quinta-feira, novembro 01, 2012

FRAGMENTOS DE MÚSICA (Parte I) - Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)


«O génio mais prodigioso elevou-o acima de todos os mestres,
em todas as artes e em todos os séculos»
Ricardo Wagner




Compositor austríaco do período clássico mais do que famoso, Mozart mostrou uma habilidade musical prodigiosa desde a sua infância. Já conhecedor e executante brilhante do piano e do violino, começou a compor aos cinco anos de idade, e passou a apresentar-se à realeza europeia, maravilhando todos com o seu talento precoce.

1-Mozart tocando em Florença, em casa de Thomas Linley, seu amigo      2-Mozart ao piano, com o pai e a mãe (John Della Croce,1780)
   
Chegado à adolescência, foi contratado como músico da corte em Salzburgo, porém as limitações da vida musical na cidade impeliram-no a procurar um novo cargo noutras cortes, mas sem sucesso. Ao visitar Viena em 1781 com o seu patrão, desentendeu-se com ele e pediu demissão, optando por ficar na capital, onde, ao longo do resto da sua vida, conquistou fama, mas pouca estabilidade financeira. Os seus últimos anos viram surgir algumas das suas sinfonias, concertos e óperas mais conhecidos, além do seu Requiem, inacabado. As circunstâncias da sua morte prematura deram origem a diversas lendas. Deixou uma esposa, Constanze, e dois filhos.

Foi autor de mais de seiscentas obras, muitas delas referências da música sinfónica, concertante, operística e camerística. A sua produção foi louvada por todos os críticos da sua época, embora muitos a considerassem excessivamente complexa e difícil, e a sua influência fez-se sentir em muitos outros compositores ao longo de todo o século XIX e início do século XXI. Hoje Mozart é considerado pelos críticos especializados como um dos maiores compositores do ocidente, conseguindo conquistar grande prestígio mesmo entre os leigos, e a sua imagem tornou-se um ícone popular.

1-Mozart ao piano em Viena (1770)                       2-Retrato anónimo                                 3-Retrato inacabado (Lange,1782)

Mozart nasceu em Salzburgo em 27 de janeiro de 1756 e o nome completo que recebeu foi Joannes Chrysostomus Wolfgang Theophilus Mozart, logo no dia seguinte ao do seu nascimento, na catedral local. Foi o sétimo e último filho de Leopold Mozart e Anna Maria Perti. De todos os filhos, somente ele e uma irmã, Maria Anna, apelidada Nannerl, sobreviveram à infância. A família do pai era oriunda da região de Augsburgo. O sobrenome Mozart foi registado desde o século XIV, e apareceu sob formas diferentes: Mozarth, Motzhart, Mozhard ou Mozer, até ao registo do batismo de Mozart, com a forma adotada pela família do compositor. Muitos dos seus membros dedicaram-se à cantaria e construção, e outros foram artistas. A família da mãe era da região de Salzburgo e pertenceu à classe média da burguesia.

Em 1761, Mozart fez a sua primeira aparição como menino prodígio, numa récita de obras de John Eberlin, na Universidade de Salzburgo.

Sabe-se que na sua primeira viagem, em 1762, foi para Munique. Outras se seguiram até finais de 1763, indo para Viena e outras cidades, tocou para diversos nobres e duas vezes para a imperatriz Maria Teresa, acerca da qual se conta o curioso episódio no qual o jovem Mozart teria tropeçado no palácio, e teria sido a própria imperatriz quem o ajudou a levantar do chão.

1- Mozart e sua irmã Nannerl                      2-Mozart tocando, em Viena, com a família        3-Os dois filhos de Mozart, Carl Xavier e Thomas

A sua vida foi preenchida por ínúmeras viagens, ao longo das quais toda a sua fabulosa, intensa e diversa creatividade artística não conheceu limites, e a sua obra  foi dada a conhecer às principais capitais europeias. Neste percurso, maioritariamente feito sob a colaboração de um patrão ou patrono, Mozart poude usufruir dos contactos mais preciosos, de metres como o jovem amigo e compositor Thomas Linley, esteve com Gregorio Allegri e ouviu o seu famoso Miserere na Capela Sistina, quando de uma visita ao papa que o agraciou com a Ordem da Espora de Ouro, no grau de Cavaleiro. E tantos outros mais, tornaram este período da sua vida como talvez o mais fértil, com a produção da sua inigualável Música Camarária ou Religiosa, escreveu a sua primeira ópera Lucio Silla, os libretos das óperas Don Giovanni e Bodas de Fígaro, entre demais obras. 

Em 1973 o estado de saúde de sua mãe agravou-se e faleceu neste ano. Passada a crise, Mozart, durante uma das suas estadias em Viena e em casa de amigos, os Weber, apaixonou-se pela filha mais velha do casal, Constanze, com quem veio a casar. Deste casamento nasceram três filhos, Franz Xavier, Carl Thomas e Johann Thomas, que só viveu alguns dias e ainda um filha, Theresia. Theresia igualmente sobreviveu poucos meses.


1- Constanze, esposa de Mozart                     3-Retrato póstumo de Mozart                        3-Leopold Mozart, pai do compositor

A bibliografia acerca de Mozart é infindável, e os factos mais relevantes da sua vida e obra são amplamente conhecidos, pelo que seria presunção procurar acrescentar algo mais ao que já foi escrito. Prodígio em menino, sublimou esse carisma na idade adulta, e ainda hoje continua a deslumbrar o mundo, como a revelação mais perfeita do génio.

A mensagem Morzatiana é, na sua essência, fruto de um processo de assimilação servido pela mais espantosa intuição de que se dá conta em toda a história da música. Uma síntese perfeita de todos os processos técnicos com os quais o compositor teve contactos desde menino: o sentido helénico (clássico) da forma e a tendência lírica (riqueza melódica) do Sul, casando-se com a ironia vienense, a elegância francesa e as práticas polifónicas dos países do Norte, de acentuada tendência para um construtivismo sólido.


1-Pequeno Mozart ao piano                2-Libreto da ópera Bodas de Figaro                        3-Hieronimus Colloredo

São disso exemplos as admiráveis sinfonias 19, 35, 36, 38, 39, 40 e 41- as três últimas escritas quase simultaneamente e cada uma com a sua identidade muito própria; os magníficos concertos compostos com igual perícia, para os mais variados instrumentos; os quartetos de cordas a que Haydn rendeu a mais entusiástica homenagem ou as geniais óperas Bodas de Fígaro, Don Giovanni e Flauta Mágica (admirando o modo como Mozart dá vida às suas personagens), e logo ficamos fascinados com a beleza inigualável da sua invenção musical.

E tudo isto sem esquecermos as Sonatas, os Divertimentos, as Serenatas, as Contradanças, as Árias de Concerto, os Trios, os Quintetos, as Cassações, a Música Religiosa e o significado inovador das obras escritas para o piano.

E que dizer da sua vertiginosa capacidade de elaboração, ocupando-se simultaneamente da composição de várias obras, como, entre outros, o exemplo das Sinfonias em Mi bemol maior KV.543, em Sol menor KV550 e a inigualável Sinfonia de Júpiter,em Dó maior KV551, escritas em apenas sete semanas, ou a Abertura de Don Giovanni, composta na noite que antecedeu a estreia da mesma ópera e cujos papéis foram postos nas estantes da orquestra ainda com a tinta fresca...

1-Viena em meados do sé. XVIII                     2-Monumento a Mozart em Salzburgo                  3-Casa de Mozart, em Viena

Quando, às primeiras horas da madrugada de 5 de dezembro de 1791, com apenas 36 anos incompletos, Wolfgang Amadeus Mozart faleceu, legou à posteridade mais de 600 obras, páginas assombrosas de inexcedível perfeição.

Por essa capacidade, foi-lhe possível criar, já sob grande sofrimento o moteto Ave Verum Corpus, páginas de intensa espiritualidade, e as famosas árias de Papageno, que, à hora da sua morte eram cantadas pelas ruas de Viena. Com maior sofrimento escreveu ainda a ópera Clemência de TitoRequiem, talvez por imponderável desígnio do destino, ficou inacabado. Tinha-se tornado uma obsessão que o constrangia, e impedia a sua conclusão.

1-Grande Missa em Dó bemol                     2-Caderno de apontamentos de Mozart                            3-Página de Requiem
Wolfgang Amadeus Mozart foi e será o músico eterno, verdadeira encarnação do espírito da Música. 



Sobre ele, Karl Barth, teólogo e filósofo do sé. XIX, escreveu:

«Eu não tenho  certeza de que os anjos, quando glorificam a Deus, toquem música de Bach. Em contrapartida, estou certo de que, quando o fazem entre si para seu próprio prazer, tocam Mozart, e que Deus gosta então muito especialmente de os ouvir»
  








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