"O
Fim do Amor Trágico e Romântico?
Vivemos, de facto, numa época em que a noção de
amor trágico e romântico,
que herdámos do século dezanove, se tornou inactual,
embora continue ainda a ser vivida por muitos - e até com o carácter de
construção moral e estética - essa relação extremamente apaixonada, exigente e
exclusiva.
A reclamação da liberdade erótica não me parece que de algum modo
tenda a degradar a vida,
conquanto possa dessublimizá-la e do mesmo passo
desmistificá-la,
precisamente no propósito de a tornar mais lúcida e mais
generosa.
Afigura-se-me que na contestação de todas as prepotências firmadas em
preconceitos,
em princípios estabelecidos apriorísticamente,
há sempre um nexo
muito íntimo entre a reinvindicação da liberdade erótica,
da liberdade no
trabalho e da liberdade política.
E, naturalmente, quando se dá uma explosão
desta espécie,
é como uma pedra que rola e que vai agregando uma série de
materiais
e descobrindo a sua própria composição
até às zonas mais profundas da
sua estrutura."
Urbano Tavares Rodrigues ( in "Ensaios de Escreviver")
Morreu esta sexta-feira, aos 89 anos, Urbano Tavares
Rodrigues - militante comunista, escritor, poeta e professor de Literatura. O escritor
encontrava-se internado há três dias no Hospital dos Capuchos, em Lisboa. O seu
derradeiro livro, Escutando o rumor da vida seguido de solidão em brasa,
foi editado há perto de um ano.
Nascido
em dezembro de 1923, Urbano Tavares Rodrigues iria fazer 90 anos em dezembro. Filho do
também escritor Urbano Rodrigues, a sua escrita revela fortemente a influência
do campo alentejano e das suas gentes, recebida durante a infância passada em
Moura, onde nasceu no seio de uma família de grandes proprietários agrícolas.
De
educação católica tradicional, virou as costas à religião durante a
adolescência, por questões de coerência moral. Considerando-se um
"comunista heterodoxo", Urbano Tavares Rodrigues assumiu igualmente,
por diversas vezes, críticas ferozes ao estalinismo.
Um dos
autores portugueses mais prolíficos da segundam metade do séc. XX, Urbano
Tavares Rodrigues recebeu vários galardões literários, nomeadamente o Prémio
Ricardo Malheiros, com a obra Uma Pedrada no Charco. Recebeu ainda o Prémio da
Associação Internacional de Críticos Literários, o Prémio da Imprensa Cultural,
o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e o Grande
Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
O corpo de Urbano Tavares Rodrigues será velado a
partir das 19:00 na Sociedade Portuguesa de Autores, em Lisboa,
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