O MENINO DE SUA MÃE
No plaino abandonado
Que a morna brisa
aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o
sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus
perdidos.
Tão jovem! Que jovem
era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe
dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está
inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira,
alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a
criada
Velha que o trouxe ao
colo.
Lá longe, em casa, há a
prece:
“Que volte cedo, e
bem!”
(Malhas que o Império
tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
O menino de sua mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa
aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o
sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus
perdidos.
Tão jovem! Que jovem
era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe
dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está
inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira,
alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a
criada
Velha que o trouxe ao
colo.
Lá longe, em casa, há a
prece:
“Que volte cedo, e
bem!”
(Malhas que o Império
tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
FERNANDO PESSOA
Voz: Luís Gaspar
Antes de mais, deve-se
saber que Fernando Pessoa foi um extraordinário poeta e uma das personalidades
mais complexas e representativas da literatura europeia do séc. XX
O poema “O menino
de sua Mãe”, publicado na revista Contemporânea, III Série, n.º 1, em 1926, é
porventura um dos mais conhecidos dos poemas ortónimos de Pessoa, ou seja,
poemas que ele publicou usando o seu próprio nome e não um nome de um
heterónimo. Quando o publica Fernando Pessoa tem 38 anos e está num período de grande
criatividade poética. No entanto, este poema muitas vezes analisado
superficialmente, é capital na análise de um fundo de dor que para sempre
assolaram o poeta e pensador até ao fim dos seus dias.
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