quinta-feira, julho 07, 2016

PELA NOITE, COM CESÁRIO VERDE: "LÚBRICA"



LÚBRICA

Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer
Morrer muito contente.

Lançaste no papel,
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso;

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais
Libinosa Maria,
Teus olhos dizem mais
 Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!


CESÁRIO VERDE
( O Livro de Cesário Verde, Poesias Dispersas)


Porto, Diário da Tarde, 3 de dezembro de 1873


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