

Mais de trinta anos depois de um dos capítulos mais negros do século XX, no Camboja, começou esta semana o julgamento de quatro altos responsáveis dos Khmer Vermelho. Os arguidos respondem perante o tribunal internacional da ONU por crimes de guerra, crimes contra a Humanidade e genocídeo.
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Tribunal Internacional da ONU, no Camboja |
No banco dos réus sentam-se o antigo presidente do regime, Khien Samphan, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Ieng Sari e a esposa e ex-ministra dos Assuntos Sociais, Ieng Thirith, e, finalmente, aquele que ficou conhecido como o "irmão número dois", Nuon Chea, o ideólogo do regime liderado por Pol Pot, que se limitou a dizer aos juízes que "não estava satisfeito com a audiência". Depois, abandonou a sala por motivos de saúde, tal como Ieng Sari e a mulher.
Os Khmer Vermelho terão causado a morte de cerca de dois milhões de pessoas, na década de 70, na sequência de torturas, fome, trabalhos forçados e execuções mais do que sumárias. O "número um " e chefe do regime, Pol Pot, morreu em 1998.
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Cemitérios de Phnom Penh |
Kaing Guev Eav, o antigo diretor da sinistra prisão de Phnom Penh, foi condenado a 35 anos de cadeia por crimes contra a Humanidade. A pena foi de imediato reduzida a 30 anos, já que o tribunal patrocinado pelas Nações Unidas considerou ilegais os cinco anos de detenção por parte do exército cambojano. O regime massacrou a população com trabalhos forçados e eliminou sistematicamente todos os "traidores de revolução"
Conhecido como o "Dutch", Kaing Guev Eav dirigiu o campo S-21, conhecido também com o nome de Tuoi Sieng, um centro de interrogatórios que funcionava num antigo colégio secundário de Phnom Penh, onde mais de 12 000 pessoas foram torturadas e assassinadas em função da repressão em massa organizada pela equipe no poder de Pol Pot. Os que sobreviviam eram enviados para os chamados "campos de morte", de onde não regressavam mais. Dutch poderá ser condenado à pena de prisão perpétua.
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Julgamento do "Dutch" |
Detido em 1999 pelas autoridades Cambojanas, Dutch foi levado, em 2007 a um tribunal especial em Phnom Penh, patrocinado pela ONU. Ao contrário dos demais detidos, manifestou arrependimento pelos factos ocorridos durante o regime e pediu perdão às vítimas.
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Crianças prontas a matar |
Muitos temem que os quatro responsáveis não cheguem a conhecer a sentença, devido à idade avançada e ao estado de saúde.
"Eles não devem ser libertados, devem morrer na prisão", comenta uma sobrevivente do regime.
De entre as técnicas de tortura dos Khmer Vermelho contavam-se as práticas de arrancar as unhas, choques elétricos e outras torturas brutais destinadas a "extrair" confissões. Num arquivo, guardado por um guarda prisional, ficou o registo de quando Dutch foi questionado sobre o que fazer com seis meninos e cinco meninas acusados de traição, ele terá respondido "Matem-nos todos".
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Camboja - Phnom Penh |
As barbaridades do Khmer Vermelho viriam , mais tarde, a ser retratadas no célebre filme ,"Os Gritos do Silêncio".
Qual o desfecho para mais um julgamento deste crime de genocídio e contra a Humanidade, agora mais uma vez reiniciado? Teremos uma "nova " Nuremberga?...
4 comentários:
Obrigada pelo simpático comentário.
Cumprimentos de Portugal!
Muito Útil relembrar estes horrores para que não se repitam! Estes julgamentos pecam sempre por tardios e deixam-nos um sabor amargo a ENORME INJUSTIÇA!!!! As vítimas e famílias não suportam tanta dor! Muito bom, como sempre, Haydée. Bjns
Gentil como sempre, Gabriela.
Obrigada.
Bjs.
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