Voltei para casa perturbado.
Na oficina fendi a madeira com raiva, como se os instrumentos fossem as minhas mãos que, ao nela permanecerem, rasgavam as fibras na energia do homem que comandava.
Depois aplanava a superfície, exagerava no redondo das formas que alisava em carícias de amante.
Na memória não guardava o perfil de um corpo, mas tudo aquilo que se não consegue definir, porque está longe do que a mão alcança.
Quando terminei, não tinha esculpido arados ou bancos, mesas ou portas, mas a figura ondulante de uma mulher que se afasta, envolta na luz macia de uma manhã de primavera.
NUNO LOBO ANTUNES
in "Em Nome do Pai"
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