ERA
UMA VEZ UM VELHINHO QUE SE CHAMAVA JESUS
Esta
noite reproduzo neste espaço uma crónica de Marta Arrais, publicada em IMISSIO pelo
Padre José Luís Rodrigues no seu blogue "O Banquete da Palavra". Porque
sendo de leitura simples e sem rabiscos, ela torna-se acessível a todos, avós,
pais e filhos e netos: veste-se de uma ternura impressionante que poderá talvez
fazer verter lágrimas de comoção…
Mais ainda nos dá conta do mistério da vida que se revelou no Papa Francisco e que levou para o céu esta mulher:

E Jesus vinha mesmo. Tinha ouvido as orações da avó da favela. Não te peço nada meu Jesus. Só que me venhas ver a mim e a todos estes filhos que não tenho mas que são meus. Talvez assim pudesses mudar a nossa vida. Se agarrasses na cara como quem me conhece de outras eras e me beijasses a testa como quem beija o Céu. Se ao menos viesses aqui ver-me!
E veio. Vinha vestido de branco. Fazia lembrar um anjo daqueles que andam a ajudar no Céu. Tinha umas abas de lado, aquele vestido. Não estava engelhado. Ao peito uma cruz bonita, prateada. O cabelo branco adivinhava-se por baixo de algo que não era um chapéu. Era a promessa de um chapéu mas não era nenhum chapéu. Estava à espera de ver um Jesus barbudo, alto e moreno. De sandálias nos pés e de milagres nos braços. De traje empoeirado e de cabelo comprido e escuro. Mas não. Tinha andado enganada toda a vida. Jesus era um velhinho e chamava-se Francisco.
Era esse o nome d’Ele. Chamava-se Francisco e tinha vindo vê-la a ela e aos filhos que, não sendo seus, sempre o tinham sido.
Implorou
aos pés que a levassem até mais perto. Eles obedeceram, esquecendo o cansaço de
uma vida. Jesus segurou-lhe a mão velha e carcomida pela miséria e beijou-a
como quem se ajoelha. Segurou-lhe a cara com as mãos e olhou para dentro dela,
como se a conhecesse desde sempre. Deixou-se olhar, deixou-se ver. Deixou
deslizar a mão direita pelo seu rosto engelhado e continuou o seu caminho. A
avó da favela respirou fundo, cerrou os olhos e agradeceu com uma oração que
fez chorar o Céu:
“Obrigada
Jesus por teres vindo ver-me. Olhaste para mim como quem olha para uma criança
e, de uma vez só, amaste-me mais do que a vida alguma vez me amou…”
Nota: A avó da favela morreu no dia seguinte, enquanto dormia. Antes de Jesus a levar para o Céu deixou-a sonhar o mais bonito de todos os sonhos. Que Jesus a tinha vindo visitar, que era um velhinho e que se chamava Francisco."
Marta Arrais (15-07-2015)
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