segunda-feira, julho 06, 2015

POEMAS BELOS, REPETEM-SE SEMPRE. COM CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: " O SANTO NOME"






O SEU SANTO NOME


Não facilite com a palavra amor.

Não a jogue no espaço, bolha de sabão.

Não se inebrie com o seu engalanado som.

Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).

Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.


 Não a pronuncie.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



Para o poeta, o “santo nome” é tão divino quanto o símbolo do sagrado, pois é o “amor”— e o santo nome não deve ser pronunciado em vão. A negação presente no poema, na verdade, é totalmente irónica. A voz poética adverte sobre os perigos do amor ou da poesia, mas acaba por incitar a sua procura, dentro do mundo sem sentido e insensível. Aquém das capacidades e dos intuitos de bons ou maus poetas, amor e poesia tornam-se sinónimos de um produto muito acessível, de um oásis de sensibilidade e de sentimento no meio da brutalidade da vida quotidiana: um uso um tanto perigoso, por ser despudorado.


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