CREPUSCULAR
A
incerteza cai com a tarde
no
limite da praia. Um pássaro
apanhou-a,
como se fosse
um
peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a
no bico. O
seu
desenho é nítido, sem
as
sombras da dúvida ou
as
manchas indecisas da
angústia.
Termina com a
interrogação,
os traços do fim,
o
recorte branco de ondas
na
maré baixa. Subo a estrofe
até
apanhar esse pássaro
com
o verso, prendo-o à frase,
para
que as suas asas deixem
de
bater e o bico se abra. Então,
a
incerteza cai-me na página, e
arrasta-se
pelo poema, até
me
escorrer pelos dedos para
dentro
da própria alma.
NUNO
JÚDICE
Sem comentários:
Enviar um comentário