quinta-feira, dezembro 23, 2010

O AZULEJO EM PORTUGAL (Parte II) - Igreja da Madre de Deus





A Igreja ou Convento da Madre de Deus foi fundada pela Rainha D. Leonor (1458-1525), mulher de D. João II e irmã de D. Manuel.
O espaço da Igreja da Madre de Deus começou por ser constituído por algumas casas e horta, no qual se constituiu um núcleo modesto, destinado a albergar um pequeno grupo de freiras Franciscanas Descalças da primeira Regra de Santa Clara, recém-chegadas de Setúbal.

Nave principal da Igreja da Madre de Deus

A igreja, espaço fundamental para a comunidade, só mais tarde veio a ser completada. O conjunto arquitectónico deixado por D. Leonor, ao tempo da sua morte, era verdadeiramente exíguo e foi o rei D. João III, pressionado pelas queixas das freiras, quem iniciou uma grande campanha de remodelação deste espaço. Segundo documentação da época, D. João III ordenou ao arquitecto Diogo de Torralva, que traçasse uma nova igreja para a Madre de Deus, mais ampla e com um coro novo.

São desta época o claustro com as varandas de pedraria e respectivas capelas e a antiga igreja de D.Leonor, transformada em sala do capítulo. Nasceu assim um edifício de raiz clássica, com uma capela-mor de forma quadrada, coberta por uma cúpula, cujo tambor

Claustro da Igreja da Madre de Deus
seria rasgado por janelas mais tarde encerradas pelo Rei, a pedido das freiras, que alegaram sentir uma grande devassa.

D. João III sentiu uma grande devoção pelo convento, na sequência da qual mandou construir um passadiço do Paço contíguo para a igreja, de forma a poder assistir à missa, da tribuna real.

De acordo com testemunhos da época, foi ainda ao abrigo desta devoção que o Rei "se mandou retratar, e à Rainha sua mulher e em dous quadros se acham os seus retratos no coro".

Nos finais do século XVII, o Rei D. Pedro II acudiu de novo às freiras clarissas do Mosteiro da Madre de Deus, mandando-o reparar quase de novo. São desta época as pinturas dos tectos da igreja, coro-alto e corpo da igreja, e ainda os painéis de azulejos holandeses ali colocados a expensas de um deputado do tribunal da Junta do Comércio do Brasil, em troca de se fazer sepultar, assim como a sua família, neste convento.

S. João Baptista, padroeiro da Freguesia do Lumiar

Para além das pinturas e azulejos, a igreja recebeu altares de talha dourada, assim como o douramento nas molduras das pinturas que decoravam a igreja e o coro-alto.

O reinado de D. João V trouxe novos benefícios decorativos ao edifício, mas o Terramoto de 1755 provocou algumas ruínas neste, e foi mais tarde, o Rei D. José quem custeou as obras de restauro dos danos ocasionados por esta catástrofe nacional.

O século XIX trouxe ao mosteiro profundas modificações institucionais e funcionais, uma vez que a extinção das ordens religiosas pôs fim às actividades culturais daquela instituição.

A partir de 1896 deram-se início às obras que iriam permitir uma nova utilização civil do espaço:  a instalação do Asilo D. Maria Pia. Para o local foram sendo conduzidos e armazenados painéis de azulejos, primitivamente destinados a decoração, mas que acabaram por ali permanecer guardados em caixotes.


Entrada do Museu Nacional do Azulejo
Nos inícios do século XX, a igreja e os anexos da Madre de Deus, em Xabregas, foram considerados como anexos do Museu Nacional de Arte Antiga, a fim de poder ser feita a sua salvaguarda patrimonial, tal como aconteceu com outros museus nacionais.

Por fim, no dia 26 de Setembro de 1980, e em grande parte com a ajuda financeira da Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Nacional do Azulejo emancipou-se, tornando-se Nacional, e autonomizando-se em relação ao Museu Nacional de Arte Antiga.

As imagens que ilustram esta mensagem, assim como as do vídeo que a ela anexei, foram por mim captadas durante a última visita guiada que a UTIL do Lumiar efectuou ao Museu Nacional do Azulejo e sem as quais não me teria sido possível realizar esta publicação.

Assim, pois, o meu muito obrigada  à UTIL do Lumiar, que tão exemplarmente tem contribuído para o crescimento intelectual, lazer e são convívio dos seus utentes.






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