segunda-feira, fevereiro 20, 2017

PELA NOITE, COM AFONSO LOPES VIEIRA: "DANÇA DO VENTO"





DANÇA DO VENTO


O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia.
Baila, baila e rodopia
E tudo baila em redor.
E diz às flores, bailando:
- Bailai comigo, bailai!
E elas, curvadas, arfando,
Começam, débeis, bailando.
E suas folhas, tombando,
Uma se esfolha, outra cai.
E o vento as deixa, abalando,
- E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor.
E diz às altas ramadas:
Bailai comigo, bailai!
E elas sentem-se agarradas
Bailam no ar desgrenhadas,
Bailam com ele assustadas,
Já cansadas, suspirando;
E o vento as deixa, abalando,
E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às folhas caídas:
Bailai comigo, bailai!
No quieto chão remexidas,
As folhas, por ele erguidas,
Pobres velhas ressequidas
E pendidas como um ai,
Bailam, doidas e chorando,
E o vento as deixa abalando
- E lá vai!
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às ondas que rolam:
- Bailai comigo, bailai!
e as ondas no ar se empolam,
Em seus braços nus o enrolam,
E batalham,
E seus cabelos se espalham
Nas mãos do vento, flutuando
E o vento as deixa, abalando,
E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,

E tudo baila em redor!


AFONSO LOPES VIEIRA




Afonso Lopes Vieira
Afonso Lopes Vieira(1878-1946) nasceu em 26 de janeiro de 1878, em Leiria e faleceu em 25 de janeiro de 1946, em Lisboa. A sua infância foi vivida em Leiria, e já em idade escolar foi viver para Lisboa. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi relator da Câmara dos Deputados. 
Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade literária: Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922), Versos de Afonso Lopes Vieira (1927), e Onde a terra se acaba e o mar começa (1940). 
Dedicou-se também à literatura infantil, de que são exemplos mais marcantes “Amigos nossos amigos”, “Bartolomeu Marinheiro” e “Canto Infantil”. O poeta e escritor é um exemplo de promoção dos valores artísticos e culturais nacionais. Afonso Lopes Vieira demarcou-se da ditadura ao escrever o texto Éclogas de Agora (1935), uma edição de autor que distribuiu aos amigos próximos.



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