VAI-TE,
POESIA!
Deixa-me
ver a vida
exacta
e intolerável
neste
planeta feito de carne humana a chorar
onde
um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com
bandeiras de lume nos olhos,
para
fabricar sonhos
carregados
de dinamite de lágrimas.
Vai-te,
Poesia!
Não
quero cantar.
Quero
gritar!
JOSÉ
GOMES FERREIRA
José Gomes Ferreira foi um escritor e poeta português,
filho do empresário e benemérito Alexandre Ferreira e pai do arquiteto Raul
Hestnes Ferreira e do poeta Alexandre Vargas Ferreira. Nasceu a 9 de junho de
1900, na cidade do Porto e morreu no dia 8 de fevereiro de 1985.
Formou-se em Direito em 1924, tendo sido cônsul na
Noruega entre 1925 e 1929. Após o seu regresso a Portugal, enveredou pela
carreira jornalística. Foi colaborador de vários jornais e revistas, tais como
a Presença, a Seara Nova e Gazeta Musical e de Todas as Artes. Esteve ligado ao
grupo do Novo Cancioneiro, sendo geral o reconhecimento das afinidades entre a
sua obra e o neo-realismo.
José Gomes Ferreira foi um representante do artista
social e politicamente empenhado, nas suas reações e revoltas face aos
problemas e injustiças do mundo. Mas a sua poética acusa influências tão
variadas quanto a do empenhamento neo-realista, o visionarismo surrealista ou o
saudosismo, numa dialética constante entre a irrealidade e a realidade, entre
as suas tendências individualistas e a necessidade de partilhar o sofrimento
dos outros. Da sua obra poética destacam-se, para além do volume de estreia,
Lírios do Monte (1918), Poesia, Poesia II e Poesia III (1948, 1950 e 1961,
respectivamente), recebendo este último o Grande Prémio de Poesia da Sociedade
Portuguesa de Escritores.
A sua obra poética foi reunida em 1977-1978, em Poeta
Militante. O seu pendor jornalístico reflecte-se nos volumes de crónicas O
Mundo dos Outros (1950) e O Irreal Quotidiano (1971). No campo da ficção
escreveu O Mundo Desabitado (1960), Aventuras de João Sem Medo (1963), Imitação
dos Dias (1966), Tempo Escandinavo (1969) e O Enigma da Árvore Enamorada
(1980).
O seu livro de reflexões e memórias A Memória das
Palavras (1965) recebeu o Prémio da Casa da Imprensa. É ainda autor de ensaios
sobre literatura, tendo organizado, com Carlos de Oliveira, a antologia Contos
Tradicionais Portugueses (1958). Em Junho de 2000, foi lançada no porto a coletânea
Recomeço Límpido, que inclui versos e prosas de dezenas de autores em homenagem
a José Gomes Ferreira
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