A PALAVRA
A palavra é uma estátua submersa,um
leopardo
que estremece em escuros bosques,uma
anémona
sobre uma cabeleira.Por vezes é uma
estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua,mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada.Rápida é a boca
que apenas aflora os raios de uma outra
luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos,os cabelos
ardentes
e vejo uma água límpida numa concha
marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical o sangue das
vogais.
ANTÓNIO RAMOS ROSA
(de Acordes,1989)
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