LÚBRICA
Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer
Morrer muito contente.
Lançaste no papel,
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!
Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!
Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso;
Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.
Teus olhos sensuais
Libinosa Maria,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.
As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...
Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!
CESÁRIO VERDE
( O Livro de Cesário Verde, Poesias Dispersas)
Porto, Diário da Tarde, 3 de dezembro de 1873
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