sábado, janeiro 07, 2012

O CANTO GREGORIANO










Este dia que assinala oficialmente, no Calendário Litúrgico, o Dia da Epifania do Senhor,e que encerra as festividades do tempo natalício para um novo tempo, sugeriu-me escrever esta publicação simples. Escreverei sobre um tema que desde há muito me fascina e me delicia, assim como a grande parte do mundo religioso, ou não: o canto Gregoriano.

Canticos de "Schola Scolarum"

O canto gregoriano é a mais antiga manifestação musical do Ocidente e tem as suas raízes nos cantos das antigas sinagogas, desde o tempo de Jesus Cristo. Os primeiros cristãos e discípulos de Cristo foram judeus convertidos que, perseverantes na oração, continuaram a cantar os salmos e cânticos do Antigo Testamento como estavam acostumados, embora com outro sentido. À medida que os não judeus gregos e romanos também se foram tornando cristãos, elementos da música e da cultura greco-franco-romana foram sendo acrescentados às canções judaicas.


Papa S. Gregório I,  o Magno
O período de formação do canto gregoriano vai dos séculos I ao VI, atingindo o seu auge nos séculos VII e VIII, quando foram feitas as mais lindas composições e, finalmente nos séculos IX, X e XI, princípio da Idade Média. Começa então a sua decadência. O seu nome é uma homenagem ao papa Gregório I, "o Magno"(560-604), que fez uma grande coletânea de peças, publicando-as em dois livros: o Antifonário, conjunto de melodias referentes às Horas Canónicas, e o Gradual Romano, contendo os cantos da Santa Missa. Foi ainda o papa Gregório I, quem iniciou a "Schola Cantorum", que deu grande desenvolvimento ao canto gregoriano.

A partir da iniciativa de dom Mocquereaux, no final do séc. XIX, o Mosteiro de São Pedro de Solesmes, na França, passou a ser o grande centro de estudos e prática do canto gregoriano. Os seus monges, na época, deram início a um trabalho de paleografia (estudo dos manuscritos antigos) de canto gregoriano e de recuperação de sinais escritos nos séculos VIII e IX.

Compilação dos cantos gregorianos do Mosteiro
de São Domingo de Silos
No começo do século XX, o papa Pio X pede aos monges beneditinos para fazerem uma edição moderna à luz dos manuscritos, surgindo então a Edição Vaticana. Após a realização do Concílio Vaticano II (1965), o latim deixou de ser a língua ofIcial na liturgia da Igreja, e as celebrações litúrgicas passaram a ser realizadas na língua vernácula de cada país e a prática do canto Gregoriano ficou restrita aos mosteiros e a grupos de admiradores e aficionados da beleza desta palavra-cantada, definida por Santo Agostinho como " a Bíblia cantada, a partir dos textos sagrados".

As principais características do canto Gregoriano, também conhecido como canto chão, são: as melodias cantadas em uníssono (monódico), sem predominância de vozes, ou seja, rigorosamente homofónico; de ritmo livre, sem compasso, baseado apenas na acentuação e no fraseado; cantado " a capella", isto é, sem acompanhamento de instrumentos musicais e as suas letras são em latim, tiradas, na sua maioria, dos  textos bíblicos, sobretudo os salmos.

Mosteiro de São Domingo de Silos, em Espanha

Pessoalmente, não dispenso o eco ou a impressionante ressonância das paredes conventuais, que chega a provocar arrepios...Neste tipo de canto, qualquer voz do estilo operístico que evedencie o intérprete, não tem lugar, o texto tem toda a primazia sobre a melodia, e é quem dá o sentido a esta.

Em 1994 houve um "renascimento" do canto Gregoriano quando foi lançado pela EMI, em CD, um disco que havia sido gravado há mais de vinte anos pelos monges do Mosteiro de Santo Domingo de Silos, no norte de Espanha. O disco atingiu o primeiro lugar em vendas em diversos países, alcançando os 5 milhões de cópias vendidas.

O conjunto alemão Enigma gravou o disco MCMXC A.D., com músicas rock (Sadness e outras) em estilo gregoriano, que também obteve um sucesso tremendo em todo o mundo. Outros grupos e outras músicas têm seguido este exemplo, sempre com enorme êxito, como "The Sound of Silence", "Tears in Heaven" "In the air tonight" e tantas outras mais.


Deliciemo-nos com estes cantos, o primeiro mais tradicional e o segundo mais elaborado, e que igualmente nos convidam à reflexão... 








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