelhas de Burro (1942,
romance), A Velha Casa (obra inacabada, mas de que chegaram a sair os volumes
Uma Gota de Sangue, em 1945, As Raízes do Futuro, em 1947, Os Avisos do
Destino, em 1953, As Monstruosidades Vulgares, em 1960, e As Vidas São Vidas,
em 1966), Mas Deus É Grande, (1945, poesia), Benilde ou a Virgem-Mãe (1947,
peça de teatro adaptada ao cinema, em 1974, por Manuel de Oliveira), El-Rei
Sebastião (1949, «poema espectacular em 3 actos»), A Salvação do Mundo (1954,
tragicomédia em três actos), A Chaga do Lado (1954, sátiras e epigramas), Três
Peças em Um Acto: Três Máscaras, O Meu Caso e Mário ou Eu Próprio-O Outro
(1957), O Filho do Homem (1961), Há Mais Mundos (1962, livro de contos, pelo
qual recebeu o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de
Escritores), Cântico Suspenso (1968, poesia) e, a título póstumo, Música
Ligeira (1970, poesia), Colheita da Tarde (1971, poesia) e Confissão Dum Homem
Religioso (1971, obra de reflexão). Na sua obra ensaística, destacam-se ainda
os Três Ensaios Sobre Arte (1967), que reúnem textos publicados anteriormente,
e Páginas de Doutrina e Crítica da Presença, recolha feita por Alberto Serpa,
relativamente à colaboração de Régio na Presença (1977). Partilhou ainda, com o
irmão Júlio, o gosto pelas artes plásticas, tendo chegado a desenhar uma capa
para a Presença e feito os oito desenhos que, a partir da 5ª edição, ilustram
os Poemas de Deus e do Diabo.
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