segunda-feira, setembro 29, 2014

À NOITINHA, COM MANUEL ALEGRE: "ESPLENDOR DE AGOSTO"






ESPLENDOR DE AGOSTO


Aconteceu o pior: o esquecimento.
Esqueci tudo o que deve ser lembrado
e já não sei se és tu ou se te invento
e se o que resta é só o imaginado.


Esqueci o nome o olhar esqueci o rosto
reclinado nas tardes de Setembro.
E já não sei sequer quem foi deposto
e se lembro não sei se és tu que lembro.


Porque tudo esqueci e não esqueci
esplendor dos corpos no azul de Agosto
e aquele não sei quê que havia em ti
e aquele ardor em mim de fogo posto.


Esqueço a lembrar e se te lembro esqueço
e já não sei se és margem ou ainda o centro
de tanto te inventar não te conheço
e quanto mais te esqueço mais te lembro.



MANUEL ALEGRE,
in Nada está Escrito



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