quinta-feira, dezembro 06, 2012

MORRE OSCAR NIEMEYER (1907-2012), O "POETA E GIGANTE DA CURVA"...









Morreu às 21h55 desta quarta-feira, aos 104 anos, o arquiteto carioca Oscar Niemeyer, no Hospital Samaritano do Rio de Janeiro. Considerado um dos nomes mais influentes da arquitetura moderna mundial, Niemeyer foi responsável pelas principais obras da construção de Brasília, inaugurada em 1960.

Filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho nasceu em 15 de dezembro de 1907 no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro. Após uma juventude boémia, Niemeyer concluiu o ensino secundário apenas aos 21 anos, idade com que se casou com Annita Baldo, filha de imigrantes italianos, na época com 18 anos. Com Annita, o arquiteto teve a sua única filha, a expositora de arte  Anna Maria Niemeyer,  falecida em maio de 2012, aos 82 anos.

Após a morte de Annita, em 2004, Niemeyer partiu para um segundo casamento dois anos depois, com a sua secretária, Vera Lúcia Cabreira. Uma das personalidades de maior longevidade do País, o arquiteto deixou cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos.
A vida profissional de Niemeyer teve início um ano depois do casamento com Annita Baldo. Em 1929, começou a trabalhar na tipografia do pai e decidiu retomar os estudos, ingressando na Escola Nacional de Belas Artes,  onde se formou em arquitectura e engenharia em 1934.

Após a formatura, mesmo passando por dificuldades financeiras, Niemeyer decidiu trabalhar sem remuneração no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, em 1935. Não lhe agradava a arquitetura comercial vigente e viu no escritório uma oportunidade para aprender e praticar uma nova arquitetura. "Não queria, como a maioria dos meus colegas, adaptar-me a essa arquitetura comercial que vemos aí. E apesar das minhas dificuldades financeiras, preferi trabalhar, gratuitamente, no escritório do Lúcio Costa e Carlos Leão, onde esperava encontrar as respostas para as minhas dúvidas de estudante de arquitetura. Era um favor que eles me faziam", disse o arquiteto, numa ocasião.

O primeiro projeto individual de Oscar Niemeyer a ser construído, foi a Obra do Berço, em 1937, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, o arquiteto viaja com Lúcio Costa para projetar o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, nos Estados Unidos.

Após a eleição de Juscelino Kubstchek à Presidência da República, Niemeyer é convidado a projetar Brasília, a nova capital federal. Em 1957, o arquiteto abre um concurso público para o plano piloto da cidade. O projeto vencedor é o apresentado por Lúcio Costa. Niemeyer seria responsável pelos projetos dos edifícios, enquanto seu amigo e ex-patrão desenvolveria o projeto urbanístico da cidade. Inaugurada em 1960, Brasília representou o maior desafio da carreira de Niemeyer e é lembrada, até hoje, como seu grande legado arquitetónico.

Ao longo de sua vida, Niemeyer foi sempre um grande defensor dos ideais da revolução soviética. Em 1945, conheceu Luís Carlos Prestes e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). O arquiteto chegou a emprestar a Prestes seu escritório para ser utilizado como sede do partido. Niemeyer fez diversas visitas à União Soviética e a Cuba, e foi amigo pessoal de muitos ícones socialistas, entre eles o líder da revolução cubana, Fidel Castro. "Niemeyer e eu somos os últimos comunistas deste planeta", teria dito Fidel.
Impedido de trabalhar no Brasil, pela seus ideais políticos, Niemeyer decide exilar-se voluntariamente em Paris, França. Abre um escritório na famosa avenida Champs-Élysées.

Niemeyer foi indicado para fazer parte da equipe de arquitetos mundiais que viria a desenvolver a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. O projeto do brasileiro foi elaborado em conjunto com o arquiteto francês Le Corbusier.
Em 1950, o primeiro livro sobre seu trabalho (The Work of Oscar Niemeyer, de Stamo Papadaki) foi publicado nos Estados Unidos. Em 1951, Niemeyer criou o Conjunto do Ibirapuera (um parque com pavilhões de exposições em homenagem ao aniversário de 400 anos da cidade) e o edifício Copan, em São Paulo. O prédio, que fica num dos pontos mais movimentados do centro da capital paulista, tornou-se um dos símbolos da cidade.
Durante o período em que morou em França, Niemeyer recebeu  clientes de todo o mundo. Em Itália, ele projetou a sede da Editora Mondadori e, na Argélia, a Universidade de Constantine.

Na década de 1980, Oscar Niemeyer regressa ao Brasil. Nesta época, projeta o Memorial Juscelino Kubitschek, o prédio-sede da Rede Manchete de Televisão, o sambódromo do Rio de Janeiro, o Panteão da Pátria de Brasília e o Memorial da América Latina, em São Paulo.

Em 1987, recebe nos Estados Unidos o Pritzker de Arquitetura, considerado o prémio mais importante do mundo, na categoria. Três anos depois, na companhia do seu amigo Lúcio Costa, Niemeyer desliga-se do Partido Comunista Brasileiro.

Aos 84 anos, em 1991, Oscar Niemeyer projeta o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). Os traços modernos do museu fazem a obra  assemelhar-se a um disco voador. Projetado sobre uma pedra, a construção visiona a Baía de Guanabara e o Rio de Janeiro.
Em 2002, é inaugurado em Curitiba o Museu Oscar Niemeyer, conhecido como Museu do Olho, devido ao design de seu edifício. Quatro anos depois, é inaugurado o Museu Nacional Honestino Guimarães, de autoria de Niemeyer, localizado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Em dezembro de 2011, por ocasião de seu 104º aniversário, Niemeyer apresentou os projetos que desenhou para a sede da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), a ser construída em Foz do Iguaçu (PR), junto à fábrica hidroelétrica de Itaipu. A obra inclui seis edifícios destinados à reitoria, biblioteca, anfiteatro, restaurante, laboratórios e salas de aula. A universidade tem capacidade para 10 mil estudantes (metade brasileiros e metade de outros países latino-americanos), e oferecerá cursos nas áreas de ciências humanas, tanto em espanhol como em português.

Após mais de cem anos em boa forma, Niemeyer começou a sofrer de numerosos problemas de saúde, a partir de 2008. O último internamento  ocorreu em 6 de novembro. Ainda no hospital, após apresentar um quadro de melhoras, o arquiteto chegou a sofrer uma hemorragia digestiva , controlada pelos médicos,  e as suas funções renais pioraram.
Oscar Niemeyer último sobrevivente dos grandes mestres da arquitetura do século XX, o poeta da curva, o pensador multifacetado que encantou o mundo com a sinuosidade e a beleza estética de sua prolífica obra, deixou-nos  e o  mundo inteiro ficou bem mais pobre.


"'A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem', dizia Oscar Niemeyer, o grande brasileiro que perdemos hoje. E poucos sonharam tão intensamente e fizeram tantas coisas acontecer como ele", afirmou, numa nota, a presidente  Dilma Rousseff.


Descanse em paz.



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