domingo, maio 07, 2017

PARA TODAS AS MÃES DO MUNDO, O MEU ETERNO ABRAÇO - Para Elas, um dos maiores poetas de sempre: Fernando Pessoa



O MENINO DE SUA MÃE


No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe

O menino de sua mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe


FERNANDO PESSOA

Voz: Luís Gaspar

Antes de mais, deve-se saber que Fernando Pessoa foi um extraordinário poeta e uma das personalidades mais complexas e representativas da literatura europeia do séc. XX
O poema “O menino de sua Mãe”, publicado na revista Contemporânea, III Série, n.º 1, em 1926, é porventura um dos mais conhecidos dos poemas ortónimos de Pessoa, ou seja, poemas que ele publicou usando o seu próprio nome e não um nome de um heterónimo. Quando o publica Fernando Pessoa tem 38 anos e está num período de grande criatividade poética. No entanto, este poema muitas vezes analisado superficialmente, é capital na análise de um fundo de dor que para sempre assolaram o poeta e pensador até ao fim dos seus dias.




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