sexta-feira, junho 01, 2012

VINICIUS DE MORAES, O POETA DA BOSSA NOVA (1913-1980) - Apontamento de Poesia Contemporânea (Parte X)








"Se eu tivesse, se eu tivesse muitos vícios
O meu nome deveria ser Vinicius
Se esses vícios fossem imorais
Eu seria o Vinicius de Moraes."





Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro, RJ e aqui se formou em Direito, em 1933.Poeta essencialmente lírico, também conhecido como "Poetinha" (apelido que lhe teria sido atribuído por Tom Jobim), notabilizou-se pelos seus sonetos.
Vinicius e Toquinho

Conhecido como um boémio inveterado, fumador e apreciador de uísque, foi também conhecido por ser um grande conquistador. Ao longo da sua vida, o Poetinha casou-se nove vezes. Vinicius de Moraes foi de muitos. Tivesse sido um só e seria, como disse Sergio Porto, apenas Vinicius de Moral.

Foi poeta, diplomata, letrista e pedra filosofal da Bossa Nova, crítico de cinema, dramaturgo eventual, cidadão do mundo. É trágico, transcendental, materialista, cínico, divertidíssimo, boémio e apaixonado por multidões de mulheres, inclusive as mais feias, para quem pedia afeto e piedade. De manhã escurecia, de noite ardia.

"Antologia Poética"

Vinicius foi cidadão do mundo. Beijou a mão da inexpugnável Greta Garbo. Ficou amigo de Orson Welles. Embriagou-se com Pablo Neruda, de quem não conseguia despedir-se. Em Hollywood, numa festa, foi apresentado a uma morena jovem e cintilante, por Carmen Miranda, e da qual não conseguia tirar os olhos... Era Ava Gardner, antes de enlouquecer Frank Sinatra.

Vinicius de Moraes, pertencente à segunda geração do Modernismo, é um dos poetas mais populares da Literatura Brasileira. As suas canções alcançaram um êxito enorme junto do público, como "Garota de Ipanema", a música brasileira mais executada em todo o mundo. Para alguns, depois de "Vinicius musical", foi o "Vinicius cronista" que mais depressa conquistou o coração do público. Mas a sua obra poética teve e continua a ter um sucesso inegável, sobretudo ao produzir poemas como o Soneto da Fidelidade. Também, com sucesso, escreveu poemas infantis como os da Arca de Noé (1970).

No mesmo ano em que se formou, 1933, publicou o "Caminho para a Distãncia", o seu primeiro livro de poesia. Ainda na década de 1930 lançou "Forma" e "Exegese", "Ariana, a Mulher"(1936) e "Novos Poemas(1938).

Vinicius de Moraes com o presidente Lula da Silva, numa
 manifestação em que o poeta foi nomeado embaixador.

Em 1938 viajou para Inglaterra, para estudar a língua e a Literatura Inglesa. De regresso ao Brasil, ingressou na carreira diplomática; serviu nos Estados Unidos, em França e no Uruguai. Em 1956 iniciou uma parceria com Tom Jobim, autor das músicas para a sua peça "Orfeu da Conceição". No ano seguinte publicou o "Livro de Sonetos". E em 1958 lançou o LP "Canção do Amor Demais", que incluiu a música "Chega de Saudade", composta de parceria com Tom Jobim, e que se tornou o marco do movimento da Bossa Nova.

Nas décadas seguintes participou deste movimento com diversas parcerias: Baden Powell, Carlos Lyra, Edu Lobo, Francis Hime, Pixinguinha, Tom Jobim e Toquinho.

Monumento a Vinicius de Moraes, em Itapoã

Na noite de 8 de Julho de 1980, numa conversa em que acertava detalhes musicais com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e a necessidade de tomar um banho. Na madrugada do dia seguinte, foi encontrado adormecido na banheira, pela empregada que o acordou, com dificuldades respiratórias. Toquinho, que estava a dormir, levantou-se e tentou socorrê-lo, acompanhado pela última esposa do poeta, Ilda Matoso. Mas não houve tempo. Vinicius de Moraes morreu pela manhã.

Vinicius de Moraes, o "branco mais preto do Brasil", segundo as suas próprias palavras, será sempre recordado como o "pai" do movimento da Bossa Nova...

"Saraba", Vinicius.



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POEMAS DE VINICIUS DE MORAES:


1- Eu Sei e Você Sabe; 2- A Porta; 3- Soneto do Amor Total

Eu sei e você sabe

Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe
Que distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham a você.

Assim como o Oceano, só é belo com o luar,
Assim como a Canção, só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem, só acontece se chover,
Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer
Assim como o viver sem ter amor, não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!

A Porta

Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de sopetão
Pra passar o capitão.

Só não abro pra essa gente
Que diz ( a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!

Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!

Soneto do amor total

Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um amor calmo prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só pra me provocar
1-Pela Luz dos Olhos Teus: 2- A Felicidade; 3- Vinicius
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar.

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

A Felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira.

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de orvalho oscila
E cai como uma lágrima de amor.

A felicidade é uma coisa boa
E tão delicada também
Tem flores e amores
De todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo de bom ela tem
E é por ela ser assim tão  delicada
Que eu trato dela sempre muito bem

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor.

Vinicius

De repente o riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amor próximo distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.






FELICIDADE (VINICIUS DE MORAES):

SAMBA DE BÊNÇÃO (Poema:VINICIUS - TOQUINHO:Música):



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