DANÇA DO VENTO
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia.
Baila, baila e rodopia
E tudo baila em redor.
E diz às flores,
bailando:
- Bailai comigo,
bailai!
E elas, curvadas,
arfando,
Começam, débeis,
bailando.
E suas folhas,
tombando,
Uma se esfolha, outra
cai.
E o vento as deixa,
abalando,
- E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor.
E diz às altas ramadas:
Bailai comigo, bailai!
E elas sentem-se
agarradas
Bailam no ar
desgrenhadas,
Bailam com ele
assustadas,
Já cansadas,
suspirando;
E o vento as deixa,
abalando,
E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às folhas caídas:
Bailai comigo, bailai!
No quieto chão
remexidas,
As folhas, por ele
erguidas,
Pobres velhas
ressequidas
E pendidas como um ai,
Bailam, doidas e
chorando,
E o vento as deixa
abalando
- E lá vai!
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às ondas que
rolam:
- Bailai comigo,
bailai!
e as ondas no ar se
empolam,
Em seus braços nus o enrolam,
E batalham,
E seus cabelos se
espalham
Nas mãos do vento,
flutuando
E o vento as deixa,
abalando,
E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
AFONSO LOPES VIEIRA
Afonso Lopes Vieira |
Afonso Lopes Vieira(1878-1946) nasceu em 26 de janeiro de 1878, em Leiria e faleceu em 25 de janeiro
de 1946, em Lisboa. A sua infância foi vivida em Leiria, e já em idade
escolar foi viver para Lisboa. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra,
foi relator da Câmara dos Deputados.
Com a publicação do livro Para Quê?
(1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade
literária: Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do
Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma
(1917), País Lilás, Desterro Azul (1922), Versos de Afonso Lopes Vieira
(1927), e Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
Dedicou-se também à
literatura infantil, de que são exemplos mais marcantes “Amigos nossos
amigos”, “Bartolomeu Marinheiro” e “Canto Infantil”. O poeta e escritor é um
exemplo de promoção dos valores artísticos e culturais nacionais. Afonso
Lopes Vieira demarcou-se da ditadura ao escrever o texto Éclogas de Agora
(1935), uma edição de autor que distribuiu aos amigos próximos.
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