QUANDO
ME DIZES, POEMA
Quando
me dizes mar, poema,
dizes-me
vaga em mar alteroso.
Não
me digas assim, poema!
Pois
tu não sabes que o meu nadar
é
feito de frágeis braçadas,
respiração
descompassada,
braços
e pernas desatentos,
corpo
inábil,
na
iminência de afundar.
Se
me quiseres dizer, poema,
diz-me
rio,
apressado
ou
calmo,
vadio,
ou
constante,
esticando
com suas águas,
as
ervas que lhe são margens,
ou
dormindo sobre os seixos
que
lhe são leito e
no
espelho beijando o céu.
Diz-me
também ribeiro,
apressado,
à
beira do precipício,
suspensa
a respiração,
arrepios
na espinha,
e
o abraço a dar-se,
o
remoinho a formar-se,
uma
força a sugar
toda
a espuma em alvoroço
e
aí sim,
na
loucura do rio,
eu
serei vaga alterosa,
envolvente,
apaixonada,
sem
pé
nem
chão.
ADELAIDE MONTEIRO
1 comentário:
Sinto-me lisonjeada por ler o meu poema neste cantinho, associado a uma imagem linda que se lhe agarra à pele.
Obrigada,
Adelaide Monteiro
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