quarta-feira, março 30, 2016

PELA NOITE, COM ADELAIDE MONTEIRO: "QUANDO ME DIZES, POEMA"






QUANDO ME DIZES, POEMA
  

Quando me dizes mar, poema,
dizes-me vaga em mar alteroso.

Não me digas assim, poema!
Pois tu não sabes que o meu nadar
é feito de frágeis braçadas,
respiração descompassada,
braços e pernas desatentos,
corpo inábil,
na iminência de afundar.

Se me quiseres dizer, poema,
diz-me rio,
apressado
ou calmo,
vadio,
ou constante,
esticando com suas águas,
as ervas que lhe são margens,
ou dormindo sobre os seixos
que lhe são leito e
no espelho beijando o céu.

Diz-me também ribeiro,
apressado,
à beira do precipício,
suspensa a respiração,
arrepios na espinha,
e o abraço a dar-se,
o remoinho a formar-se,
uma força a sugar
toda a espuma em alvoroço
e aí sim,
na loucura do rio,
eu serei vaga alterosa,
envolvente,
apaixonada,
sem pé
nem chão.


ADELAIDE  MONTEIRO






1 comentário:

Adelaide Monteiro disse...

Sinto-me lisonjeada por ler o meu poema neste cantinho, associado a uma imagem linda que se lhe agarra à pele.

Obrigada,

Adelaide Monteiro

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